domingo, 17 de abril de 2011

Brasil propõe a G20 que todos os países adotem câmbio flutuante

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu na reunião do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte) em Washington, noite passada, que todos os países adotem câmbio flutuante. A medida seria uma forma de combater o que Mantega chamou de “desalinhamentos” entre os sistemas cambiais dos países, que “dificultam o fluxo de capitais”, e seria uma “solução de curto prazo” antes de uma reforma mais ampla do sistema monetário internacional.

– Hoje os países praticam sistemas cambiais distintos – disse Mantega.

O ministro Mantega participa na capital norte-americana de encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, realizado durante a reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.

– Você tem um pouco de tudo. Isso atrapalha o relacionamento comercial e financeiro dos países – afirmou Mantega.

Segundo o ministro, fluxos de capitais excessivos nos países acabam impactando a inflação e também a questão das commmodities (produtos básicos com cotação internacional, que registram alta volatilidade nos preços).

– A minha sugestão é uma homogeneização, de modo que todos adotassem o câmbio flutuante – afirmou.

Com a medida, acrescentou Mantega, o Brasil, que já adota o câmbio flutuante, teria de tomar menos medidas de controle de capitais.

– Países que estão manipulando o câmbio deixariam de fazê-lo. E algumas moedas asiáticas terão de se ajustar – afirmou Mantega.

De acordo com o ministro, a proposta foi bem recebida. Questionado sobre a reação da China, que recebe críticas de vários países por manter sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada em relação ao dólar, Mantega disse que o país não se manifestou nem contra nem a favor. “Portanto, nós entendemos que (a sugestão) deve ser colocada dentro das propostas de reforma de política monetária.”

Outra proposta apresentada por Mantega foi a adoção de “mais medidas prudenciais” para atenuar o excesso de liquidez registrado no Brasil e em muitos países emergentes, entre elas a regulação do mercado de derivativos. Segundo o ministro, essa seria uma forma de combater os impactos negativos da especulação no mercado de commodities. “Os grandes fluxos monetários, excessos de capitais, se devem a políticas monetárias expansionistas dos países avançados”, disse Mantega.

– O problema é que esse crédito não está indo para a produção e para o investimento. Acaba indo para instituições financeiras que tentam obter lucros, não na atividade produtiva, mas na atividade especulativa. Vai para os mercados de derivativos, os mercados futuros. Para comprar commodities, e aí elevam-se os preços – afirmou.

Entre as medidas de regulação que poderiam ajudar a combater o problema, Mantega cita o registro das operações, que daria mais transparência ao mercado e identificaria movimentos especulativos.

As altas taxas de juros no Brasil e em outros países emergentes, que apresentaram uma recuperação mais vigorosa após a crise econômica mundial, têm atraído um fluxo excessivo de capitais, que acabam valorizando as moedas locais e reduzindo a competitividade das exportações.

O governo brasileiro adotou várias medidas desde o ano passado para combater o problema e tentar conter o capital especulativo. Como já havia sido antecipado no texto do pronunciamento que fará hoje (16), o ministro reafirmou que o Brasil não vai aceitar estabelecer um marco normativo para que os países abordem o controle de capitais.

– Havia uma nova tendência dentro do FMI, depois de terem reconhecido a necessidade de países usarem controle de capitais, de que se fizesse um marco normativo para esse controle. Eu li como uma limitação. Nós precisamos é de um marco criativo, porque, dependendo da forma como vem o capital, de como ele entra, tem que usar determinada limitação – disse.

Neste sábado, Mantega realizou um discurso ao Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, na sigla em inglês), órgão que tem o papel de assessorar do conselho de governadores do FMI e recomendar a adoção de políticas.

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