Surgiram boatos de que o ex-ministro José Dirceu estaria temendo que Dilma não consiga terminar seu mandato por conta dos erros políticos “primários” que estaria cometendo. A base aliada no Congresso ameaça não votar matérias cruciais para a governabilidade em um momento em que a crise internacional bate à porta. E, como se não bastasse, pesquisas de opinião revelam crescente redução da aprovação ao governo.
Dilma começou seu mandato com uma base política sólida, motivada, com um apoio popular imenso e com uma militância disposta a partir para cima da oposição e da mídia para enfrentar as velhas estratégias que foram inutilmente usadas contra o governo Lula e que era previsível que continuariam a ser usadas. Aos poucos, porém, tudo foi se desfazendo – militância, base aliada e aprovação do novo governo.
Como se chegou a isso já foi objeto de reflexão deste blog. Agora há que apresentar propostas.
Em primeiro lugar, a população quer respostas. Quer saber o que Dilma pensa da onda de matérias na grande imprensa dando conta da existência de uma imensa rede de corrupção em seu governo. Em segundo lugar, aqueles que se acostumaram, durante a era Lula, a dar de ombros para as incessantes denúncias e ataques da mídia ao ex-presidente, agora esperavam que, como o antecessor, Dilma desse a versão dela.
Crise econômica internacional, críticas da imprensa a Lula na forma de existência de uma “herança maldita” que ele teria deixado para a sucessora, quedas sucessivas de ministros recém-nomeados pela presidente, escândalos infindáveis de corrupção tomando tevê, rádio, portais de internet, revistas, jornais…
Ora, se tudo isso existe no governo Dilma – e se ela não dá outra versão da história –, nem com um ou outro colunista da grande imprensa dizendo que a presidente estaria promovendo “faxina” é possível mitigar o fato de que os responsáveis pelo que há de bom e de ruim neste governo são ela mesma e o seu padrinho político. A menos que a líder política da nação use de sua prerrogativa de se manifestar e ser ouvida para dar a sua versão dos fatos.
O grande problema da presidente Dilma Rousseff, portanto, é um só: ela não fala. Enquanto que, a cada dia do período mais conturbado de seu governo (após 2005), o ex-presidente Lula usou à exaustão a sua prerrogativa de se dirigir ao país nos eventos de que participava ou por meio de convocação de rede nacional de rádio e televisão, Dilma tem silenciado sobre todas as questões.
No final de 2008, enquanto uma crise econômica internacional muito mais grave e previsível do que a que ora se desenha despontava no horizonte e a mídia alardeava que o fim do mundo estava chegando, Lula fazia discursos em que dizia que tal crise, no Brasil, seria “marolinha”. E ainda tripudiava sobre os “loiros de olhos azuis” que sempre quiseram nos ensinar o que fazer com as nossas crises e que, agora, não sabiam o que fazer com a deles.
Quando a crise internacional explodiu, em setembro de 2008, Lula tinha 64% de bom e ótimo na pesquisa Datafolha; em dezembro, sua popularidade real (constituída dos conceitos bom e ótimo) foi a 70% na série histórica do mesmo instituto, apesar de um bombardeio da mídia imenso que assustou até o empresariado, que, a partir dali, passou a demitir em larga escala, tendo o país perdido, ao final daquele ano, cerca de 800 mil postos de trabalho.
Com um aparente desmonte da tese sobre a “marolinha”, a mídia e a oposição se fartaram. No horário eleitoral dos partidos de oposição ou no Jornal Nacional, a tese de que a crise não nos atingiria com força foi ridicularizada de uma forma arrasadora. Lula, porém, continuou falando. No final de 2008, foi à tevê e pediu confiança aos brasileiros para que continuassem consumindo de forma que a “roda da economia” não parasse de girar. Confira, abaixo, o pronunciamento do ex-presidente
Mesmo com aquele ataque imenso e incessante sobre si e com os fatos aparentemente colaborando com seus críticos, Lula sofreu em março de 2008, no mesmo Datafolha, uma queda dos conceitos de bom e ótimo de apenas 5 pontos percentuais. Agora, sem motivo nenhum, sem perda de postos de trabalho, com o emprego batendo recordes, com a economia ainda bombando, com uma crise incerta que ainda não se materializou por aqui, podendo até refluir, Dilma perdeu 8 pontos.
A mídia, desta vez, trata Dilma a pão-de-ló, não faz alarmismo, a crise é menos grave, a base aliada do governo no Congresso é muito maior e, assim mesmo, Dilma vai se enfraquecendo. Isso acontece porque não exerce a sua liderança. O povo quer ouvir o seu líder político. Quer saber para onde vamos. E quer respostas às acusações contra esse líder. O povo quer ser liderado e ninguém vê liderança em um líder mudo.
Para retomar seu governo, para impedir que uma possibilidade imensa de mudar para sempre o Brasil seja desperdiçada, a presidente Dilma precisa reagir. Não pode achar que fustigando e ignorando aliados e acariciando adversários irá governar em céu de brigadeiro até 2014. E mesmo que após o seu período de quatro anos não queira continuar a governar, não pode prejudicar dessa forma os seus aliados para que tentem manter o poder.
Isso sem falar no abandono do projeto tão discutido durante o governo anterior de regular a comunicação de forma absolutamente idêntica à que vige nas maiores democracias ocidentais. O ex-presidente Lula vendeu à sociedade a necessidade desse projeto e tão logo deixou o poder passou a ser triturado pela mídia sem agora ter como responder. De uma aliada leal, esperava-se pelo menos uma mínima defesa daquele que a levou onde está.
Fica aqui, portanto, a proposta para a presidente da República retomar o seu governo: Parla, Dilma!
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