quinta-feira, 21 de julho de 2011

Os donos da opinião pública

O caso dos grampos promovidos pelos jornais de Rupert Murdoch está dando o que falar no mundo todo. Mas, como de hábito, não se discute o ponto mais essencial: qual a função dos jornais em uma sociedade como a nossa? Quais os seus limites? Que rumos deve tomar o trabalho jornalístico?

Há década, ouvimos que a mídia é o “Quarto Poder” e jornalistas adoram bater nessa tecla para exigir regalias. Acreditam que são os “donos da opinião pública” (sem ouvir ninguém, é claro) e isso justificaria qualquer meio para obter informações, independentemente da relevância delas. Que importância tem para mim, por exemplo, o fato de uma celebridade ter se separado ou se casado?

Muitos jornalistas acham que podem fazer de tudo, inclusive derrubar ministros. Lembro de uma vez em que os editores executivos de um jornal onde trabalhei discutiam para chegar à conclusão de que o presidente teria motivos para substituir um ministro já que a economia não andava bem das pernas, como era de praxe naquela época. Resultado: a manchete dizia que o ministro estava frito. Só que esse ministro continuou lá por um bom tempo.

Aliás, os coleguinhas (que é como os jornalistas se chamam entre si) frequentemente não se dão conta de que sua atuação pode mudar a realidade. Soube de um episódio em que um jornalista obteve de uma fonte a informação, correta, de que detrminada empresa iria lançar ações. Ligou para o responsável, que explicou que as normas de mercado o proibiam de comentar tal assunto antes do anúncio oficial do lançamento. O jornalista publicou a informação e a oferta de ações teve de ser suspensa, tal o alvoroço que a notícia provocou no mercado.

Os exemplos são inúmeros e talvez desse até para escrever um livro com eles. Mas o interessante é que poucos lembram que o jornalismo é um serviço de utilidade pública.e deveria ser exercido de acordo com esse princípio. É importante para o cidadão saber o que seus governantes fazem, de bom ou de mau. Mas alguns acham que só é notícia o que se faz de mau. O cidadão também precisa de uma série de outras informações para exercer sua cidadania plenamente e participar do mundo em que vive, mas essas estão relegadas a segundo plano (quando não ao limbo) na mídia atual. O caso do império Murdoch é consequência disso. Perdeu-se o rumo do jornalismo e o noticiário foi para o esgoto.

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