segunda-feira, 27 de junho de 2011

Nassif e o novo ciclo da blogosfera

Por Luis Nassif, em seu blog:

O Segundo Encontro dos Blogueiros, em Brasília, marca o fim de uma era histórica e o início de outra era promissora.

Não compareci ao encontro de Brasília por questões familiares – o fim de semana é sagrado para as menininhas. Mas já tinha solicitado o afastamento do movimento por julgar que a grande missão – na qual me sentia incluído – já tinha sido completada.

A era histórica foi a grande frente que ajudou a afastar a maior ameaça que a democracia brasileira enfrentou desde a eleição de Tancredo: a perspectiva de um país da dimensão do Brasil presidido por um político vingativo e desequilibrado como José Serra.


No encontro que consolidou esse pacto conheci a senhora que montou o blog para denunciar os crimes de maio em São Paulo; a blogueira do Complexo do Alemão; colegas dos mais diversos rincões do país, empenhados em trazer à tona os fatos locais. Ou seja, uma diversidade muito maior do que o fato pontual das eleições. E havia os militantes, alguns históricos, outros jovens que descobriam a militância através da Internet.

No evento de lançamento do movimento procurei explicitar minha posição. A frente era composta por pessoas de várias tendências e cimentada por alguns princípios comuns a todos: a defesa da democracia, da inclusão social, contra toda forma de intolerância e preconceito e dando voz a todos os excluídos pela velha mídia.

O grande desafio seria posterior, quando terminasse a guerra e aparecessem as divergências. Aí mostraríamos o avanço democrático, de poder divergir de forma civilizada.

Agora entra-se na segunda etapa.

A blogosfera é composta por vários grupos de blogueiros, entre os quais dois se destacam: os militantes e os jornalistas. Pertenço ao segundo grupo.

Há características diversas em ambos os grupos, alguns pontos em comum e uma divergência básica: o militante tende a buscar uniformidade do pensamento. No meu caso, sempre entendi a política e a economia com menos dogmatismo. Em meus escritos tenho enfatizado que a construção do Brasil passou por cabeças das mais variadas, de Roberto Campos a Celso Furtado, de Octávio Gouvêa de Bulhões a Rômulo de Almeida.

Sempre entendi que a construção do país deveria ser fundamentalmente pragmática. Com o Partidão, desenvolvemos o modelo federativo do SUS; com os liberais, o mercado de capitais; com a Igreja, o PT e os movimentos sociais, a tecnologia para extirpar a pobreza; com os administradores, as ferramentas de gestão; com os cientistas, as políticas de inovação; com os funcionários públicos, o papel proativo do Estado.

O grande papel da Internet será dar voz a todos. É a partir do aumento dos protagonistas que rompe-se a muralha da informação e permite-se ao país avançar rumo ao estágio mais avançado da democracia, aquele em que deixam-se de lado as decisões autárquicas e amplia-se a negociação e as decisões compartilhadas.

Na Internet, esse novo estágio exigirá o aparecimento de novos personagens, os mediadores, aqueles locais que preferencialmente deem a voz aos sem mídia, mas sem filtros ideológicos e sem temas tabus. Considero que fazem parte dos sem mídia não apenas os movimentos sociais, criminalizados, mas setores da economia, como indústria, agronegócios, os órfãos do câmbio.

Nos próximos anos haverá dois grandes desafios na Internet. O primeiro, esse contraponto à velha mídia; o segundo, o de impedir que essa guerra leve à vitória final da intolerância sobre a razão.

Na grande guerra mundial do ano passado, o esquema Serra trouxe para a Internet a mais sórdida campanha de mídia que esse país já conheceu, com esquemas profissionais barras-pesadas praticando à exaustão assassinatos de reputação, intolerância, efeitos-manada. O que deu legitimidade aos chamados "blogueiros sujos" foi não ter embarcado nesse jogo pesado.

O grande desafio, daqui para diante, será ampliar a frente evitando as armas dos adversários, impedindo as baixarias, assassinatos de reputação, intolerância.

Continuaremos todos por aí. Mas na minha memória afetiva jamais sairão os momentos da grande guerra do ano passado. Cada vez que desanimava com os ataques, as baixarias, olhava para o lado e encontrava companheiros blogueiros indo em frente. E o mesmo devia ocorrer quando qualquer um deles desanimava com o que parecia ser o avanço irresistível do pensamento mais atrasado.

Construímos um momento histórico na vida política do país, impedindo o desmoronamento da democracia.

Agora será a grande luta por sua consolidação, cada qual militando na sua trincheira.

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