*Por Marcus Yabe
Depois dos fracassos históricos do Buzz e do Wave, o Google perdeu o terreno do Orkut para o Facebook. Para reverter essa história, lançou no último mês o Google+.
“Gigante pela própria natureza”, o Google nem sempre acerta quando o assunto é lançar uma rede social. Mas para essa nova empreitada, o pessoal do Mountain View mergulhou em uma aula de antropologia cultural e psicologia do relacionamento gerando uma plataforma sofisticada que poderá ser sucesso em outros países.
É provável que o brasileiro não se acostume com o conceito usado na construção de suas redes de relacionamentos virtuais, pois o costume nacional é a angariação do maior número de pessoas, mesmo que não haja interação. Faz parte da etiqueta brasileira a disputa pelo maior número de seguidores, fãs e amigos.
O Google+ propõe algo diferente. A própria justificativa no site da rede é intelectualizada e foge do padrão de outras redes sociais. É visível a ideia de criar um ambiente onde as relações humanas do mundo offline sejam reproduzidas com particular similaridade no mundo virtual. O Google precisa ter sucesso com uma plataforma que forneça – como o Facebook – um mapa com diversos padrões de comportamento e relações interpessoais para avançar o seu sistema de publicidade, tornando-o mais assertivo e segmentado.
Por mais sofisticado que seja o discurso de lançamento da rede, a empresa repetiu um comportamento já vistos nos lançamentos do Wave, do Buzz, do Latitude e de outras ferramentas.
O imediatismo move a internet. Hoje, a plataforma é restrita a convites, somente no próximo dia 31 de julho todos terão acesso. A questão que surge é: como uma empresa do tamanho do Google não consegue lançar uma plataforma para utilização imediata? No lançamento do Wave, a empresa optou por deixar a rede de forma restrita por um longo tempo. Atitude que não deu muito resultado. Quando todos puderam acessá-la, já não havia mais interesse, além de não conseguirem entender o seu funcionamento.
Em redes sociais, a plataforma é de quem usa e não de quem a criou. Sites especializados trazem queixas de usuários que tiveram seus perfis apagados por utilizarem pseudônimos. O Google responde que se trata de uma exigência, pois a ideia de perfil está atrelada ao conceito de página pública, facilitando pessoas a se conectarem e encontrarem uns aos outros como no mundo real.
Olhando para o passado das mídias sociais, sabemos o quanto custa para as empresas uma atitude que pareça “intransigente”. O que ainda não entenderam é que os usuários são os reais modeladores de uma rede social, basta ver a banalização do “curtir” e a busca desenfreada por seguidores nas plataformas rivais.
Mas tudo isso não quer dizer nada, se o Google liberar os desenvolvedores de todo o mundo para criarem aplicativos compatíveis com a plataforma. O Google+ provavelmente alcançará o sucesso quando for uma plataforma aberta, pois são as temáticas específicas de cada aplicativo, que ajudam o seu rival, Facebook, na dinâmica com os usuários, das quais refletem o momento de cada grupo ou até mesmo o momento de um país. Hoje, o Facebook não tem mais domínio da sua membrana temática. Ele é o que os usuários desejam nele acrescentar e representar.
Tecnologicamente, a plataforma é composta de atrativos similares aos de suas concorrentes, mas para segurar os usuários entretidos, terão que acompanhar a dinâmica da rede construída pelos usuários. Por isso, especula-se que em breve, o Google+ contará com um sistema de jogos.
Devagar, com visual mal acabado e apresentando um baixo volume de conteúdo divulgado, a nova plataforma do Google lembra uma balada que abriu sem terminar as obras para tentar marcar terreno. Talvez em breve, as pessoas vão se divertir e deixarão de dançar em seus quadrados para se acabarem em círculos.
* Marcus Yabe é especialista em mídias sociais e coordenador de inteligência da MITI Inteligência, empresa de soluções em inteligência de mercado. www.miti.com.br.
Fonte: Novae
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