Um contraponto ao Alon Feuerwerker
Como era de se esperar, a velha mídia não dá ponto sem nó e qualquer acontecimento, seja no nosso país ou no exterior, pode servir de mote para criticar a política interna. É sabido que o programa nuclear brasileiro se iniciou em meados dos anos 50, e as usinas Angra 1 e Angra 2 começaram a ser construídas nos anos 70.
Nos anos 80, a usina Angra 1 foi ativada com a promessa de ser a primeira de muitas, mas os governos civis envoltos em crises econômicas interromperam o programa até 2001, quando, às pressas e em meio ao apagão que o país enfrentou devido à falta de planejamento estratégico do governo FHC, foi ativada Angra 2.
Já no governo Lula, mesmo sem risco de apagão, foi dada continuidade ao projeto de Angra 3, que deve entrar em funcionamento em 2014. A energia nuclear é uma energia considerada limpa por não emitir gases que produzem o efeito estufa, gerando resíduos em pequenas quantidades em relação à quantidade de energia produzida. Foi uma aposta de Lula retomar o investimento em energia nuclear e hoje existem projetos para construção de usinas em várias partes do país.
Pela relação feita com artefatos nucleares que trazem de volta a lembrança do ataque americano a Hiroshima e Nagasaki, a produção de energia em reatores nucleares gera receios na população que teme pela sua segurança. Lembrando que dois acidentes ajudaram a contribuir com esse temor: o de Chernobyl, onde houve um grande vazamento e o de Goiânia, quando a manipulação de resíduos radioativos levaram à contaminação de muitas pessoas. A contaminação por radiação nuclear pode ter conseqüências graves à saúde do ser humano e pode afetar até descendentes nascidos de pessoas contaminadas.
Acontece que as usinas brasileiras foram construídas com tecnologia que privilegia a segurança usando reatores PWR (reator a água leve pressurizada), com tecnologia diferente da de Chernobyl. Esses reatores são iguais ao da usina de Fukushima no Japão, atingida recentemente pelo Tsunami gerado por um terremoto de grande intensidade.
Em Fukushima, os reatores não explodiram, no entanto o sistema de refrigeração foi afetado causando aquecimento nos reatores, o que obrigou o seu controlador a tomar medidas para evitar que o superaquecimento pudesse causar uma fusão dos núcleos e trazer conseqüências desastrosas. Por esse motivo houve pequeno vazamento e contaminação de poucas pessoas, o que para um desastre dessas proporções podem dizer que estão no lucro. Ainda existe risco de uma tragédia de grandes proporções porque o reator não poder ser desligado e enquanto houver combustível nos reatores, eles continuam a produzir energia.
Alon Feuerwerker, especialista em comentar assuntos internacionais para a Folha de São Paulo e UOL já se apressou em escrever, no seu blog, artigo relacionando o acidente ao risco da construção dessas usinas no Brasil, alegando que a nossa defesa civil sequer consegue agir em desastres naturais de menor intensidade, como as enchentes e desabamentos (o que já achei uma pequena injustiça contra os bravos homens que desempenham essas funções) quanto mais para um acidente nuclear.
Acontece que o Alon parece ou quer desconhecer que a usina japonesa só apresentou esses problemas por causa de um tsunami gerado por um terremoto ocorrido no subsolo do oceano pacífico. Terremotos de diferentes intensidades atingem países banhados pelo pacífico e existe uma explicação geológica para isso bastante difundida nos dias de hoje.
Os países banhados pelo oceano pacífico estão sujeitos a sofrerem abalos sísmicos por causa da localização dos limites de placas tectônicas em constante movimento. Além desses limites estarem próximos das costas desses países, ainda há o problema de os movimentos das placas serem convectivos, ou seja, elas tendem a se mover uma em direção à outra, provocando por vezes superposições que produzem uma enorme quantidade de energia que geram os sismos.
O Brasil não sofre com terremotos porque é banhado pelo oceano atlântico e está situado em cima da grande placa da América do sul, não ocorrendo localização de limites de placas no seu território. Os limites mais próximos estão na costa do pacífico sul (e, ocorrendo um terremoto nessa região, perderia intensidade atravessando os países da América do sul que são banhados pelo pacífico, sem possibilidade de gerar tsunami que nos atingisse) e a oeste com uma distância muito grande da nossa costa, quase na áfrica, e com o conveniente detalhe que as placas da América do sul e da áfrica apresentam movimentação no sentido de afastamento entre elas, o que inviabiliza qualquer possibilidade de se sobreporem e gerarem terremotos e tsunamis.
Abaixo, uma imagem do posicionamento das placas tectônicas do planeta e as setas indicam a sua movimentação natural.
Com base nessas informações, seria ingenuidade supor que nossas usinas correriam risco semelhante ao que acontece no Japão ou que por esse motivo deveríamos interromper a construção de novas usinas e desativar as existentes. A pressa por conseguir subsídios para a crítica leva à colocação de argumentos não embasados que só servem para confundir e desinformar.
PS: Desculpem-me o texto com tamanho atípico, mas para contrapor ao terrorismo midiático nesse caso foi preciso recorrer a explicações técnicas que não podem ser resumidas.
PS2: informação passada pelo amigo de twitter @obervadorbr os reatores de fukushima são BWR que são menos seguros que os nossos PWR.
PS2: informação passada pelo amigo de twitter @obervadorbr os reatores de fukushima são BWR que são menos seguros que os nossos PWR.
Um comentário:
GOSTEI MUITO DO SEU BLOG... VC JÁ É BEM MADURO NISSO... DA PRA VER NA QUANTIDADES DE VISITAS.. OLHA ESTOU COMENÇANDO AGORA ME SEGUE!!!!
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