quarta-feira, 27 de abril de 2011

Jovens presos em Guantánamo não eram ameaça para os EUA, diz jornal

O governo americano parece ter cometido violações dos direitos humanos ainda mais graves ao encarcerar na prisão de Guantánamo, em Cuba, crianças e adolescentes que depois foram considerados inocentes e libertados. Segundo novos documentos divulgados pelo site WikiLeaks e publicados pelo jornal espanhol "El País" nesta terça-feira, dos 14 jovens detidos no presídio apenas um ofereceu informações relevantes para a segurança dos Estados Unidos.

Entre as histórias pessoais está a de um menino de 14 anos que se ofereceu para trabalhar como pedreiro e acabou sendo cooptado por um grupo de talibãs, de onde passou para mãos americanas. Outro caso é de um afegão que trabalhava para um senhor de guerra fazendo trabalhos manuais e quando chegaram os americanos foi levado para Guantánamo.

"Não nos consta nenhuma razão para que o detento tenha sido enviado para as instalações de Guantánamo", diz um dos documentos.

"Não é membro da al Qaeda nem um líder talibã. Não oferece ameaça para os interesses dos EUA e de seus aliados", afirma outro.

O único detento menor de 18 anos que as autoridades atribuíram um alto valor para os serviços de inteligência foi o canadense Omar Ahmed Jader, filho de um tenente de Osama bin Laden, o único dos mais jovens que permanece até hoje na base militar. Outros cinco detentos as autoridades reconheceram que não podiam extrair qualquer informação, sete foram classificados com "baixo" valor, e dois com "médio".

Apesar da linguagem protocolar nos documentos, em alguns casos os agentes chegaram a mostrar compaixão, como na ficha de Naqib Ullá, um afegã que ingressou em Guantánamo com 14 ou 15 anos.

"É um menino que foi recrutado à força pelos talibãs. Mesmo que possa ter algum valor para nossos serviços de inteligência, a informação que dispõe não é tão importante como a necessidade de tirar o jovem deste ambiente atual e dá-lo a oportunidade de crescer fora do extremismo radical", escreveu o general Geoffrey Miller em um memorando.

Todos os menores ingressaram na prisão entre 2002 e 2003, e a maioria saiu por volta de 2006, mas algumas transferências se estenderam até 2009. Em média, os detentos permaneceram três anos e meio em Guantánamo.

É difícil, porém, quantificar o número exato de crianças e adolescentes que passaram pela base militar em Cuba. Além dos 14 presos que tinham menos de 18 anos antes de entrar na prisão - quatro deles com 15 anos ou menos -, outra dezena estava a ponto de completar a maioridade ou acabara de fazer 18 anos.

Da Agência O Globo

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