Bordoada do LEN:
Desde as eleições do ano passado esse blogueiro não escreve nenhum post com o sangue na garganta tal qual sente agora. Sei que sob comoção, a racionalidade vai para o espaço. Que assim seja, de vez em quando precisamos escrever com o coração. Às favas a racionalidade diante do sangue de crianças. Trago de volta a Bordoada do LEN.
Ei, você, não pense que vai tirar o corpo fora, é com você mesmo que estou falando, você mesmo que votou e fez campanha contra no referendo do desarmamento em 2005. Pois saiba você que votou não, que a sua leniência e ignorância possibilitou a chacina de Realengo. Eu espero que remoa seus remorsos porque o seu voto alienado ajudou o lobby da indústria de armas a continuar armando boçais que colocam a vida de terceiros em risco e psicopatas como esse que tirou a vida dessas crianças. Você que fez campanha contra, saiba que suas mãos estão sujas de sangue. Não, não adianta lavar que não vai sair.
E não me venha com o argumento infantil de que as “pessoas de bem” não podem ficar desprotegidas. Pessoas de bem não possuem armas, as que ainda as possuíam entregaram na campanha de desarmamento. Tirando policiais, militares e seguranças autorizados, quem possui ou porta armas é um assassino em potencial. São essas “pessoas de bem” que atiram em outras por causa de briga de trânsito, de torcida ou de vizinho e por outros motivos fúteis. Gente de bem trabalha honestamente e não desrespeita as leis, deixa que as autoridades policiais façam o seu trabalho em vez de colocar a própria família em risco tentando reagir contra bandidos acostumados a matar.
Democracia é fundamental, mas não deve ser confundida com terceirização de responsabilidades definidas pela Constituição Federal. O Estado é responsável pela segurança de seus cidadãos por permitir que eles possuam armas, facilitando que se transformem em criminosos? Não se pode fazer referendo quando o que está em jogo é o dever do Estado em proteger seus cidadãos. A democracia serve para a população escolher seus governantes, o voto é um direito inalienável, mas se torna redundante se o governo que é eleito precisa perguntar à população a cada decisão importante, se já estava implícita a sua escolha quando o elegeu.
O Congresso serve para discutir propostas dos governos, e esses também são escolhidos por votação direta, no mais, a sociedade civil pode se organizar para pressionar executivo e legislativo quando achar que estes não atendem a seus interesses. No caso do desarmamento, um referendo com uma campanha milionária da indústria das armas contra ativistas bem-intencionados só serviu para colocar uma venda nos olhos de quem votou e decidiu o futuro de todos.
Esse blogueiro toma a liberdade de sugerir um conjunto de medidas para que situações como essa, que estarreceu o país, não voltem a acontecer. Se são corretas ou não, democráticas ou autoritárias, sensatas ou descabidas , deixo para os amigos do blog decidir:
- Editar emenda constitucional que proíba a venda de qualquer tipo de arma de fogo para cidadãos comuns, que se dane o resultado do referendo, o governo tem que colocar a cara a tapa em certas ocasiões, mesmo que perca popularidade;
- Vetar o licenciamento de novas indústrias para produção de armas de fogo para uso pessoal;
- Permitir que as atuais indústrias de armas apenas as comercializem para as forças armadas e polícia estadual e federal. Essas indústrias podem compensar a perda de capacidade instalada e sua capacidade técnica em metalurgia para produzir outros equipamentos não bélicos que hoje precisam ser importados, podendo receber incentivo do governo para investir em novas tecnologias;
- As indústrias de armas devem ter esquema de segurança semelhante à da Casa da Moeda, podendo até ser vigiadas, dia e noite, pelas forças armadas para evitar desvios. O transporte para os paióis oficiais pode ser feito com rigorosa escolta;
- Fixação de pena alta para quem for pego com armas para desmotivar o desrespeito à lei. Depois das primeiras penas como exemplo, os “cidadãos de bem” caem na real e passam a entender que portar ou possuir armas em casa é coisa de bandido;
- Fixação de penas altas no tribunal militar e civil para militares e policiais que usarem suas armas fora do horário de serviço, estes passariam a ser autorizados a utilizar a arma apenas em serviço e portá-la no caminho de ida e volta para casa;
- Colocar mais policiamento nas ruas porque a responsabilidade do Estado com segurança da população aumenta. Treinar e capacitar policiais e militares para realizar suas ações de forma planejada e correta. Investir em Inteligência para interceptar o contrabando de armas e o tráfico de drogas.
Creio que com essas medidas não será resolvido de vez o problema de violência nesse país, mas poderemos reduzir muito a possibilidade de acontecer novos massacres como esse. Nós não estamos no velho oeste, cidadão de bem não usa armas de fogo. Desarmamento já!
2 comentários:
Qual o problema em se expressar pela força da emoção? Se for assim devo estar atolada de problemas por que se me volto para a razão muitas vezes me paraliso e já não me expresso mais.
Quanto as sugestões saiba que tens aqui o apoio total desta humilde e emocional blogueira.
Abs. Rosa
Caro cumpadi LEN,
Excelente artigo! Lembro-me que, no orkut, fiz campanha intensa em prol do desarmamento naquele referendo. Fomos vencidos pela falta de reflexão de alguns e argumentos frouxos de outros. Infelizmente, foiu um referendo e perdemos.
Grande abraço!
Postar um comentário