Leio na Folha Online que o número de matrículas em cursos profissionalizantes cresceu 74,9% de 2002 a 2010, chegando a 1,14 milhão, segundo o Ministério da Educação.
E que essa elevação, ao mesmo tempo em que é possível graças à ampliação do número de escolas técnicas, decorre da demanda das empresas por profissionais de média/alta qualificação.
A formação de profissionais neste nível sempre foi um grande problema no Brasil. No início dos anos 40, quando a indústria brasileira passou a não poder mais contar com a simples imigração de operários especializados vindos da Europa, isso foi enfrentado em duas frentes.
A primeira, com o Senai, mantido com recolhimentos compulsórios das empresas, a quem devemos gerações de trabalhadores qualificados, entre eles o torneiro-mecânico Luis Inacio Lula da Silva. Infelizmente, os preços dos cursos do Senai os torna, em sua maioria, inacessível às famílias com menos renda, exceto nas cotas de gratuidade.
A segunda foi a criação, com Getúlio Vargas, de escolas técnicas federais, a começar pela antiga Escola Técnica Nacional – hoje, Cefet – que se destinava aos filhos de operários – em regime de semi-internato e até internato, funcionando como escola de turno integral. A qualidade da ETN e depois Escola Técnica Celso Suckow da Fonseca era tão alta – enquanto as demais escolas públicas decaíam – que seus alunos passaram, na maioria, a ser de classe média, pois para ingressar ali tinha-se de enfrentar um concurso dificílimo, inclusive com preparatórios particulares.
O modelo de cursos profissionalizantes de pequena duração e baixa complexidade, embora isso seja parte também de um programa de qualificação profissional, não é suficiente para atender as demandas cada vez mais complexas da indústria. Sobretudo de uma que irá, nos próximos dez anos, tornar-se uma imensa devoradora de profissionais de alto nível: a do petróleo e gás.
Era meu projeto, na Secretaria do Trabalho, e continua sendo, no que eu puder influir como deputado junto ao Governo Federal, a criação de uma grande Escola Técnica de Petróleo e Gás no Rio de Janeiro.
Boa parte de nossas operações petroleiras se concentra ali. A base de operações de extração offshore é Macaé. Temos a Refinaria Duque de Caxias e logo teremos o Comperj, ainda maior, em Itaboraí. Fica no Rio o Cenpes, centro de excelência em pesquisas em petróleo. A UFRJ tem expertise em construção naval e a Universidade do Norte Fluminense foi a primeira a ter um setor específico para petróleo e gás.
Temos toda a massa crítica para fazer aqui este grande centro de formação de pessoal técnico de alto nível. Até porque esta necessidade está sendo suprida de forma caríssima para o país. O número de trabalhadores estrangeiros autorizados a exercerem suas atividades no país pulou de 43 mil, em 2009, para 53,5 mil em 2010. Um terço deles em plataformas de petróleo e quase isso em embarcações que prestam serviços a elas ou em outras atividades embarcadas, como a de turismo.
São profissionais com bons salários e que têm um custo ainda maior, pois não cobram barato para saírem de seus países. Nem todos os lugares, claro, podem ser ocupados por brasileiros, pois há muitos casos em que os equipamentos são locados juntamente com os trabalhadores e técnicos habituados a operá-los. Mas muitos, a maioria, poderiam ser.
A Petrobras tem feito um grande esforço de qualificação de mão de obra em seu setor, através do Prominp, que vai qualificar mais de 200 mil pessoas até 2014. Mas este programa é realizado em instituições de ensino normais e existem especificidades que mais que justificam a criação de cursos específicos, desenhados para as necessidades que só ela conhece e, mais ainda, só ela pode dar acesso e contato durante a formação destes técnicos.
Acho que vale a pena lutar para que o Fundo Social do Pré-Sal, que tem educação e tecnologia dentro de suas destinações dos recursos do novo modelo de partilha aprovado no Congresso, invista numa escola assim, com alto padrão de qualidade e ajuste exato às necessidades da atividade petroleira que floresce.
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