quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A guerrilheira Dinaelza Santana Coqueiro, A Mariadina

Dinaelza Santana Coqueiro,  
A Mariadina [1949–1973]

Reproduzo hoje, trecho do livro Direito à Memória e a Verdade sobre a guerrilheira Mariadina que lutou na guerrilha do Araguaia. Além de um vídeo com o depoimento de Maria da Paz, filha de camponeses, que tinha apenas dez anos quando conviveu com ela, mas lembra com detalhes a prisão e morte da guerrilheira, que lutou até o fim. 

Filiação: Junília Soares Santana e Antônio Pereira de Santana
Data e local de nascimento: 22/03/1949, Vitória da Conquista (BA)
Organização política ou atividade: PCdoB
Data do desaparecimento: 08/04/1974

Baiana de Vitória da Conquista, estudou em Jequié (BA), no Instituto Educacional Régis Pacheco, onde organizou o grêmio dos alunos. Em 1969, foi para Salvador cursar Geografia na Universidade Católica. Participou ativamente do Movimento Estudantil, sendo eleita para a Comissão Executiva do DCE. Nessa época, casou-se com Vandick, estudante de Economia, também desaparecido no Araguaia. Em 1970, ela e o marido já integravam o comitê estudantil do PCdoB. Trabalhou na empresa aérea Sadia, depois Transbrasil, até 1971, quando pediu demissão e foi deslocada para a região do Gameleira, no Araguaia, onde se tornou mais conhecida como Mariadina.

No sul do Pará, integrou o Destacamento B da guerrilha. Dinaelza participou de vários enfrentamentos armados. Sinésio Martins Ribeiro, guia do Exército na época, afirmou em depoimento prestado em São Geraldo do Araguaia, em 19/07/01: “ficou sabendo pelo Pedro Galego e Iomar Galego que a Mariadina (Dinaelza) foi presa no rumo da OP-1, dentro da mata; que quem prendeu ela foi o mateiro Manoel Gomes e entregou para o Exército; que segundo soube o depoente, ela foi levada para a casa do Arlindo Piauí para contar onde estavam os outros e outras informações; que ela não falou nada; que lhe contaram que ela era muito bruta, porque ela não respondia nenhuma das perguntas e também cuspiu nos doutores; que por isso mataram ela um pouco adiante da casa do Arlindo Piauí, dentro da mata; (...)”.

No relatório do Ministério do Exército, apresentado em 1993 ao ministro da Justiça Maurício Corrêa, consta que, “usava os codinomes Dinorá e Maria Dina e que sua carteira de identidade havia sido apreendida em um aparelho rural do PCdoB”. Já o relatório do Ministério da Marinha, do mesmo ano, registra que “Dinaelza foi morta em 8 de abril de 1974. (...) relacionada entre os que estiveram ligados à tentativa de implantação de guerrilha rural. Levada a efeito pelo Comitê Central do PCdoB, em Xambioá”. Segundo depoimento de moradores de Xambioá, Dinaelza foi capturada por forças do Exército.

No relatório apresentado pelos procuradores Marlon Weichert, Guilherme Schelb, Ubiratan Cazetta e Felício Pontes Jr., em 28/01/2002, também ficou registrado: “Mariadina: Dinaelza S. Coqueiro, foi presa por um mateiro e entregue ao Exército. Interrogada na casa de um camponês, teria cuspido em um dos oficiais e então executada”.

O livro de Elio Gaspari traz depoimento de José Veloso de Andrade, encarregado da lanchonete da Bacaba, informando ter visto seis guerrilheiros, vivos, naquele acampamento militar: Mariadina (Dinaelza), Chica (Suely Yumiko Kanayama), Edinho (Hélio Luiz Navarro de Magalhães), Beto (Lúcio Petit), Valdir (Uirassu de Assis Batista), Pedro Carretel (Pedro Matias de Oliveira) e Rosa (Maria Célia Corrêa).

No livro de Hugo Studart, consta: “Foi presa e executada pelos militares. A arma do militar falhou no momento da execução, de acordo com depoimento a esta pesquisa. Teria sido enterrada perto de São Geraldo, segundo camponeses”.

Taís Morais e Elmano Silva escreveram em Operação Araguaia sobre Dinaelza:  “Presa pelo mateiro Manoel Gomes nas proximidades da OP-1, revoltou-se com o tratamento recebido do Exército. Meiga com os familiares, xingou o Major Curió de ‘chifrudo’ e cuspiu na cara de um oficial. Foi morta em 8 de abril de 1974, segundo os registros da Marinha”.

O número 208 de A Classe Operária, órgão oficial do PCdoB, trouxe trechos do depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados por Cícero Pereira Gomes, posseiro no Araguaia que colaborou com o Exército no combate à guerrilha. Depois de descrever com detalhes as torturas aplicadas a guerrilheiros e moradores da região, informou que o corpo de Dinaelza Santana Coqueiro está enterrado na altura do quilômetro 114 da rodovia que liga São Geraldo a Marabá, indicando o local da cova, perto de uma casa de tábua.

Dinaelza era irmã de Diva Santana, que hoje dirige o Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia e integra a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, responsável por este livro-relatório.



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