sábado, 2 de abril de 2011

Bolsonaro: a construção de um mártir fascista

Se os Titãs resolvessem atualizar a letra de “Nome aos Bois”  (veja aqui) teriam uma enorme dor de cabeça. São tantos os “merecedores” de citação que  não caberiam numa única canção. Talvez fosse o caso de regravá-la anualmente, “homenageando” os novos personagens que vão surgindo. Além de José Serra, Boris Casoy, Marcelo Madureira, Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi, etc, outro que certamente teria lugar de honra, talvez até num refrão, seria o deputado Jair Bolsonaro.

O brasileiro é o povo mais miscigenado do mundo. Nossa música e nossa literatura celebram isso há séculos. Poderia até colocar aqui um lista enorme dos negros que ajudaram a traçar o perfil cultural do Brasil – lista que seria encabeçada por Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos – mas não é este o objetivo do meu texto.

Mais da metade da população brasileira é composta por negros. Aí inclusos, mulatos, pardos, mestiços etc – que, a rigor, são negros. Proporção igual no universo de eleitores. São dados do senso PNAD/IBGE.

O PSDB é o único partido (dos grandes) que não tem um único negro em seus quadros. Sequer teve algum candidato negro nas últimas eleições. Como pode, assim, um partido querer representar e governar a todos os brasileiros? (Veja o excelente vídeo de Fernando Nunes aqui) Ignorar o preconceito, a desigualdade de oportunidades e a exclusão dos negros no Brasil é ignorar o Brasil.

Até o final do primeiro mandato de Lula, os negros representavam, também, a acachapante maioria dos pobres, dos excluídos das universidades e dos desempregados ou sub-empregados. Como todos sabem, os programas sociais do governo petista resgataram e colocaram no mercado de trabalho (e consequentemente no de consumo) 15 milhões de brasileiros. 26 milhões deixaram a linha da miséria. Além disso temos os números do PróUni, das cotas e os da casa própria. Tudo isso chacoalhou e reorganizou nossa divisão social. É impossível não ver uma ampla parcela de negros neste movimento.

Alguém precisa avisar ao Bolsonaro e aos que manifestam apoio a ideologias fascistas, como as dele, que eles são minoria, cara pálida! Que os tempos em que as elites impunham exclusão, acabaram. Que, com a eleição de Dilma como continuidade do governo Lula, erradicaremos a miséria e o analfabetismo até o final desta década. Que os brasileiros emergentes deste início de século – eles sim – estão se lixando para os grupinhos racistas e fascistóides. Quero ver se este deputado tem coragem de subir em qualquer morro carioca e repetir o que andou falando – principalmente para Preta Gil nos estúdios do CQC (veja vídeo aqui)! Avisem também Mayara Petruso (“Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado” – veja aqui), Luiz Carlos Prates (“Isso que dá, vender carro pra emergente: congestionamentos, acidentes e morte” – veja o vídeo aqui) e Boris Casoy (sobre a mensagem natalina dos garis – veja vídeo aqui)

Com a ajuda do CQC – que não conhece o limite entre sensacionalismo irreverente e apologia – Bolsonaro aglutina em torno de si todos os racistas, homofóbicos, sexistas, TFP etc que infestam a direita brasileira. A quem nos lembra? Sim, ele mesmo: o velho Serra – que faz qualquer coisa pra chegar lá… Inclusive dar voz e servindo às minorias fascistóides, como fez na última campanha eleitoral.

Comediantes como Marcelo Madureira e apresentadores pseudoirreverentes como o chato de galocha do Marcelo Tass, perderam um importante nicho de temas humorísticos nos últimos anos: os pobres e as minorias não são mais piada no Brasil do século 21. Aliás, Madureira – que definhou junto com o Casseta & Planeta e vive de bico – revelou-se um ardoroso militante do PiG na última eleição quando, bêbado como um gambá, pôs-se a insultar o presidente Lula num programa da TV paga. Será que estava com inveja dos milhões que conseguiram emprego enquanto ele perdia o seu? Patético…

Quando a Falha dá tanto destaque a um sujeito reincidente múltiplo como é o caso de Bolsonaro (veja série de reportagens), não está apenas expondo ou denunciando. Muito mais, parece estar divulgando o currículo de um sério postulante a representar o segmento favorável à volta da ditadura militar, ao retorno da censura, à perseguição das minorias, ao fim das liberdades e ao fim de uma democracia que só lhes valeu até 1998. Se você navegar pelo pacotão de reportagens da Falha e passar os olhos sob o espaço dos leitores, verá centenas de comentários de apoio ao deputado. A quem interessa a polêmica sobre Bolsonaro e seus temas? Por que transformar este sujeito em ícone do racismo e da homofobia?

Golpismo puro do PiG. Não deixar a chama que Serra acendeu na campanha do ano passado se apagar por completo. Alimentar o preconceito, criar milhares de Mayaras Petruso Brasil afora para que se tornem bolas de neve. Bolsonaro é a bola da vez do PiG. Se for condenado por “falta de decoro parlamentar”, vira mártir da extrema direita e acumula capital eleitoral para o futuro. Devemos lembrar que, na base do “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, Serra cresceu a 44 milhões de votos no ano passado.

O CQC fez sua parte ao abrir espaço a Bolsonaro. A Falha amplificou a discussão e o resto do PiG repercutiu. Os amigos de Mayara Petruso reuniram-se ao redor das reportagens on line e fizeram a festa. Obviamente que isso não se aplica à blogosfera de esquerda – que é frequentada por outro leitor – bem diferente daquele que leva o PiG a sério.

Mesmo tendo uma audiência pífia e em nome de sua falsa irreverência, Marcelo Tass e os seus despejaram o lodo do deputado em milhares de residências. Divulgaram as idéias de Bolsonaro e ainda ganharam alguns pontinhos no Ibope. Aliás, Tass e Bolsonaro são dois mendigos implorando audiência ao PiG. Custe-lhes O Que Custar…

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