Romero Jucá é acusado agora de ser sócio oculto de uma faculdade em Roraima |
Eduardo Militão
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), é alvo de mais uma acusação de propriedade de empresa registrada em nome de “laranjas”. Desta vez, o lobista Geraldo Magela Fernandes da Rocha diz que, em nome do senador, tornou-se sócio de um médico para abrir uma faculdade em Roraima. Os contatos políticos de Jucá ajudaram a faculdade a sair do papel. Registros de cartório mostram Magela Rocha como sócio do José Mozart Holanda Pinheiro entre 2000 e 2003, mas o lobista disse que o dono verdadeiro era Jucá, e que o senador depois determinou que ele saísse do negócio.
Romero Jucá admite que ajudou a Faculdade Roraimense de Ensino Superior (Fares) a ser criada, mas diz ignorar a participação de Magela, seu ex-colaborador em campanhas eleitorais, na sociedade com o médico Mozart Pinheiro, de 65 anos, ex-tucano e atual suplente de deputado federal pelo PT. Mozart disse que abriu a empresa sozinho, sem sociedade com o lobista ou o senador. Ao ser questionado sobre a contradição de parte das declarações com os registros de cartório, a ligação com Mozart Pinheiro foi interrompida.
Magela Rocha já disse ter sido laranja de Jucá na TV Caburaí, fato negado pelo senador, apesar de a emissora hoje estar formalmente em poder de sua atual mulher, Rosilene Pereira Costa, e de seu filho, o deputado estadual Rodrigo Jucá – um advogado de 29 anos que acumula patrimônio declarado de R$ 3,6 milhões, seis vezes maior que o de seu pai. O lobista também acusa Romero Jucá de ter recebido um apartamento da Via Engenharia em nome do irmão, Álvaro Jucá, após Magela ter sido “laranja” na compra do imóvel perante a construtora.
Ajuda na campanha
De acordo com Magela Rocha, tudo começou em 2000, quando o médico Mozart Pinheiro ajudou a campanha eleitoral da então esposa de Jucá, Teresa Jucá, à prefeitura de Boa Vista. A então mulher do senador saiu vencedora pelo PSDB, o partido da família à época. Um mês depois, Jucá, que era vice-líder do governo Fernando Henrique no Senado, foi ajudar o médico a montar sua instituição de ensino. “O Romero me pediu para assumir 50% das ações da faculdade”, contou o lobista ao Congresso em Foco. O contrato foi assinado em 9 de novembro de 2000, segundo registros de cartório.
Em março de 2001, a papelada foi guardada formalmente no cartório. A Faculdade Roraimense tinha capital social de R$ 30 mil, metade com Mozart e metade com Magela Rocha. O lobista diz nunca ter injetado um tostão na sociedade, embora tenha ajudado a estruturar e administrar o negócio. “Não ganhei nada, só trabalho.”
Segundo ele, depois que a faculdade foi aberta, durante a campanha eleitoral de 2002, Jucá lhe passou valores que somavam entre R$ 60 mil e R$ 80 mil para investir na Fares. O dinheiro foi recebido no gabinete parlamentar no Senado e na sua fazenda em Roraima. O lobista diz que repassou tudo a Mozart. “Era dinheiro para compra de carteiras, instalação de ar-condicionado. Sempre à vista, em cash”, conta Magela Rocha. “À época, o jeito de se pagar as coisas era via doleiro, que transforma muito dinheiro que está no exterior em cash.” O doleiro em questão era Antônio Pires de Almeida, o seu Pires.
A certidão mostra que Magela foi mesmo sócio da faculdade Veja o documento completo |
Prioridade no MEC
De acordo com Magela, Jucá continuou ajudando o médico Mozart Pinheiro, ao procurar o então ministro da Educação do governo FHC, Paulo Renato Souza. O atual líder do governo Dilma Rousseff no Senado foi líder do governo Lula no Senado e também líder do governo Fernando Henrique no Senado. O lobista disse que a autorização da Faculdade Roraimense foi “priorizada” porque havia muitas outras faculdades na fila. Procurado pelo Congresso em Foco na semana passada, o ex-ministro Paulo Renato não retornou os contatos da reportagem. Sua secretária disse que ele estava em viagem e só poderia comentar o assunto a partir desta segunda-feira (20).
Romero Jucá afirmou que ajudou a faculdade de Mozart Pinheiro, mas da mesma forma como fez com qualquer outra instituição de ensino do seu estado. “Nunca fui sócio de faculdade e ajudei todas as faculdades de Roraima”, afirmou o senador ao Congresso em Foco.
Em janeiro de 2002, o MEC credenciou a Fares como instituição de ensino superior. A mantenedora é o posto de gasolina de Mozart Pinheiro em Boa Vista. No primeiro vestibular, com inscrições abertas pouco mais de 20 dias depois, foram oferecidas 150 vagas para economia e 150 para administração. Naquele mesmo ano, Mozart Pinheiro saiu candidato a deputado estadual pelo PSDB, partido de Jucá e do governo Fernando Henrique Cardoso, mas ficou apenas com a suplência.
Desentendimento
Mas, segundo o lobista, as relações entre o senador e o médico azedaram em 2003. Ele afirma que Jucá pediu a Mozart para ingressar como laranja em outra empresa para disputar concessões de rádio e TV. O médico não aceitou e, num acordo com o senador, ficou acertado que eles deixariam de ser sócios na Faculdade Roraimense, ainda de acordo com o relato de Magela Rocha.
Fato é que em janeiro de 2003, três meses depois das eleições em que Mozart saiu derrotado da disputa por uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado, o médico e Magela Rocha assinaram a saída do lobista da sociedade. As 15 mil cotas de Magela Rocha vão para o filho do médico, o estudante Francisco Adjafre de Sousa Neto, que trabalhava na Assembleia Legislativa de Roraima pelo menos até o ano passado.
Apesar dos valores das cotas, o lobista estima que, na saída do negócio, Romero Jucá tenha ficado com R$ 500 mil por sua parte na sociedade. Magela Rocha diz que a Fares valia pelo menos R$ 1 milhões à época, embora ainda hoje seu capital seja de apenas R$ 366 mil. Atualmente, há cinco cursos: agronomia, enfermagem, pedagogia, administração e economia.
Seis meses depois da saída do lobista, o capital social da faculdade saltou para R$ 366 mil, com a incorporação de um terreno de 10 mil metros quadrados valendo R$ 200 mil e de parte do lucro líquido de 2002. Chegou a R$ 136 mil uma parcela de lucro no último ano em que Magela Rocha, o suposto “laranja” do senador, foi sócio da faculdade, segundo documentos arquivados em cartório.
Em agosto de 2008, o médico colocou mais uma familiar na empresa, Maria Stela Adjafre Pinheiro. Hoje, Mozart Pinheiro tem 98% da faculdade, enquanto Francisco e Maria Stela Adjafre têm 1% cada um.
Bolsas de estudo
Magela Rocha acredita que o senador não quis aparecer no negócio da faculdade para evitar pedidos de bolsa de estudos por parte de eleitores. “Como sempre, ele não aparece comercialmente em nada. O braço financeiro dele é o irmão e o filho. Também porque ele não queria aparecer no negócio. Ele fez toda a estrutura de negócio dele em nome do filho”.
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