sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inflação continua alta, mas governo acredita que pior já passou

Aumento de preços no ano atinge metade do limite máximo admitido em 2011 pelo governo e, em doze meses, supera o teto. Mas equipe econômica aposta que preços vão subir em ritmo normal a partir de agora e comemora: não 'derrubou economia', como queria o 'mercado', e mantém Brasil com 'excelentes perspectivas'. Situação sob controle abre espaço para agenda política da gestão Dilma Rousseff.  

André Barrocal

BRASÍLIA – A inflação de abril foi de 0,77 %, informou nesta sexta-feira (6/05) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos quatro primeiros meses do ano, soma 3,2%, metade do valor máximo que o governo aceita em 2011 (6,5%). Em doze meses, supera a meta (6,51%). Para impedir que os adversários políticos tirem proveito do tema mais delicado do início da gestão Dilma Rousseff, o discurso oficial repete que o governo fará tudo para controlar os preços. Em público e nos bastidores, no entanto, o governo começa a dar sinais de quem acha que o pior já passou. E com motivos para ser comemorado. O país continua crescendo. E, no fim no processo de combater a pressão inflacionária artual, terá juros menores do que o “mercado” queria, facilitando o plano de derrubá-los até 2014.

O sinal mais claro de confiança emitido pelo governo até agora partiu do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Na véspera do anúncio do IBGE, ele foi a uma audiência pública no Congresso e disparou: “em maio, vai cair bem a inflação” e “o cidadão comum vai sentir a inflação mais baixa ao longo do ano”.

Segundo Tombini, a partir de junho ou julho, a inflação vai subir de 0,35% a 0,40% ao mês, patamar que não se verifica desde setembro e projeta índice anual de 4,5%. Esta é a meta que o governo se propõe a perseguir todos os anos mas que, em 2011, foi abandonada. Na visão da presidenta Dilma e sua equipe, buscá-la exigiria derrubar a economia de tal forma que demoraria para reerguê-la, e a um alto custo. Só em 2012, é que o alvo de 4,5% voltará.

Dados 'frios'

Embora não tenha sido citada por Tombini, uma série de dados recentes sugere o esfriamento da inflação ou de fatores que a pressionam. Na última quarta-feira (04/05), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou pesquisa que aponta “arrefecimento do crédito” como “resultado da ação do governo”. Em outras palavras, caiu o número de empréstimos, porque o governo tirou dinheiro da praça, e menos crédito significa vendas menores e espaço reduzido para aumento de preços.

No mesmo dia, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) informava que os lojistas estavam um pouco mais desanimados com as perspectivas de vendas, enquanto o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Econômicas (Dieese) dizia que o custo de vida na cidade de São Paulo subira em abril menos do que em março.

O mesmo Dieese tinha divulgado, um dia antes, que, em abril, o preço da cesta básica caíra em 14 de 17 capitais do país. Números da equipe econômica que chegaram à presidenta já tinham mostrado que, no primeiro trimestre, o preço da cesta básica inclusive recuara, dando conforto político à presidenta.

Outros dados conhecidos nos últimos dias que sustentam o otimismo do governo são a queda de um tipo de índice de inflação que IBGE tem apenas para o empresariado, a previsão da Associação Comercial de São Paulo de que as vendas nos Dias das Mães vão crescer mas um pouco menos e uma estimativa idêntica da associação das montadoras (Anfavea) para o comércio de carros em 2011.

Queda de braço

O problema é que os sinais de desaceleração da economia e a confiança do governo parecem não convencer o chamado “mercado”. Analistas do setor ou identificados com a linha de pensamento do “mercado” dizem, por exemplo, que a demanda interna não caiu como deveria, que no fim do ano negociações salariais vão pressionar a inflação de novo e que o juro do BC deveria ter subido mais.

Por isso que, há oito semanas, pesquisa periódica do Banco Central junto ao “mercado” aponta expectativas crescentes de inflação. “Esse é um pessismo que se reflete na sociedade”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada dia 29 de abril, o medo das pessoas está acima do normal.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita ter uma explicação simples para o comportamento do “mercado”. “Quem reclama, queria taxas de juros maiores, para ganhar mais dinheiro”, afirmou ele na última terça-feira (03/05), em audiência pública no Senado. “Críticas sempre vão ocorrer. Mas é preciso saber as razões”, completou.

Custos a comemorar

Na avaliação da equipe econômica, o modo escolhido para enfrentar a inflação desde o fim de 2010, com mais armas do que o juro do BC, deveria ser comemorado. Quando o processo terminar, haverá uma taxa de juros mais baixa do que esperava o “mercado”. Nas contas do governo, as medidas alternativas impediram que a maior taxa de juro do planeta subisse cerca de dois pontos percentuais. Assim, com ela menor, será mais fácil para o plano da presidenta Dilma Rousseff de chegar ao fim do mandato com um juro parecido com que se vê pelo mundo.

Além disso, o país não parou de crescer, de gerar emprego e renda, mesmo que num ritmo menor. “De nada vale uma inflação controlada com uma economia que não cresce” afirmou o presidente do Banco Central, que vê “excelentes perspectivas” para o Brasil. “Não queremos derrubar a demanda que foi construída com sacrifício”, disse Mantega.

Com a missão quase cumprida de abater a inflação este ano, o governo terá mais espaço, segundo assessores, para impor sua agenda política e anunciar projetos. O mais vistoso deles deverá vir a público ainda em maio, o plano de tirar 16 milhões de pessoas da pobreza extrema (vivem com menos de R$ 70 mensais).

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