quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Onde estão os “nobres defensores” do estado democrático de direito?

Por LEN

Foi revelado nos últimos dias, através de pesquisa de documentos secretos disponibilizados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, que o extinto Departamento de Comunicação Social da Polícia Civil daquele estado manteve, até 1999, um aparato ilegal de espionagem contra os opositores das forças políticas que comandavam o estado. Os alvos da arapongagem custeada com o dinheiro público foram entre outros, Lula e petistas como Marta Suplicy e Antônio Palocci, partidos de oposição, em especial o PT e diversos movimentos sociais.

A prática do atentado contra a democracia se iniciou em 1983, com o país vivendo sob regime militar e o estado sendo governado por Franco Montoro. Os militares deixaram o poder, mas as suas práticas totalitárias permearam governos que se afirmavam democratas. Quando o PSDB entrou no governo de São Paulo em 1995, o esperado era que ao identificarem a ilegalidade desativassem o local e denunciassem seus antecessores, mas os tucanos não apenas se calaram como utilizaram a estrutura criminosa contra seus opositores. Apenas, por conveniência, cessaram a partir daquele ano, as referências ao próprio PSDB, PFL (DEM) e PPS.

Segundo informado pelo portal IG, além de manter dossiês contra seus principais opositores, a “CIA” tucana infiltrava agentes disfarçados em eventos do PT para produzir informação para favorecer o então candidato à reeleição, favorecido pelo golpe de FHC em 97 quando comprou deputados para mudar regras do jogo em andamento, Governador Mário Covas, que na época corria o risco de nem passar para o segundo turno, estava em terceiro, atrás de Maluf e Marta, mas acabou ultrapassando Marta por pequena diferença de votos.

A velha mídia se limitou a burocraticamente reproduzir o que foi revelado sem nenhum interesse em repercutir e cobrar dos representantes do PSDB explicações pela conduta criminosa. Não foram acionados, portanto, os articulistas de plantão para manter o assunto em pauta, acusando os partidos de conduta incompatível com a democracia, nem tampouco foram ouvidos juristas e ministros do STF pela defesa do estado democrático de direito.

Quando muita gente esperava que, enfim, o PT colocaria a boca no mundo, pedindo explicações públicas do PSDB e cobrando coerência da imprensa, eis que se faz um silêncio ensurdecedor. Coube à militância nas redes sociais e blogueiros independentes fazer algum barulho para que o fato não passasse totalmente despercebido.

Imaginem senhores e senhoras, se fosse o inverso, o governo Lula espionando tucanos. Lula seria queimado em praça pública com direito a no mínimo seis meses de massificação do assunto, martelado diariamente em rodízio pelos veículos de comunicação, e classificado como crime hediondo contra a democracia.

Infelizmente, tenho que ser realista para reconhecer que contando apenas com as redes sociais e blogs ainda não é possível pautar a imprensa, impedindo que os grandes veículos se calem sobre esse escândalo ocorrido em pleno vigor da constituição de 1988, por um partido que se julga democrático. Sem uma reação firme das instituições atingidas, vai para a lata de lixo da história mais um crime cometido por tucanos, como tantos outros.

Procurei por notas oficiais, discursos em plenário, entrevistas na imprensa, sites institucionais e nada. Há uma preocupante acomodação de quem virou vidraça e não sabe mais ser pedra. O sistema para abafar qualquer notícia que cause algum tipo de desgaste ao grupo político aliado da mídia segue de vento em popa, com céu de brigadeiro.

O caso é equivalente ao que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon, e, embora não se possa pedir o impeachment do falecido Covas, o PSDB enquanto partido deve explicações à sociedade pelo “Watergate tucano” que não foram cobradas pela imprensa chapa branca. Além do mais, podemos imaginar que além de Covas, o próprio FHC pode ter se beneficiado de informações obtidas de forma criminosa contra Lula, nas eleições de 1998.

Cabe a nós cobrar de nossos representantes uma reação efetiva em cima do acontecido, para ver se acordamos brios adormecidos. É frustrante perceber que mais uma vez vamos presenciar algo grave ser ocultado do grande público por partidarização da mídia aliada a incompetência de reação dos atingidos.

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