"Com Palocci sangrando na Casa Civil, a República ficaria na mão do triunvirato Temer, Jucá e Eduardo Cunha", avalia Elio Gaspari, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 12-06-2011.
Eis o artigo.
Dilma Rousseff impediu que seu governo e o PT ficassem ainda mais parecidos com a bancada do PMDB. Na terça-feira, a senadora Marta Suplicy propôs a 11 dos 15 colegas da bancada uma nota de apoio a Antonio Palocci. Seria uma repetição da tática petista de "partir para cima".
Como já se acertara à noite, o chefe da Casa Civil iria ao Congresso, "a convite". O senador Romero Jucá (PMDB-RR) já considerava o episódio Palocci como uma "página virada". Os senadores petistas recusaram-se a endossar a ideia da senadora.
Com um chefe da Casa Civil hemorrágico, a base política do governo ficaria nas mãos de um triunvirato do PMDB, com Michel Temer no Planalto, Jucá no Senado e Eduardo Cunha na Câmara. Ninguém definiu melhor a situação do que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ): "Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci". (Seria mais adequado dizer "presunto", pois é trabalhoso fatiar diamantes.)
Desde maio, quando os repórteres Andreza Matais e José Ernesto Credendio expuseram a bonança patrimonial de Palocci, o PT dava estranhos sinais. O governador da Bahia, Jaques Wagner, admitira que a fortuna do doutor "chama a atenção". Treze presidentes de Diretórios Estaduais, protegidos pelo anonimato, evitaram defender o ministro.
Raul Pont, do PT gaúcho, pôs a cara na vitrine: "Entendo que ele tem que se afastar. (...) A situação do Palocci não pode contaminar o governo". Mais tarde, Reginaldo Lopes, presidente do PT mineiro, foi na mesma linha. Durante um almoço com Lula, a senadora Gleisi Hoffmann expusera a ruína que ameaçava o PT e o governo: o mensalão foi um erro, mas era parte de um projeto coletivo, partidário. Não era esse o caso de Palocci.
Se houve uma rebelião no PT, faz tempo que não lhe acontecia coisa tão boa. Um pedaço da nação petista, como Palocci, já se parece com o PMDB e está feliz assim.
Para quem segue um guia que se intitula "metamorfose ambulante", isso não é defeito. O problema estaria em outro lugar. No seu papel, o PMDB é mais articulado, desembaraçado e profissional que o PT. Não tem telhado de vidro porque telhado não tem. Até bem pouco tempo, ele garantia ao governo as maiorias parlamentares, mas o roteiro vinha do Planalto. É essa iniciativa que o PT arrisca perder.
Oito anos depois da sua chegada ao poder, a máquina petista controla fundos de pensão, grandes amizades e clientes em busca de bons conselhos. Seus candidatos têm acesso às bolsas de grandes doadores nas campanhas eleitorais.
Na campanha presidencial de 1994, Lula arrecadou R$ 4,2 milhões, contra R$ 32,1 milhões de Fernando Henrique Cardoso.
Na última eleição, Gleisi Hoffmann, ex-diretora-financeira da Itaipu Binacional, arrecadou R$ 8 milhões para sua campanha (vitoriosa) ao Senado pelo Paraná. Quatro empreiteiras clarividentes pingaram R$ 2,3 milhões.
Gleisi Hoffmann teve doadores para sua eleição, mas não tem patrimônio pessoal. Seus bens somaram R$ 660 mil, um décimo do valor do apartamento comprado por Antonio Palocci. Esse tipo de parlamentar ainda existe no PT. Na lista das dez maiores fortunas do Congresso, o PMDB é majoritário, com dois deputados e um senador. Nela ainda não há petista.
Ainda não há, mas, pelo andar da carruagem, falta pouco. A 10ª fortuna do Congresso, de acordo com os patrimônios declarados à Justiça Eleitoral, é do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), com R$ 16,5 milhões. Essa lista é um indicador precário, pois basta colocar uma fazenda em nome da patroa para tirar alguns milhões da conta. Mesmo assim, admitindo-se que Palocci tenha incorporado boa parte dos R$ 20 milhões que sua empresa faturou em 2009, estaria por perto. Nada mal para quem declarava um patrimônio de R$ 375 mil em 2006.
O PT pode ter deixado de ser o que dizia, pode até mesmo não saber direito o que é. Se um pedaço dele decidiu não ser PMDB, já é alguma coisa, mesmo que não seja muito.
Eis o artigo.
Dilma Rousseff impediu que seu governo e o PT ficassem ainda mais parecidos com a bancada do PMDB. Na terça-feira, a senadora Marta Suplicy propôs a 11 dos 15 colegas da bancada uma nota de apoio a Antonio Palocci. Seria uma repetição da tática petista de "partir para cima".
Como já se acertara à noite, o chefe da Casa Civil iria ao Congresso, "a convite". O senador Romero Jucá (PMDB-RR) já considerava o episódio Palocci como uma "página virada". Os senadores petistas recusaram-se a endossar a ideia da senadora.
Com um chefe da Casa Civil hemorrágico, a base política do governo ficaria nas mãos de um triunvirato do PMDB, com Michel Temer no Planalto, Jucá no Senado e Eduardo Cunha na Câmara. Ninguém definiu melhor a situação do que o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ): "Temos uma pedra preciosa, um diamante que custa R$ 20 milhões, que se chama Antonio Palocci". (Seria mais adequado dizer "presunto", pois é trabalhoso fatiar diamantes.)
Desde maio, quando os repórteres Andreza Matais e José Ernesto Credendio expuseram a bonança patrimonial de Palocci, o PT dava estranhos sinais. O governador da Bahia, Jaques Wagner, admitira que a fortuna do doutor "chama a atenção". Treze presidentes de Diretórios Estaduais, protegidos pelo anonimato, evitaram defender o ministro.
Raul Pont, do PT gaúcho, pôs a cara na vitrine: "Entendo que ele tem que se afastar. (...) A situação do Palocci não pode contaminar o governo". Mais tarde, Reginaldo Lopes, presidente do PT mineiro, foi na mesma linha. Durante um almoço com Lula, a senadora Gleisi Hoffmann expusera a ruína que ameaçava o PT e o governo: o mensalão foi um erro, mas era parte de um projeto coletivo, partidário. Não era esse o caso de Palocci.
Se houve uma rebelião no PT, faz tempo que não lhe acontecia coisa tão boa. Um pedaço da nação petista, como Palocci, já se parece com o PMDB e está feliz assim.
Para quem segue um guia que se intitula "metamorfose ambulante", isso não é defeito. O problema estaria em outro lugar. No seu papel, o PMDB é mais articulado, desembaraçado e profissional que o PT. Não tem telhado de vidro porque telhado não tem. Até bem pouco tempo, ele garantia ao governo as maiorias parlamentares, mas o roteiro vinha do Planalto. É essa iniciativa que o PT arrisca perder.
Oito anos depois da sua chegada ao poder, a máquina petista controla fundos de pensão, grandes amizades e clientes em busca de bons conselhos. Seus candidatos têm acesso às bolsas de grandes doadores nas campanhas eleitorais.
Na campanha presidencial de 1994, Lula arrecadou R$ 4,2 milhões, contra R$ 32,1 milhões de Fernando Henrique Cardoso.
Na última eleição, Gleisi Hoffmann, ex-diretora-financeira da Itaipu Binacional, arrecadou R$ 8 milhões para sua campanha (vitoriosa) ao Senado pelo Paraná. Quatro empreiteiras clarividentes pingaram R$ 2,3 milhões.
Gleisi Hoffmann teve doadores para sua eleição, mas não tem patrimônio pessoal. Seus bens somaram R$ 660 mil, um décimo do valor do apartamento comprado por Antonio Palocci. Esse tipo de parlamentar ainda existe no PT. Na lista das dez maiores fortunas do Congresso, o PMDB é majoritário, com dois deputados e um senador. Nela ainda não há petista.
Ainda não há, mas, pelo andar da carruagem, falta pouco. A 10ª fortuna do Congresso, de acordo com os patrimônios declarados à Justiça Eleitoral, é do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), com R$ 16,5 milhões. Essa lista é um indicador precário, pois basta colocar uma fazenda em nome da patroa para tirar alguns milhões da conta. Mesmo assim, admitindo-se que Palocci tenha incorporado boa parte dos R$ 20 milhões que sua empresa faturou em 2009, estaria por perto. Nada mal para quem declarava um patrimônio de R$ 375 mil em 2006.
O PT pode ter deixado de ser o que dizia, pode até mesmo não saber direito o que é. Se um pedaço dele decidiu não ser PMDB, já é alguma coisa, mesmo que não seja muito.
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