Por LEN*
A raça humana dá voltas e sempre acaba no mesmo lugar. Quando parece que caminha para alguma evolução, ela completa uma volta inteira e retorna ao ponto de partida. Se a gente olha em volta, percebe que nos dias de hoje não existe muita diferença dos tempos de barbárie, talvez seja ainda pior por causa da tolerância, indiferença e até apoio com que muitos indivíduos enfrentam a realidade do quotidiano.
Vimos, nos últimos dias aqui no Brasil, crescentes manifestações de aprovação e até de defesa raivosa das ações terroristas americanas que rasgaram a declaração universal dos direitos humanos. A condescendência com a tortura, violação de soberania e assassinatos a sangue frio, sem dar às vítimas o direito de um julgamento justo, é mais um capítulo infeliz da nossa história, e que se assemelha a aprovação que muitas dessas mesmas pessoas deram aos crimes praticados pela ditadura no nosso país.
Eu não estudei psicologia para entender o que se passa na cabeça do colonizado, mas possivelmente ele sofre de um distúrbio de inferioridade e submissão, resumindo: falta de amor próprio. Acredito que essas pessoas gostariam de ter nascido nos EUA e desprezam sua condição natural, então passam a venerar acriticamente ações criminosas que possam ser percebidas como reafirmação de poder daquele país. Eles se sentem como uma raça intermediária entre os poderosos que veneram e a ralé que desprezam.
Como explicar que as mesmas pessoas que supostamente se dizem incomodadas com desrespeito aos direitos humanos em países árabes, Venezuela, China e Cuba possam se posicionar de maneira tão intransigente e triunfalista em defesa de atos de covardia que reduzem a condição da raça humana? O pior é que para justificarem suas vergonhosas posições se escoram em crimes praticados por um dos lados, como se esse fato eximisse suas consciências de culpa.
Em suas mentes pequenas, o 11 de Setembro é um salvo conduto ad eternum para as invasões de países soberanos, mortes de civis, tortura, assassinatos sem julgamento, afinal, para eles só cabe comiseração e solidariedade com as famílias das vítimas americanas, nunca para um bando de fanáticos religiosos ao qual eles consideram sub-raça. Não importa que o que move determinados sentimentos de vingança sejam perdas geradas por uma política que foi financiada e estimulada pelos EUA por décadas.
O terror praticado pelos governos americanos é retroalimentado pelos seus apoiadores no mundo inteiro, e não é diferente com os nossos. Seria inocência esperar que um dia realizem que eles têm parte de culpa nesses crimes, mas espero que a nossa sociedade saiba rejeitar e reprovar quem age dessa maneira. Somos um país que tem um povo de tradição pacífica, não somos um país de lacaios seletivos prontos para condenar e absolver de acordo com o poder político.
Deixo claro aqui, antes que me acusem de antiamericanismo, que minha posição é de repulsa aos métodos de terror americano pelos seus governos, e não se trata de generalização do povo americano, que acredito que em sua maioria rejeita as políticas imperialistas. Não podemos esquecer nunca da mensagem dada por aquele povo no festival de Woodstock, que emocionou toda uma geração. O que reprovo são os métodos do status quo daquele país, independente do presidente que esteja no poder. Os sucessivos governos americanos e suas políticas imperialistas de desrespeito aos direitos humanos são os responsáveis por aquele país se tornar o maior risco para a paz mundial, pela prática de terrorismo de estado.
Fonte da imagem ilustrativa: http://scaryideas.com/content/6182/
LEN é editor-geral do Ponto & Contraponto e editor do Terra Brasilis.
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