segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Estadão" fere a presidenta Dilma com a espada do Exército

A foto da presidenta Dilma a ser ferida é mais do que simbólica. É um desejo.

Quando eu escrevi o artigo O Partido da Imprensa, texto que faz um raio-x da imprensa hegemônica e privada, que está publicado no Palavra Livre, a grande maioria das pessoas concordaram; outras, porém, consideraram o texto à esquerda do espectro ideológico, o que me levou a pensar que esses leitores são conservadores e, portanto, refratários às questões que ofereci ao público para debater e fazer das informações uma oportunidade de conhecimento como a imprensa comercial age, atua e desenvolve seus trabalhos em prol de seus interesses comerciais, financeiros, ideológicos e partidários.

A imprensa não é livre e nem imparcial. Ela tem lado, bem como ideologia e preferências políticas e sociais, no que tange, por exemplo, à defesa do status quo das classes privilegiadas, geralmente compostas por empresários e pelos seus homens e mulheres de confiança, que são executivos que compõem as classes rica e média alta. A imprensa privada também tem lado político e partidário. A ser assim, ela apóia os candidatos e políticos de direita, bem como faz política, ao ponto de apoiar governantes e executivos públicos que tratam de seus interesses com acuidade e uma certa vassalagem, geralmente alicerçada no medo, na pusilanimidade ou simplesmente por esse agente público ser também conservador.

Contudo, o que eu quero dizer é que a imprensa brasileira comercial e privada — uma das piores e mais reacionárias do mundo — não mede conseqüência e “peita” qualquer autoridade eleita pela vontade do povo e instituição pública se essa autoridade ou instituição não se pautar por sua cantilena, arenga ou ladainha. Para isso, ou seja, para ter seus interesses e sua prepotência e arrogância atendidos, a imprensa não se furta a manipular as matérias, a não ouvir o lado atingido por ela (age assim sempre) e até mesmo simplesmente mentir, sem nenhum problema e preocupação profissional, no que concerne a realizar um bom jornalismo, democrático e justo. Só que a imprensa é comercial e quem disputa publicidade, recursos orçamentários e favores políticos, esquece, irremediavelmente, o jornalismo que, por causa disso tudo, transforma-se em gangsterismo.

É o que acontece. É a mais verdadeira realidade. E é por causa disso tudo que o nome deste artigo publicado nesta democrática tribuna é O Estadão mata a presidenta Dilma com a espada do Exército. E foi que os reacionários, que apoiram o Golpe Civil-Militar de 1964 fizeram. Freud explica! Basta o leitor ver a foto e pensar no que levou os editores do direitista jornalão paulista a cometer tal ignomínia, indescritível insensatez, além de uma provocação pérfida, desumana, porque a presidenta Dilma Rousseff foi torturada em sua alma e espírito, em sua carne pelos verdugos da ditadura militar.

Nada, contudo, que me surpreenda. Conheço a imprensa por dentro e por fora há 30 anos. É assim mesmo que a banda toca nas redações. Vou exemplificar. Quando o grande brasileiro nacionalista Celso Amorim assumiu a pasta da Defesa, as redações das Organizações(?) Globo em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo definiram que iriam à caça do insigne chanceler. O assunto vazou e os próceres, os capitães-do-mato da imprensa privada (privada nos dois sentidos, tá?) e os condestáveis barões de imprensa e de mídias recuaram, mas ficaram furiosos, a fim de morder a jugular do jornalista ou executivo que vazou tal infâmia. Mas como apontá-lo? Não tem como.

Todavia, o recuo é somente por enquanto, porque eles são Ideológicos e odeiam o homem que efetivou no Itamaraty uma política externa independente e soberana para o Brasil em vez de uma política de punhos-de-renda como a do Celso Lafer, chanceler de FHC que tirou os sapatos no aeroporto de Nova Iorque para um agente estadunidense subalterno. É assim a nossa elite. Prepotente com os mais fracos, mas vassala e sem vergonha na cara quando se trata de lamber as botas das autoridades dos países ricos, que na são mais ricos como antes da crise de 2008, que derreteu o fracassado sistema neoliberal.

É uma imprensa tão anti Brasil que torce contra o País e rema contra a maré, ao ponto de querer que nossa política externa seja dependente, subalterna e colonizada aos interesses internacionais, como a que foi imposta ao nosso País pelo presidente neoliberal e vendilhão da pátria, Fernando Henrique Cardoso. O complexo de vira-lata de nossa elite branca, racista e preconceituosa em âmbito social é imenso, inenarrável. Só que a imprensa privada não tem voto, como ficou demonstrado nas últimas eleições, em 2010, apesar da traição da senhora Marina Silva, tucana que se veste de verde e que tem o coração vermelho do PPS, partido pequeno e desmoralizado, porque se transformou em um apêndice não do PSDB, mas dos tucanos paulistas. Não é à toa que o senhor Roberto Freire, pernambucano, hoje é político por São Paulo.

A verdade é que a imprensa tucana não quer o Brasil de Lula, de Dilma, de Getúlio e Jango. Ela não quer o Brasil de Celso Amorim, que agora ajuda a presidenta a administrar o nosso País muito melhor que o Brasil dos neoliberais tucanos, que governaram somente para os ricos e venderam o patrimônio público brasileiro que eles não construíram, na maior desfaçatez e irresponsabilidade com o povo trabalhador brasileiro. A imprensa burguesa, os tucanos paulistas e em geral e parte do empresariado atrasado é um triunvirato perigosíssimo, por ser golpista, por fomentar discórdia e fazer da política brasileira um texto novelesco de péssima qualidade.

Porém, voltemos à protagonista deste texto, a presidenta trabalhista Dilma Rousseff. O Estadão, ex-jornal conservador da família Mesquita (eles não são mais os acionistas majoritários), publicou ontem (21), na página A-7, em sua edição impressa, foto da presidenta que dá a impressão de ela ser trespassada por uma espada de um cadete do Exército, em cerimônia realizada na Academia das Agulhas Negras em Resende, no Rio de Janeiro. A foto, mais do que demonstrar que o fotógrafo foi feliz ou que o editor do jornalão teve um momento genial, simboliza, mais do que simboliza, sedimenta o desprezo, o ódio, a insatisfação que a imprensa comercial e privada e seus donos sentem pelos políticos que não rezam pela cartilha desses empresários de passado e histórico golpista.

A foto demonstra, indubitavelmente, a vontade que essa gente tem de golpear uma presidenta constitucional, de formação socialista e trabalhista, digna e eleita pelas urnas. É a direita mais atrasada do Brasil e com um poder enorme, ao ponto de publicar leviandades perpetradas por causa de seus interesses econômicos que, na maioria das vezes, não coadunam com a vontade e os interesses da nação brasileira. Eles conhecem mais a Europa e os Estados Unidos que o Brasil. Desprezam o Brasil e seu povo, mas não abrem mão de ganhar muito dinheiro neste País, com empregados, evidentemente, brasileiros.

A foto de Dilma trespassada por uma espada de militar é o fim da picada. A imprensa hegemônica e privada (privada nos dois sentidos, tá?) do Brasil é golpista e por isso considero que a presidenta Dilma Rousseff crie logo uma Ley de Medios, como ocorreu na Argentina e em outros países, inclusive os desenvolvidos, que têm marco regulatório para o setor de comunicação e de mídias diversas. Não se brinca com uma imprensa potencialmente contrária aos interesses do País. Governos trabalhistas não podem tergiversar com assunto tão importante para o futuro da nossa democracia e das instituições republicanas. A história do Brasil está repleta de golpes e crises e até mesmo mortes, por causa de uma elite econômica perversa e de uma imprensa que é a sua porta-voz. A foto da presidenta Dilma a ser ferida é mais do que simbólica. É um desejo.


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