Volto a falar de Arnaldo Jabor, o ex-cineasta (ah mais ele fez aquele filme recentemente, a suprema felicidade, um dos seus maiores fracassos) que atualmente escreve para jornais e tem uma participação do Jornal da Globo para falar em nome de uma elite retrógrada que em um passado remoto dava as cartas no país.
Jabor detesta carnaval, na sua concepção é coisa de pobre, principalmente os blocos em que desfilam multidões compostas na sua maioria de cidadãos comuns e que não usam perfumes franceses. Os “cheirosos” detestam cheiro de povo.
Todo ano, para euforia dos preconceituosos para quem ele escreve, Jabor detona a festa do povo, ridicularizando os hábitos populares. Soava como recalque daquelas pessoas rabugentas que só tem a intenção de ser estraga prazeres, bem a cara do ex-cineasta.
Dando uma olhada no Blog do Noblat para achar uma pauta para escrever (já me enchi de escrever sobre fogo amigo) me deparei com o texto do Jabor. Pasmem, ele mudou de idéia sobre o direito das pessoas serem felizes… pelo menos naquele texto.
Do alto da sacada do seu apartamento na zona sul do Rio de Janeiro, ele observou as multidões que atravessavam a orla atrás de blocos carnavalescos. A distância era suficiente para não incomodar suas narinas com o cheiro do povão, e então ele pôde entender o motivo para tanta alegria daquelas pessoas. Sim, dotado de um sentimento não rancoroso que o acompanha em cada um dos seus textos e comentários na TV (que sempre traziam deboches e risos nervosos que demonstravam o lamentável estado de espírito), Jabor conseguiu entender o povão.
Passou então a lembrar que na ditadura militar não era possível esse tipo de concentração popular e constatou que no tempo em que os blocos ficaram enfraquecidos e o carnaval do Rio se restringia às escolas de samba, que não tinham como abrigar todos os foliões. Eu comecei a imaginar que era um ghost-writer tinha escrito o texto e assinado por ele para sacanear o Jabor, não estava entendendo tantos argumentos justos vindos de quem só pratica a desonestidade intelectual como estilo de comentar. Algo iria vir por aí, pensei eu.
Dito e feito. Algum motivo haveria de ter para aquele surto de coerência, e ao exaltar a reativação da cultura de blocos que aconteceu durante os anos Lula pelo aumento de poder aquisitivo da população mais pobre, ele atribuiu ao plano real que “estabilizou” a economia (por quanto tempo mesmo?) em 94 o motivo para aquela felicidade
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Ah bom, agora sim pude entender, os blocos foram reativados em 94, mas ficaram em uma espécie de incubação por 15 anos para voltarem a ser opção de festejo do carnaval. Que besteira esse negócio achar que as pessoas precisam de emprego e salários decentes, com o Real “estabilizado” e sem inflação a “suprema felicidade” tomou conta do Brasil, mesmo com taxas de desemprego altíssimas e um salário mínimo chinês, que não chegava a 100 dólares, afinal existiam aquelas bolsas do governo FHC que apesar de alcançar apenas uma parcela ínfima da população, deu auto-estima para os mais pobres. Tudo explicado.
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Moral da história: espere até a última linha antes de imaginar que está lendo algo que preste vindo de Arnaldo Jabor.
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