Maurício Dias - Carta Capital
Ao subir a rampa interna do Palácio do Planalto na chegada ao trabalho na terça-feira 16, a presidenta Dilma Rousseff respondeu à pergunta se o combate à corrupção era o maior desafio do governo. Ela não vacilou. Deu à velha pergunta uma velha resposta: “O grande desafio deste país é desenvolver e distribuir renda”.
Sobre o combate à corrupção ela deixou o tema, como das outras vezes, à margem da resposta: “São ossos do ofício”.
Há razões de ordem filosófica contra as cruzadas moralistas que sempre têm o sabor de engodo. Relembre-se Jânio Quadros. Isso porque, como é sabido, nenhum sistema de normas suporta o conhecimento de todas as violações que sofre.
Para quem está no poder há também problemas práticos como o que me foi apontado, certa vez, pelo general Golbery do Couto e Silva. Ele estava no Rio de Janeiro, após deixar a chefia da Casa Civil no governo Figueiredo, na sequên-cia da bomba do Riocentro, o mais dramático episódio político no ocaso da ditadura.
Foi a segunda e última vez que estive com ele. Naquele momento, Golbery relançava o livro Planejamento Estratégico. Era março de 1982, conforme registra a arguta dedicatória feita por ele no exemplar que me ofereceu. A mesma argúcia, por sinal, usada para responder à pergunta que fiz apoiada na versão que prevalece até hoje, segundo a qual ele teria saído por exigir a punição dos autores do atentado.
“Você me considera burro?”, perguntou com a voz macia.
“De jeito nenhum”, respondi meio perturbado.
“Você sabe de onde partiu a ordem para o atentado?”, insinuou.
“Penso que sim…”
E antes que eu fizesse qualquer referência explícita, ele me atalhou e perguntou: “Era possível apurar e punir?”
“Claro que não”, foi a resposta automática.
Golbery, na versão de Golbery, deixou o governo não porque queria apurar, mas, sim, porque queria aproveitar o enfraquecimento dos organismos de repressão da ditadura e desarticulá–los- de vez. Àquela altura, quase um ano após o atentado, já se falava que a ordem teria partido de um dos gabinetes próximos ao núcleo do poder.
Violência e corrupção são razões bem distintas. Mas essa história mostra que nem tudo é possível no ambiente político do poder. Principalmente quando se trata de punir aliados.
Dilma foi eleita nesse ambiente político. Reagiu a ele e paga o preço pela faxina que fez no Ministério dos Transportes/Dnit, controlado pelo Partido da República. Na terça-feira 16, o senador Alfredo Nascimento, presidente do PR, defenestrado do Ministério dos Transportes, anunciou a retirada do partido da base governista.
Além de agir em causa própria, Nascimento reagiu às 30 demissões nos Transportes que atingiram em cheio o PR. Em tese, saíram 41 deputados e 6 senadores da base de apoio a Dilma. Em termos absolutos, é muita gente. Porcentualmente, não preocupa tanto: quase 10% de parlamentares na Câmara e menos de 8% no Senado. A expressão numérica da base governista, já sem o PR, ainda impressiona: 360 deputados e 46 senadores. Mas números absolutos nem sempre governam o mundo político.
Embora a baixa dificulte, não inviabiliza as ações do governo. No Senado, entretanto, pode favorecer a criação da CPI da Corrupção que a oposição tanto busca.
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