domingo, 11 de setembro de 2011

O outro 11 de setembro

A “via chilena” não desembocou no socialismo. E, até hoje pelo menos, não conseguimos construir uma “via eleitoral” para sair do capitalismo.

Por Valter Pomar [09.09.2011 17h20]

A grande imprensa vem dedicando grande espaço para falar do 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o ataque contra as torres do World Trade Center, em Nova Iorque.

Nós da esquerda devemos analisar aqueles fatos e suas repercussões.

Mas devemos, também, analisar o 11 de setembro de 1973, quando um golpe militar derrubou o governo da Unidade Popular chilena.



11 de Setembro de 1973

Hoje, em diferentes países da América Latina, as forças de esquerda enfrentam dilemas estratégicos parecidos com aqueles enfrentados pela “via chilena para o socialismo”.

Por exemplo:

1. Os Estados Unidos (e seus aliados) continuam se opondo a governos que busquem democracia, bem-estar social, soberania nacional e integração da região. E não têm compromisso efetivo com a legalidade institucional e eleitoral, nem tampouco com a soberania e autodeterminação dos povos;

2. A grande burguesia segue alérgica a pagar os “custos sociais” de uma elevação constante na qualidade de vida do povo. E, por isto mesmo, está sempre disposta a financiar e participar de movimentos oposicionistas, desestabilizadores e golpistas;

3. As camadas médias seguem tratadas como massa de manobra, ideológica, social, política e eleitoral, dos setores conservadores. Os que têm algo a perder, mesmo que seja relativamente pouco, são mobilizados contra os que têm menos ainda, em defesa dos que têm muito mais do que necessitam;

4. As forças armadas e a alta burocracia estatal não são neutras. Sua origem social, seu processo de seleção, treinamento e funcionamento resultam num comportamento geneticamente conservador;

5. Na política, a indústria de cultura e comunicação equivale ao papel da indústria de armamentos para a guerra. O controle das televisões, rádios, jornais, revistas, editoras de livros, provedores e sítios eletrônicos ajuda na mobilização de hoje e forja as mentes de amanhã;

6. Não adianta pintar-se de ouro. Mesmo que a esquerda abra mão, na teoria e na prática, do socialismo e da revolução, ainda assim a direita vai enxergar intenções comunistas por trás de cada política compensatória. E agirá conforme esta visão;

7. A Europa demonstrou que não é possível a coexistência de longo prazo entre capitalismo, bem-estar social, democracia e paz. Na América Latina, os limites da social-democracia e do reformismo são ainda maiores;

8. É decisivo não confundir estratégia com tática, assim como medir a correlação de forças faz toda a diferença. Mas correlação de forças não é pretexto para a imobilidade. Correlação se altera. E se não a alteramos em nosso favor, eles a alteram em favor deles.

A “via chilena” não desembocou no socialismo. E, até hoje pelo menos, não conseguimos construir uma “via eleitoral” para sair do capitalismo.

Por outro lado, a combinação entre luta ideológica, mobilização social, auto-organização das classes trabalhadoras e disputa eleitoral produziu uma situação política inédita na América Latina e em muitos dos países da região.

E isto está ocorrendo numa situação internacional também inédita: ampla hegemonia das relações capitalistas e, por isto mesmo, uma brutal crise do capitalismo neoliberal.

Nessas condições, a América Latina pode ser não apenas território de resistência ou de um capitalismo não-neoliberal. Pode ser, também, espaço de construção de uma alternativa ao capitalismo.

Motivos de sobra para estudar e aprender com a experiência da Unidade Popular chilena.

Publicado no blog do Valter Pomar.


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