A responsabilidade da informação
Por Mair Pena Neto
A notícia de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, seria filho de Chico Buarque, publicada por um site, que se apresenta como portador de notícias falsas, ganhou ares de verdade, foi replicada nas redes sociais e exigiu um desmentido da mãe do governador, a deputada federal Ana Arraes, para pôr fim à questão, que envolveu a dignidade da família e do compositor.
O episódio envolve uma vez mais a responsabilidade da informação e até que ponto sites e blogs se misturam com fontes tradicionais de notícias, sendo encarados da mesma maneira pelos que os leem. O surgimento da internet e a explosão de sites e blogs contribuiram para a democratização da informação e precisam ser acompanhados pela responsabilidade sobre o que publicam. Ao criar um site ou blog, seu autor ou autores tornam públicas suas opiniões. Podiam as manter reservadas se assim desejassem. Mas ao optarem pelo caminho oposto devem se responsabilizar pelo que escrevem.
Durante a última campanha presidencial, muitos blogs apócrifos surgiram na internet para atacar candidatos. São recursos vis e covardes, de quem não tem coragem de assumir sua posição política e se esconde no anonimato. Muitos foram desvendados, revelando para quem operavam e a que interesses serviam. Faltaram as punições, que precisam ser pensadas pelos tribunais eleitorais para que tais abusos não se repitam.
Quando avançam para publicar notícias, blogs e sites precisam de uma estrutura para fazê-lo. Gente para apurar, para checar a informação e, por fim, publicá-la com segurança. Enfim, um trabalho jornalístico a que a maioria das pessoas não está habituada. Se a pressa do tempo real já leva a erros em uma estrutura jornalística montada, a possibilidade aumenta exponencialmente em "redações" menores, muitas vezes de um homem só. Sites e blogs se tornaram fontes de informação relevantes para a sociedade e precisam se dar conta disso.
O que aconteceu em Pernambuco virou notícia ao largo dos tradicionais meios de informação. Boatos da suposta paternidade de Chico Buarque já circulavam na cidade, mas, até onde sei, nenhum jornal os levou adiante. A notícia de que o compositor teria descoberto ser o pai do governador foi publicada no site Diário Pernambucano e poderia ter morrido ali. Afinal, o site se apresenta como uma publicação de humor, "de notícias fake (falsas)" e, portanto, não é para ser levado a sério. Mas a capacidade das pessoas distinguirem o que é sério ou não na grande rede não está muito clara e o que nasceu para ser uma brincadeira acabou virando coisa séria.
Não consegui ver a "notícia" como ela foi publicada. Mas examinando o site, fica clara a sua proposta e não deveria haver espaço para interpretações equivocadas. O prejuízo foi grande para todas as partes envolvidas. A família do governador pediu que o que considerou crime seja investigado e as pessoas responsáveis pela notícia já teriam sido identificadas. O site publica que "devido aos últimos acontecimentos", decidiu excluir "as notícias que forjam a fala inexistente de pessoas de imagem pública" e pede desculpas, afirmando não ter pretendido ferir "a honra de qualquer cidadão".
"Continuaremos fazendo um jornalismo fantástico cada vez mais genérico, ponderando quem realmente deve e quem de fato não deve estar entre nossas notas", diz a nota do site, mais uma vez deixando claro o seu caráter.
Como se vê pela nota, o episódio serviu de lição para o que o site publica. Mesmo brincadeiras têm limites. E quem decide se envolver com sites e blogs precisa saber que tem direitos e responsabilidades, com repercussões jurídicas
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