segunda-feira, 27 de junho de 2011

Software promete auxiliar trabalho dos médicos e reduzir filas nos hospitais

Publicado em 26.06.2011, às 16h27

Juliane Menezes* Especial para o NE10

Tecnologia desenvolvida em Pernambuco a favor do programa Saúde da Família (Foto: Divulgação/ Edição: Davi Lira/Especial para o NE10)

Uma máquina que indica que doença o paciente tem ou qual especialista ele deveria procurar. Não se trata de um robô de filmes de ficção científica, nem de uma novidade distante e cara. Isso é o que deve fazer o InteliMED, um programa piloto que está sendo desenvolvido em projeto de mesmo nome pela pesquisadora Cristine Gusmão,  no Núcleo de Telessaúde (Nutes), vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele deverá ser instalado em dispositivos móveis como celulares para ser utilizado pelos médicos junto a comunidades carentes do programa Saúde da Família.

“A ferramenta funciona através de um programa baseado em técnicas de inteligência computacional com uma série de perguntas sobre conhecimentos médicos; para cada resposta será conduzida uma nova pergunta, até chegar a uma resposta final, facilitando assim o diagnóstico”, explica Cristine. Essa resposta, alerta, não deve ser tomada como definitiva. “Ele apenas vai indicar caminhos”, diz a pesquisadora, PhD em Ciência da Computação.

Assim, o médico irá consultar a máquina como segunda opinião, para tirar dúvidas. A partir de informações fornecidas pelo profissional, ela deverá dar sugestões que poderiam passar despercebidas ou serem desconhecidas por ele.

Dessa forma, os médicos do Saúde da Família, em geral clínicos gerais, poderão acessar o InteliMED  diretamente no seu aparelho e obter informações de especialistas em áreas que ele não conhece profundamente. “A ideia é disponibilizar gratuitamente o software para aparelhos Samsung ou, de uma forma geral, para aparelhos compatíveis com a tecnologia Android”, afirma Cristine.

O InteliMED está sendo desenvolvido por duas equipes que trabalham em conjunto, formadas por estudantes e profissionais: uma de engenheiros, que cuida da parte técnica em informática; e outra de médicos especializados, que dá o suporte teórico em medicina. A Universidade de Pernambuco (UPE), através da Escola Politécnica (Poli) e a Faculdade de Ciências Médicas participam intensamente do processo de desenvolvimento desse sistema.

O financiamento para as pesquisas, no valor de R$ 300 mil, foi disponibilizado pela FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto, que foi iniciado em 2008, será concluído em dezembro deste ano. E as conversações visando a formalização de uma parceria com as instituições públicas de Saúde, especialmente as Equipes do Saúde da Família, poderão concretizadas já a partir de outubro.

CONFIRA A ARQUITETURA DO SISTEMA

 http://www.estouro.com.br/divulgacao/graficomed2.jpg


DEMANDA - O médico Elias Ferreira, que atende no Posto de Saúde da 5ª Etapa do bairro de Rio Doce, em Olinda, no Grande Recife, afirma que cerca de 80% até 90% das pessoas são atendidas nessas unidades de Saúde Básica, dentro do Programa Saúde da Família (PSF). Depois elas podem ser encaminhadas ou não para outros hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o gerente do projeto, Júlio Venâncio Jr., o InteliMED poderia diminuir a demanda desses pacientes para a rede pública hospitalar.  “Ele evita que o médico do PSF encaminhe o paciente para os hospitais quando o problema poderia ser resolvido na hora”, pontua. Com menos pessoas sendo enviadas desnecessariamente para hospitais, ele acredita que haveria uma redução das filas de espera e da ocupação desnecessária de leitos.

RESISTÊNCIA – Segundo Venâncio, no entanto, ainda existe certa desconfiança por parte de muitos médicos em relação a este tipo de tecnologia. É o caso do próprio Elias Ferreira, que ressaltou o perigo de que profissionais deixem de examinar o paciente para apenas confiar no programa. “Ele pode dar algumas informações, mas não substitui o conhecimento da medicina”, afirma Elias. Ao que Venâncio argumenta: “o sistema não pretende substituir o trabalho do médico, apenas ajudá-lo na decisão”.

*Participante do Curso de Divulgação Científica da UFPE

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