E Mudin, um garoto afegane, barbaramente assassinado por soldados estadunidenses
"Na manhã de 15 de janeiro do ano passado, os militares do 3 º Pelotão da Quinta Brigada, baseada em Seattle, Estado de Washington, deixaram Kandahar em direção ao interior, e chegaram a Mohammad Kalay, um vilarejo agrícola isolado, escondido atrás de alguns campos de papoula. Como a área era muito pobre, e o terreno não passava de um amontoado de lama e palha, os soldados desceram dos caminhões e seguiram a pé, espalhando-se pelas vielas da localidade.
Mas em vez de combatentes armados ou evidências de posições inimigas, os soldados foram recebidos de maneira familiar por agricultores afegãos barbados e com os dentes destruidos e crianças maltrapilhas ávidas por balas e dinheiro, numa localidade onde não havia eletricidade e água corrente".
Em tradução livre, é assim que começa a reportagem da revista norte-americana Rolling Stone desta semana, cujo título é “Esquadrão da Morte” e o subtítulo “Como soldados dos EUA no Afeganistão mataram civis inocentes e mutilaram seus corpos – e como seus oficiais não conseguiram detê-los. E mais: as fotos exclusivas dos crimes de guerra censuradas pelo Pentágono”.
Segue a reportagem:
"Enquanto os militares conversavam com um ancião da aldeia, dois soldados do Terceiro Pelotão se afastaram até o fim da aldeia. Lá, em campo próximo da plantação de papoula, eles começaram a procurar alguém para matar. Eles achavam que ninguém iria testemunhar.
Foi então que o cabo Jeremy Morlock e o soldado Andrew Holmes viram um jovem agricultor, trabalhando sozinho. E o escolheram para a execução. Era um garoto imberbe, cerca de 15 anos de idade, pouco mais jovem do que Morlock, de 21, e Holmes, de 19. Ele não tinha nada nas mãos que se parecesse a uma arma, nem mesmo uma pá. "Ele não era uma ameaça", Morlock confessou mais tarde.
Eles o chamaram. E Mudin, o nome do garoto, caminhou inocentemente em direção a eles. A certa altura, eles pediram que ele parasse. O jovem obedeceu. Neste momento, os dois se esconderam atrás de um muro e Morlock atirou uma Granada em direção a Mudin. Depois da explosão os dois caminharam até o corpo do garoto e fizeram vários disparos com metralhadora e fuzil M-4".
O caso do garoto Mudin (foto), que teve o dedo mindinho decepado por um deles que o guardou como um troféu, por ter matado o primeiro afegão, é apenas uma das atrocidades cometidas por soldados norte- americanos no Afeganistão e relatadas pela Rolling Stone.
Além de fotos dos corpos amarrados e mutilados, a reportagem junta dois videos que revelam a inacreditável desumanidade de militares que – deveríamos acreditar - não foram treinados para a prática de atos tão cruéis e covardes.
As vítimas eram escolhidas ao acaso, como em um dos videos que mostram o assassinato de dois agricultores desarmados. Eles simplesmente estavam no lugar errado, na hora errada, diante de assassinos uniformizados. Nos diálogos entre os soldados, que antecedem os disparos, entre risadas, ouvem-se comentários do tipo “vocês vão morrer seus f...”.
Em seguida, podemos ver as armas se movimentando fria e calculadamente em direção aos alvos. De repente, os tiros, muitos, centenas talvez, para acertar dois civis junto a uma árvore. O primeiro é atingido ali mesmo, o segundo foge para ser abatido logo adiante. Gritos de comemoração são ouvidos cada vez que um dos homens cai morto.
As fotos e vídeos foram editados pelos próprios soldados e distribuidos em pen drive entre os integrantes do esquadrão da morte. São imagens chocantes e é preciso ter muito sangue frio para não se revoltar ou emocionar com o que ali é visto. Os soldados assassinos estão presos e aguardam julgamento.
E aqui cabe uma palavra de elogio ao papel desempenhado pela mídia, neste e em outros casos, como o das torturas nas prisões de Abu Ghraib, no Iraque. São episódios mantidos a sete chaves pelo Pentágono – provavelmente deve haver outros encobertos -, que só chegaram ao conhecimento público graças ao trabalho sério de setores da mídia estadunidense.
Quem fica numa tremenda saia justa depois que atrocidades como essas são reveladas é o Pentágono, que é obrigado a admiti-las e pedir desculpas. Mas, pensando bem, o que se pode esperar de homens que são treinados para matar e quando não o fazem se sentem inúteis à procura de alguém, mesmo que seja um civil inocente.
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