O embate final da acirrada disputa diplomática travada nos últimos meses entre palestinos e israelenses tem data e local marcados: setembro, na sede das Nações Unidas, em Nova York.
É quando deverá ser avaliado o pedido para que a Palestina seja aceita como membro da ONU. Embora seu efeito seja mais simbólico do que prático, o gesto deflagrou uma guerra de lobbies que provavelmente durará até o último minuto.
Nas próximas semanas, três ministros israelenses estarão em países da América Latina com a missão de convencer os governos a não apoiar a ambição palestina.
Ao menos um deles, o ministro das Finanças, Yuval Steinitz, passará pelo Brasil. O objetivo do governo israelense é alertar que a iniciativa palestina pode significar o fim das negociações de paz.
Os palestinos também espalham seus enviados pelo mundo em busca de apoio. Nas últimas semanas o foco foi a Ásia e Oceania, onde países importantes como Japão e Austrália não reconheceram o Estado palestino.
Ao mesmo tempo, altas autoridades palestinas em Ramallah fazem uma ofensiva de relações públicas, em conversas semanais com jornalistas. Já que 18 anos de negociações não resultaram num Estado palestino, afirmam, o jeito é apelar à ONU.
"É uma mudança de estratégia", explica Mohammad Shtayyeh, um dos principais negociadores palestinos. "Tínhamos grandes esperanças para esse processo de paz, mas ele não alcançou o objetivo principal, que é acabar a ocupação israelense".
Com a negociação com Israel virtualmente parada desde fins de 2008, os palestinos há tempos balançam a carta da declaração unilateral de independência como ameaça para aumentar a pressão sobre Israel.
Essa já foi uma manobra usada no passado, com resultado prático quase nulo.
Em 1988, num tempo que não tinha nenhum controle sobre o território, a OLP (Organização para Libertação da Palestina), proclamou na Argélia a independência do Estado palestino, sem fazer menção a fronteiras.
A principal diferença na nova estratégia é que ela se fixa em fronteiras definidas, as linhas de 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza.
É esse o território em que os palestinos pretendem fundar o seu Estado, tendo Jerusalém Oriental como capital. Caberá à ONU decidir se aceita como membro um Estado que não saiu do papel.
Israel repudia o plano, alegando que o ato "unilateral" contraria os acordos de paz assinados com os palestinos e cria o risco de uma nova onda de violência nos territórios ocupados.
"Não vamos unilateralmente declarar nossa independência. Isso já fizemos, em 1988", rebate Saeb Erekat, há anos o principal negociador palestino. "Não queremos confrontar ninguém, apenas exercer um direito nosso".
Erekat reconhece que a ambição de obter o status de membro pleno da ONU é improvável. Afinal, o pedido terá que ser aprovado no Conselho de Segurança da ONU, onde os EUA já adiantaram que usarão seu poder de veto para barrar a iniciativa.
Há ainda o risco financeiro. O Congresso americano ameaçou cortar a ajuda à ANP (Autoridade Nacional Palestina), que representa um quarto do orçamento.
O plano B é recorrer à Assembléia Geral, onde os palestinos não devem ter dificuldade para ganhar os votos de 2/3 dos 193 membros, o necessário para elevar seu status de observador para "Estado não-membro", o mesmo do Vaticano.
Não é o mesmo que membro pleno, mas daria aos palestinos o direito de fazer parte de todas as agências da ONU, aumentando consideravelmente o alcance de sua diplomacia.
Israel conta com o veto americano, mas busca esvaziar ao máximo a provável vitória palestina na Assembléia Geral. Além dos EUA, Israel diz contar com o apoio de países importantes da União Européia, como Holanda, Itália e Alemanha.
A diplomacia israelense pede que os países examinem o pedido palestino antes de tomar uma posição. Por isso, causou irritação a recente declaração do chanceler Antonio Patriota ao "Estado de S. Paulo" que o Brasil deve apoiar a moção palestina em setembro.
"É um absurdo", reagiu o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor. "Apoiar um texto que ainda não é conhecido deixa claro que é um ato político, diz Palmor.
Com exceção da Colômbia, toda a América do Sul reconheceu o Estado palestino nos últimos meses, um movimento desencadeado pelo governo Lula.
Para Palmor, mesmo sem ter efeitos práticos, a ação na ONU aumentará as expectativas entre os palestinos poderá gerar violência.
O temor é compartilhado por boa parte dos israelenses: segundo pesquisa de opinião, 52% acreditam que a ação na ONU poderá deflagrar uma terceira intifada (revolta palestina).
Do lado palestino, contudo, as pesquisas não indicam um furacão no horizonte: só 4% consideram a ida à ONU uma prioridade, enquanto que 80% apontaram algo bem mais prosaico: a criação de empregos.
E mais: somente 1% disse que protestos em massa contra Israel podem ter alguma importância.
Segundo a edição desta segunda-feira do jornal "Haaretz", o governo israelense nomeou uma equipe para formular possíveis respostas à iniciativa palestina na ONU. Uma das opções é o cancelamento dos Acordos de Oslo, que deu origem à Autoridade Nacional Palestina. Ainda não está claro se é uma opção viável.
Fonte: Folha.com
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