Italiano desiste da Flip por causa de Battisti

Antonio Tabucchi [Fonte da imagem: http://angranews.blogspot.com/]

Decisão do Brasil de não extraditar o ex-ativista italiano, libertado este mês, fez o escritor Antonio Tabucchi, uma das principais atrações do evento, cancelar participação

O escritor italiano Antonio Tabucchi cancelou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e alegou que agiu assim por discordar da decisão do governo brasileiro de não extraditar o ex-militante Cesare Battisti. Um dos autores mais aguardados da 9ª edição da Flip, que começa semana que vem, Tabucchi já havia desmarcado, também em cima da hora, sua participação na festa ano passado, à época atribuindo a decisão a problemas de saúde (dores na coluna lombar).

O curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, conta ter dito a Tabucchi que ele poderia abordar o caso Battisti como quisesse durante sua mesa. O italiano teria respondido que seria "deselegante" criticar o governo brasileiro estando no Brasil. "Explicamos a ele que a decisão do governo está longe de traduzir por unanimidade o pensamento do povo brasileiro. Particularmente, não conheço uma pessoa que seja a favor de acolhermos Battisti", diz Costa Pinto. "A decisão faria mais sentido se a Flip fosse organizada pelo governo ou fosse um evento de alguma forma usado politicamente. Não é o caso".

Em janeiro, Tabucchi publicou no jornal francês Le Monde um artigo no qual criticava os intelectuais franceses por seu apoio a Battisti, defendia o processo judicial que o condenou na Itália e afirmava que o caso "bagunça" ou "muda" as regras do direito.

O escritor e psicanalista Contardo Calligaris substituirá Tabucchi na mesa 8 da Flip, que conta ainda com Ignácio de Loyola Brandão. Quem quiser a restituição do valor do ingresso deve fazer a troca na bilheteria do evento em Paraty.

Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália em 1995 pelo homicídio de quatro pessoas nos anos 1970. Desde 1981, ele estava asilado na França. Em 2004, fugiu para o Brasil. Foi preso no Rio em 2007, e deste então a Itália pede sua extradição. O STF concordou, em 2009. Mas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se a extraditá-lo, no ano passado. O STF legitimou a posição de Lula e libertou Battisti no início deste mês. Semana passada, o Conselho Nacional de Imigração concedeu ao italiano autorização para permanência no Brasil.

Jornal do Commercio

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Nota da editoria-geral do Terra Brasilis:

O escritor Antonio Tabucchi tem todo o direito de decidir não participar, por razões políticas, da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Tem todo o direito de considerar equivocada a decisão do governo brasileiro pela não extradição de Cesare Battisti. Agora, é lamentável que ele prive de sua presença aqueles que o admiram como escritor [não é o meu caso, pois nunca li uma obra sua sequer]. Parece-me, aqui, que a posição política do sr. Antonio Tabucchi vai de encontro ao respeito que ele deveria ter por seus leitores. Volto a dizer: todo o direito a Antonio Tabucchi... Acrescento, porém, que o Estado brasileiro, por decisão do ex-presidente Lula, confirmada pelo STF, resolveu não extraditar Battisti e ponto final.

Ao curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, vai uma nota de repúdio pelo uso de argumentos pouco consistentes para preservar a prensença de Tabucchi na Festa, para não dizer que esses frágeis argumentos deixam transparecer uma subserviência lamentável. Se o curador  "Particularmente, [não conhece] uma pessoa que seja a favor de acolhermos Battisti" - o que acho pouco provável, pois, lá em Paraty, estarão presentes escritores que, certamente, concordam com a posição do governo brasileiro quanto a Battisti, e Manuel deve conhecer algum, sim - isso é problema dele e não de muitos que estarão lá para prestigiar o evento literário. De modo que tentar convencer o escritor italiano com esse subjetivismo denota falta de habilidade do sr. Manuel da Costa. Pergunto: estaria o sr. Manuel da Costa Pinto em condições de ser curador de um evento desta importância para as letras?

Não sei se é o caso do escritor Antonio Tabucchi, mas algumas personalidades [escritores ou não] nunca levantam sua voz e suas ações de protesto contra as guerras perpetradas pelos EUA, nem contra o desrespeito desta nação aos direitos humanos em território alheio.