Na segunda parte da entrevista concedida a CartaCapital, a primeira a uma revista brasileira, Dilma Rousseff aprofunda o debate sobre a crise financeira mundial, fala das relações com a China e diz estar satisfeita no cargo. “Sou alegre, não sou deprimida.”
Foto: Sérgio Amaral |
Dilma Rousseff: Acho a situação nos Estados Unidos um exemplo a não ser seguido. Essa discussão sobre o aumento do teto da dívida deu-se em uma disputa absolutamente paroquial, que compromete o papel do país no mundo. Como uma economia que tem a moeda reserva de valor, que tem responsabilidades perante o mundo, não pode fazer política fiscal de recuperação da sua economia? O que sobrou para eles: inundar o planeta de dólares, transferir parte de seu ajuste para os mercados emergentes. Isso não vai levar a boa coisa. Achei que, a partir do G-20, haveria outro tipo de acerto, de cooperação. Mas hoje o papel de cada um não está adequado às necessidades. Existe todo um aparato institucional, o próprio G-20, o fórum dos ministros… Todo mundo aprendeu o que deve fazer. O nosso Banco Central, por exemplo, está cheio de instrumentos para analisar e agir. Mas de que adianta tudo, esse saber, a experiência, se em uma questão tão paroquial os dirigentes da maior economia do mundo fazem o que fizeram? Se uma agência de classificação de risco tem a mesma inconsequência do Tea Party?
CC: Desde o pós-Guerra muitos advertiram para o risco de a moeda reserva ser administrada por um único país.
DR: Temos todo o direito de nos preocupar, pois chegamos aos 350 bilhões de dólares em reservas e somos hoje o quarto maior credor dos Estados Unidos. Não dá para ficar tranquilo diante de uma política totalmente inconsequente. Lembro perfeitamente de suas aulas, Belluzzo, sobre a necessidade de uma moeda global chamada Bancor. Mas essa possibilidade não está desenhada no momento. No cenário internacional, não se pode prescindir dos Estados Unidos e da Europa. São elementos fundamentais no cenário. Por isso precisamos de uma solução para a crise deles, para que o resto do mundo escape. Há, de qualquer forma, outra perspectiva: os emergentes correm por fora, naquilo que podem, pois, nem somos uma ilha nem estamos completamente imunes. Temos de perceber, porém, que é necessário tocar a vida. O que seria correr por fora? Temos de continuar a crescer, tornar nosso mercado interno cada vez mais sólido, continuar em busca de informação e de parcerias.*
*Leia a íntegra da entrevista na edição 660 de CartaCapital, nas bancas nesta sexta-feira 19
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