No último sete de setembro, ocorreram, em algumas capitais do Brasil, manifestações de setores da classe média contra a corrupção. Com exceção de Brasília, onde existe uma comoção pela absolvição da deputada Jaqueline Roriz e havia uma grande concentração de pessoas por conta do desfile da independência e de um festival de balões, nas demais capitais os atos se tornaram fracassos retumbantes, sendo que em São Paulo, que registrou o segundo maior número de manifestantes, o cálculo otimista dava conta de quinhentas pessoas.
A velha mídia se dividiu em opiniões contraditórias, alguns preferiram ignorar o fracasso e sobrevalorizar a concentração em Brasília, e comparações absurdas com a mobilização das Diretas e impeachment do Collor foram publicadas em editoriais e em artigos dos seus leais porta-vozes, tentando de todo jeito colocar o governo federal como alvo. Outros preferiram ser mais realistas e criticar ferozmente os movimentos sociais por não participarem dos atos, que estavam claramente sendo instrumentalizados.
O misto de falsa euforia e despeito por, no fundo, terem constatado não ter poder de mobilização junto à sociedade, descambou como sempre para a patrulha ideológica que constantemente imprimem contra organizações sociais como UNE, MST e centrais sindicais, usando o velho mantra das contribuições do governo federal para esses movimentos, que são legais e aprovadas pelo congresso.
A UNE mantém uma pauta constante de reivindicações relacionadas à educação com o governo, cobra, discute, pressiona. O MST promove invasões em todo o país a cada abril vermelho, as centrais se manifestam em pressão pelo aumento do salário mínimo, pela redução da carga horária de trabalho e pelos salários dos aposentados.
A diferença é que esses movimentos hoje são tratados com respeito e são ouvidos, são reconhecidos pela representatividade de setores da sociedade civil. Quando existe o diálogo e os movimentos sociais participam das decisões, não há necessidade de rupturas como desejam os patrulheiros.
Mas, afinal, o que deseja a patrulha? Que movimentos sociais, que acompanham de perto o cenário político, de uma hora para outra identifiquem bons motivos em partidos e veículos de imprensa que sempre os marginalizaram e tentaram criminalizar e ridicularizar suas lutas, a ponto de dar quórum a seus objetivos inconfessáveis?
Os movimentos sociais e as pessoas mais politizadas em nenhum momento reconheceram nesses atos uma movimentação realmente apartidária que não seria instrumentalizada, e eles estavam certos, é só dar uma passadinha para ver o quanto tentam distorcer para jogar no colo do PT e do governo federal a revolta contra a absolvição de uma deputada que participou de um escândalo ligado a políticos do DEM e do PSDB. Os seletivos acharam que poderiam ludibriar a experiência política de movimentos de décadas de existência.
As marchas convocadas por inocentes úteis e amplificadas por oportunistas fracassaram porque não tinham povo, não tinham movimentos sociais legítimos, e isso se deve pela justa desconfiança destes em relação às intenções de seus apoiadores. Ninguém é a favor de corrupção, mas a seletividade e o fla-flu político mantido pela atuação de determinados veículos de imprensa inviabilizam qualquer possibilidade de participação da sociedade civil em atos promovidos por estes.
Resgatem primeiro a confiança da população, abandonando o jornalismo partidário e, daí, quem sabe consigam voltar a mobilizar e obter o respeito dos movimentos sociais.
Fonte da imagem ilustrativa: http://www.limaoemlimonada.com.br/2010/02/turma-da-monica-e-velha-discussao-da.html – Autor: Maurício de Souza.
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