Departamento de Comunicação Social da polícia manteve dossiê sobre PT até 1999, quando órgão foi extinto
Ricardo Galhardo, iG São Paulo | 02/08/2011 07:00
A Polícia Civil de São Paulo espionou clandestinamente o PT durante todo o primeiro mandato do tucano Mário Covas no governo do Estado. Segundo documentos secretos disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado e obtidos pelo iG, o Departamento de Comunicação Social da polícia manteve um dossiê sobre o PT até 1999, quando foi extinto por ordem de Covas.
Ricardo Galhardo, iG São Paulo | 02/08/2011 07:00
A Polícia Civil de São Paulo espionou clandestinamente o PT durante todo o primeiro mandato do tucano Mário Covas no governo do Estado. Segundo documentos secretos disponibilizados pelo Arquivo Público do Estado e obtidos pelo iG, o Departamento de Comunicação Social da polícia manteve um dossiê sobre o PT até 1999, quando foi extinto por ordem de Covas.
A maior parte dos documentos arquivados no dossiê 079 (PT) são recortes de jornais ou transcrições de reportagens do rádio ou TV, preferencialmente sobre disputas internas, crises, proximidade com movimentos populares radicais e denúncias de corrupção envolvendo petistas. O ex-ministro da casa Civil, Antonio Palocci, é objeto de um dossiê específico com número 305. Na época Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto, era visto como uma liderança ascendente no partido.
Foto: AEFoto
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O DCS produziu dossiês sobre praticamente todos os partidos políticos a partir de 1983. Mas referências ao PSDB, PFL (hoje DEM) e PPS acabam em 1995, quando Covas tomou posse, enquanto a pasta do PT continuou sendo alimentada até a extinção do departamento, em 1999.
Além dos recortes, o dossiê 079 mostra que a polícia tucana produzia informação própria e chegou a infiltrar agentes em eventos ligados ao PT. De acordo com os documentos, a espionagem era acompanhada pela Secretaria de Segurança Pública.
O relatório 049/98, endereçado ao então secretário-adjunto de Segurança, Luiz Antonio Alves de Souza, relata uma assembléia do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (Sindisaúde) realizada na sede do Sindicato dos Químicos, no bairro da Liberdade, no dia 16 de setembro de 1998, menos de um mês antes do primeiro turno das eleições daquele ano, quando Covas e o então presidente Fernando Henrique Cardoso tentavam a reeleição.
Foto: AE Lula durante campanha em 1998; PT foi alvo de arapongagem |
Na época, Covas aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de opinião, atrás de Francisco Rossi e Paulo Maluf e pouco à frente da petista Marta Suplicy. Havia risco de o governador ficar fora do segundo turno e os sindicatos de servidores estaduais ligados à CUT e ao PT preparavam para o dia seguinte uma grande manifestação contra o governo tucano em frente ao Palácio dos Bandeirantes.
Um agente infiltrado que assina como “Gama 42” acompanhou a assembléia e fez um relatório de três páginas com destaque para a mobilização rumo o ato no Palácio dos Bandeirantes e à movimentação eleitoral dos sindicalistas.
“Sônia Takeda (dirigente do Sindisaúde) apresentou resultado de uma prévia que foi feita no local onde, de 149 votos, 133 foram dados ao Lula, um ao Enéas (Carneiro, candidato a presidente pelo Prona) e alguns brancos e nulos: repetindo-se o mesmo para o Senado, onde Suplicy teve 141 votos, um para João Leite e outro para Oscar e, para Marta Suplicy, foram dados 143 votos e um para o Rossi”, diz o documento.
No final, Covas foi para o segundo turno contra Maluf com apenas cinco mil votos a mais do que Marta, acabou reeleito mas morreu em 2001, deixando o governo nas mãos do vice, Geraldo Alckmin (PSDB), atual governador do Estado.
Embora seja citado nominalmente como destinatário do relatório, o ex-secretário adjunto de Segurança Luiz Antonio Alves de Souza negou ter tomado conhecimento da ação policial na assembléia do Sindisaúde. “Mandamos monitorar uma greve de motoristas de ônibus em 1998 porque existia risco de depredação das garagens e piquetes para impedir que os ônibus fossem para as ruas. Não autorizei nem soube de nada no Sindisaúde”, disse ele.
O ex-secretário adjunto atribuiu a responsabilidade pela arapongagem a delegados e policiais que agiam à revelia da secretaria, com objetivo de desestabilizar o governo e beneficiar Maluf. “Infelizmente a polícia tinha muita gente remanescente da época do Erasmo Dias (secretário de Segurança no governo Maluf). Era véspera de eleição. Eles faziam essas coisas para prejudicar o Covas. Existia o risco de ele ficar fora do segundo turno. Esse pessoal preferia o Maluf”, afirmou Souza.
Fonte: Último Segundo
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