O jornal da ditabranda se supera. Verdade que agora a culpa não é exclusiva dele, mas da ombudsman, aquela que faria a leitura crítica do jornal e seria a voz dos leitores.
O nome dela é Suzana Singer, e dona Suzana resolveu colocar no pau de arara a sentença que condenou o coronel Ustra por tortura, até que Ustra deixasse de ser alguém julgado e condenado como torturador e se transformasse em "alguém acusado de praticar ou acobertar um crime como a tortura", como ela escreve em seu texto.
Suzana Singer, existe uma enorme diferença entre um acusado e um condenado, que é alguém que foi a julgamento e recebeu a sentença: condenado por tortura. E este é o caso do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra.
A ombudsman deveria ler pelo menos o jornal onde trabalha, pois a notícia foi publicada nele em 2008, na época da condenação. Confira aqui.
O nome dela é Suzana Singer, e dona Suzana resolveu colocar no pau de arara a sentença que condenou o coronel Ustra por tortura, até que Ustra deixasse de ser alguém julgado e condenado como torturador e se transformasse em "alguém acusado de praticar ou acobertar um crime como a tortura", como ela escreve em seu texto.
Suzana Singer, existe uma enorme diferença entre um acusado e um condenado, que é alguém que foi a julgamento e recebeu a sentença: condenado por tortura. E este é o caso do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra.
A ombudsman deveria ler pelo menos o jornal onde trabalha, pois a notícia foi publicada nele em 2008, na época da condenação. Confira aqui.
Por decisão do juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível de São Paulo, de primeira instância, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra tornou-se o primeiro oficial condenado na Justiça brasileira em uma ação declaratória por sequestro e tortura durante o regime militar (1964-1985).
A sentença, publicada ontem, é uma resposta ao pedido de cinco pessoas da família Teles que acusaram Ustra, um dos mais destacados agentes dos órgãos de segurança dos anos 70, de sequestro e tortura em 1972 e 1973.
(...) Na decisão de ontem, o juiz Santini argumentou que a anistia refere-se só a crimes, e não a demandas de natureza civil, como é o caso da ação declaratória, que não prevê indenização nem punição, mas o reconhecimento da Justiça de que existe uma relação jurídica entre Ustra e os Teles, relação que nasceu da prática da tortura.
(...) As testemunhas, que estiveram presas junto com os Teles, disseram que Ustra comandava as sessões de tortura com espancamento, choques elétricos e tortura psicológica. Das celas, relatam que ouviam gritos e choros dos presos.
"Não é crível que os presos ouvissem os gritos dos torturados, mas não o réu [Ustra]. Se não o dolo, por condescendência criminosa, ficou caracterizada pelo menos a culpa, por omissão quanto à grave violação dos direitos humanos fundamentais dos autores", afirmou o magistrado.
Agora, fique o leitor com o raciocínio tortuoso da ombudsman:
TORTURA OUTRA VEZ
Defendo dar visibilidade à versão do ex-comandante, mesmo que, nos anos 70, ele não defendesse o meu direito de expressão
A TORTURA VOLTOU à pauta da Folha nos últimos dias por dois mensageiros completamente diferentes: um coronel reformado do Exército e um compositor preso nos anos 80 por posse de drogas.
A primeira porta ao passado reabriu quando a nobre seção "Tendências/Debates" deu espaço para que Carlos Alberto Brilhante Ustra tentasse desconstruir um artigo de memórias escrito pelo economista Persio Arida para a revista "Piauí".
Em "O delírio de Persio Arida" (27/5), Ustra afirma que o ex-preso político não foi transferido para o Rio, não viveu vários fatos que ele descreve e, conclui-se, não deve ter sido torturado.
O economista respondeu seis dias depois com "O coronel e a tortura", na mesma página 3, e terminava dando o troco: "Eu não suportaria a vergonha de ter comandado uma casa de torturas".
Para alguns leitores, é inconcebível publicar textos de alguém acusado de praticar ou acobertar um crime como a tortura. "A Folha mais uma vez dá voz aos que estiveram em evidência no período mais trágico da nossa história, em vez de deixá-los curtir a solidão e a vergonha dos derrotados moralmente e condenados pela opinião pública mundial", escreveu o administrador Maurice Politi, 62, de São Paulo.
No Twitter, Ustra já virou "colunista da Folha" e o seu artigo é mais um argumento para os que querem pregar a pecha de "defensor da ditadura" no jornal. Um internauta provocou: "Qual será o próximo? O goleiro Bruno do Flamengo? Guilherme de Pádua? Nardoni?".
Apenas um remetente, o capitão-de-mar-e-guerra reformado Paulo Marcos Gomes Lustoza, do Rio de Janeiro, defendeu Ustra: "Certos leitores não admitem a Folha publicar o contraditório"; "...(por eles), só conheceríamos a opinião dos que lutaram contra o regime militar, mas jamais saberíamos se a luta armada queria substituir o nosso capitalismo pelo socialismo cubano, chinês, albanês ou o comunismo marxista-leninista".
Para a decepção de muitos, defendo a iniciativa, condizente com o pluralismo expresso no projeto editorial da Folha, de dar visibilidade à versão do ex-comandante do DOI-Codi, mesmo sabendo-se que funcionava ali uma central de tortura.
E tendo consciência também que, se estivéssemos nos anos 70, ele não defenderia o meu direito de expressão. Na ditadura, vozes dissonantes eram caladas. Censurar é sempre a pior saída.
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