Por Rodolpho Motta Lima
O repúdio à corrupção não é, nem poderia ser, um privilégio moral de um determinado segmento da sociedade. Esse processo - que envolve corruptores quase sempre convenientemente esquecidos e corruptos devidamente expostos - deve merecer a rejeição de todos os cidadãos conscientes de que o espaço social não existe para que fraudadores se beneficiem dos recursos gerados pelo povo e geridos contra o povo.
O repúdio à corrupção não é, nem poderia ser, um privilégio moral de um determinado segmento da sociedade. Esse processo - que envolve corruptores quase sempre convenientemente esquecidos e corruptos devidamente expostos - deve merecer a rejeição de todos os cidadãos conscientes de que o espaço social não existe para que fraudadores se beneficiem dos recursos gerados pelo povo e geridos contra o povo.
Doença crônica em sociedades como a nossa, o processo de corrupção não goza de exclusividade nesse ou naquele grupo partidário. Uma pessoa bem intencionada e informada sabe disso: os que hoje acusam ou denunciam setores governamentais como corruptos ontem incorreram na mesma prática. Talvez haja realmente, agora, entre os brasileiros, uma reação de maior intensidade, seja pelo crescente e efetivo desempenho da Polícia Federal - nunca tão ativa em tempos passados -, seja pelo propósito de alguns setores de desqualificar o governo Dilma e inviabilizá-lo.
A corrupção tem que ser combatida, sim, e de todas as formas, em uma sociedade em que o chamado “jeitinho” aparece como característica do “homem cordial” brasileiro, e na qual predomina – praga contemporânea no mundo inteiro – uma postura que alguém já mencionou como de “multiplicação de bens e diminuição de valores”, e que elege como razões de viver o sucesso, o prestígio, o status e a fortuna, independentemente dos meios pelos quais isso se obtenha.
Se a denúncia de atos fraudulentos tem motivações várias, sempre é bom saber distinguir as fontes, analisar-lhes os objetivos. Sem esquecer os notórios fatos que envolveram, no governo Lula, figuras do PT (e que estão sendo objeto do competente julgamento), não sejamos hipócritas: é risível verificar, nos meios políticos de hoje, um partido como o DEM (do Arruda) posando de bastião da moralidade, ou os tucanos do PSDB (o da compra de votos para a reeleição presidencial ou do mensalão mineiro) atirando suas pedras e, com o apoio da grande mídia que fala sozinha neste país, tentando “colar” o rótulo da corrupção, de forma indiscriminada, em todo o universo governamental.
E mais: o processo fraudador não está apenas na ambiência dos organismos públicos. Estou escrevendo este texto quando ouço que a PF desbaratou uma quadrilha de empresários (cerca de 300) responsáveis por sonegações que chegam a um bilhão de reais. Deve ser mais um exemplo da eficiência da iniciativa particular...
Feita essas ressalvas, julgo que é preciso dizer, com todas as letras, que o projeto de inclusão social e de redução das desigualdades - implementado por Lula, com aprovação que valeu a eleição da presidenta Dilma – corre sério risco de ser desarticulado se não se levarem a cabo duras medidas contra as ações de corrupção. Os setores interessados em boicotar ou neutralizar a ascensão dos excluídos – e entre eles, a hegemônica mídia (de)formadora de opinião que praticamente se omitiu, antes, diante de fatos similares ocorridos em governos de outro matiz ideológico - sabem que só contam com o argumento da moralização das práticas de governo e do uso do dinheiro público para sensibilizar, no sentido do retrocesso, os cidadãos brasileiros que vêm apoiando esse projeto social. Um retrocesso que, sabemos todos, traria de volta o neoliberalismo e a elitização rejeitados nas três últimas eleições presidenciais.
A presidenta Dilma – em cujos sinceros propósitos acredito - deve, sim, claramente, posicionar-se no sentido de extirpar os focos de corrupção. Não cabe qualquer tipo de “blindagem” ou omissão nocivas à cidadania. O procedimento deve ser feito onde houver razões que o justifiquem, nessa malfadada “base” governamental que abriga, em autêntico “saco de gatos”, políticos de moralidade para lá de duvidosa, muitos deles, aliás, que sustentaram outros governos de outros atores políticos, hoje na oposição.
Aqui, um grande problema. Como fazer isso sem afetar a “governabilidade” necessária ao combate à miséria, aquilo que a própria Dilma chamou de “verdadeira faxina”? A imprensa noticia – com indisfarçada satisfação – que há um segmento de “aliados” do governo, à frente o PMDB, que, descontentes com cortes no orçamento e demissões por corrupção, ameaçam boicotar os projetos da Presidenta.
Para mim, não há solução que dispense a transparência. Dilma não pode admitir o contágio, tem que repudiar a chantagem, denunciando-a claramente junto ao povo. E dando nome aos bois. Mas, para isso, não precisa e não deve se aproximar dos hipócritas da oposição. A partir de sua firmeza, o próprio povo saberá fazer o resto, expurgando, nas ruas e nas urnas, quando chegar a hora, essa turma de aproveitadores.
Os males do Brasil não desaparecerão, em um passe de mágica, com o extirpar da corrupção. Seria até fácil se ela fosse, como nos querem fazer crer, a causa de todos os nossos problemas, que passam, isso sim, pelos acintosos índices de desigualdade social. Acredito que temos um governo disposto a nos fazer crescer com dignidade, mas, sob pena de perdermos o bonde da história, impõe-se, neste momento, uma depuração.
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