O ineditismo da jovem democracia brasileira é curioso: Lula foi o primeiro presidente que impôs três derrotas consecutivas a um dos maiores oligopólios de comunicação do mundo. Foi o primeiro operário a chegar à presidência, alcançou índices estratosféricos de aprovação e ainda elegeu a primeira mulher como sucessora.
Enfrentar essa imprensa podre e conseguir o apoio (ótimo / bom) de mais de 160 milhões de brasileiros ao fim do mandato, não é pra qualquer um. Por isso, quando soube que Fernando Haddad formalizou a candidatura a prefeito de São Paulo, inesperadamente rejeitei a ideia. É uma reação emocional, confesso. Racionalmente, politicamente, se for eleito, pode ser um “avanço” – dirão. Mas sinto que seria um desperdício. Porque Haddad é uma joia. É competente e brilha frente ao Ministério da Educação. Colocou 1,5 milhão de jovens de baixa renda no ensino superior. Mudou a cara das universidades públicas brasileiras. Acabou com a indústria dos vestibulares que servia como filtro social para o acesso ao ensino superior e consolidou o sistema de cotas para os negros.
O PiG – que mora e respira em São Paulo, que esconde a incompetência administrativa dos tucanos há 16 anos e só tem olhos para o que acontece de ruim do outro lado da “cerca” – destrói qualquer iniciativa não-tucana e aborta todos os projetos sociais que beneficiariam a grande maioria da população paulistana. Sempre em favor das elites e da oposição ao governo federal. Mesmo “acidentes de percurso” como Luiza Erundina e Marta Suplicy, são “apagados” da cidade. E não é só porque são mulheres. O crime e castigo delas foi não pertencerem ao PSDB – o partido que é dono do pedaço.
Erundina fez o sistema de mutirão da casa própria, onde a prefeitura entrava com material de construção e os futuros moradores com a mão de obra – monitorados por engenheiros da construção civil. Uma ideia brilhante, que além de baratear o custo da obra, resultava em integração, organização sociopolítica mobilizadora dos participantes de cada mutirão. E isso, definitivamente, não é do interesse do PSDB. Além dos CEUs que Serra e Kassab estagnaram suprimindo-lhes as verbas, Marta Suplicy instituiu o bilhete-único – um benefício inteligente para os mais pobres que Serra, e depois Kassab, trataram de compensar, diminuindo a frota e aumentado os preços das passagens bem acima da inflação. Marta inovou no trânsito, principalmente no transporte público. Criou os corredores exclusivos para ônibus – deixando os congestionamentos aos próprios congestionadores que ocupavam as demais pistas das avenidas. Enfrentou e expulsou a máfia das empresas de transporte público que cantavam de galo desde a época da ditadura e ofereciam aos usuários latas velhas remendadas com 4 rodas. Exigiu novas e modernas frotas a quem quisesse concessão. Novamente, de passagem rumo ao governo do estado, Serra “recuperou” fácil a prefeitura e abriu a porteira para os inescrupulosos donos das frotas de ônibus.
As gestões e reputações das duas ex-prefeitas foram destruídas pelo PiG que o paulista engole feito gado. Pergunte a qualquer um que transite pela Av. Paulista quais lembranças tem dos governos Erundina ou Marta. Terá, na maioria das vezes, respostas machistas e preconceituosas – tonalidade típica dos idiotizados pela mídia local.
Todos os anos, na época dos exames do Enem, Haddad é atacado pelo jornalismo de esgoto a serviço das elites cheirosas que consideram os traseiros de seus filhos mais merecedores de uma vaga no ensino superior que o restante dos brasileiros. Mesmo assim, a cada ano o sucesso do Enem aumenta e bate recordes. Porque o PiG não tem força nacional. Mas em São Paulo, é onipresente. O que não consegue contra Haddad em nível federal, conseguiria tranquilamente em nível municipal. Basta ver como venderam Kassab aos paulistanos depois da fantasmagórica passagem do seu criador pela prefeitura…
Dói falar assim do lugar onde vivo desde que me conheço por gente. Gostaria de ver esta cidade mais humanizada e justa e seus habitantes mais conscientes de sua realidade. Mas a cada eleição que passa isso me parece mais distante. Hoje o estado e a cidade são o maior reduto do PSDB. Governa-se para as elites e mantém-se a maioria da população cega, surda e muda, mergulhada em seu imobilismo e abandonada a sua própria sorte. Principalmente na periferia.
Enquanto não temos uma Lei dos Médios, considero que o custo benefício de Haddad ocupar cargo público é muito mais vantajoso ao país estando ele em outras áreas, Brasil afora, longe de nossa ilha PiG-Tucana. Mas, se vier a São Paulo, vou apoiar e dar um voto de confiança. Não a ele – que o considero supercompetente – mas ao povo paulistano!
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