Da BBC, ontem à noite:
“Depois de uma semana inteira de negociações diárias sem resultados concretos, o presidente americano, Barack Obama, disse nesta sexta-feira que os congressistas precisam apresentar uma proposta sobre a dívida do país nas próximas “24 horas”.”Obviamente, nosso prazo está se esgotando”, afirmou Obama, em entrevista coletiva na Casa Branca. “Então, o que eu disse aos membros do Congresso foi: ‘Vocês precisam, nas próximas 24 ou 36 horas, me dar alguma ideia de qual é o seu plano para elevar o teto da dívida’”, disse o presidente.”
E na Reuters:
“Mostre-me um plano sobre o que está sendo feito em termos de redução de dívida e déficit. Se eles me mostrarem um plano sério, estou pronto para me mover, mesmo se isso for requerer decisões difíceis”, disse Obama.”
Francamente, chega a ser ridículo.
Como assim “me dêem alguma ideia”, “mostrem-me um plano”?
A discussão sobre se o equilíbrio fiscal – ou menos desequilíbrio, que é o possível - vai se fazer com corte de despesas sociais ou aumento de impostos é emergencial, não de médio e longo prazo.
Essa pertence às eleições.
E são elas que estão sendo jogadas nesta “queda de braço” entre Obama e os republicanos.
Dois terços dos americanos concordam em aumentar os impostos dos mais ricos (com renda superior a US$ 250 mil, ou R$ 400 mil anuais) e quase a mesma fração acha que as grandes corporações devem ter limitadas suas deduções fiscais.
Ao mesmo tempo, isso esbarra na solidez da ideia americana de que governar é reduzir impostos. E há uma maioria que entende que o essencial é cortar os gastos governamentais,
embora isso vá ser um desastre para a precária situação da economia americana, prasticamente estagnada e com alta taxa de desemprego.
É de olho nela que Obama pede “um plano”.
Quer que os republicanos digam de onde tirar o dinheiro, sem aumento de impostos. Quer que pronunciem, com todas as letras, que defendem cortes na saúde e na seguridade social e os apontem.
Obama pode estar levando os republicanos ao desgaste. Mas, ao mesmo tempo, consolida a visão de que é um governante fraco, que não constrói caminhos, não é referência e, portanto, revela-se incapaz de ser um líder.
Ele pode ser um político hábil e certamente o é, por ter chegado onde chegou.
Mas está a anos-luz de ser um Franklin Roosevelt – como cansou de pretender se mostrar – e conduzir os EUA ao um novo caminho e um novo papel no mundo e, com isso, o mundo a uma nova situação.
Não é capaz de se dirigir ao povo americano com as palavras com que aquele homem usou, em seu primeiro discurso a um país arrasado pela recessão, em 1933:
“Este é o momento de falar a verdade, toda a verdade, franca e corajosamente. Nem precisamos recuar diante enfrentandochonestamente as condições em nosso país hoje. Esta grande nação resistirá, pois tem sofrido, irá reviver e irá prosperar. (…)Nossa tarefa principal é dar trabalho às pessoas . Este não é um problema insolúvel, se o enfrentarmos com sabedoria e coragem. Pode ser realizado em parte através do recrutamento direto pelo próprio governo, tratando a tarefa como se trataria a emergência de uma guerra, mas ao mesmo tempo, através deste trabalho, realizando grandes – e muito necessários - projetos para estimular e reorganizar o uso dos nossos grandes recursos naturais”.
Lá, como aqui, valem o ensinamento dos versos de Camões:
(…)o Reino, de altivo e costumado
A senhores em tudo soberanos,
A rei não obedece, nem consente,
Que não for mais que todos excelente (…)
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente,
Que um fraco rei faz fraca a forte gente”
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