domingo, 25 de setembro de 2011

Rafael Mascarenhas, Cissa Guimarães e a espetacularização midiática


Por DiAfonso

Eis que, nesta manhã de domingo, leio o noticiário e me vejo diante da presença de Rafael Mascarenhas na mídia... de novo. Informava a notícia que o Red Hot se apresentara no Rock in Rio trajando uma camisa com a estampa do Rafael. 

Não acreditei que essa exposição midiática ainda persistia [uma coisa é noticiar, outra...]. Numa hora, centenas de amigos "grafitam", ilicitamente, as paredes do Túnel Acústico em homenagem ao filho de Cissa Guimarães [com a anuência e a participação dela, inclusive]; noutra hora, famosos prestigiam, num restaurante do Rio de Janeiro [!!!], o aniversário de morte do rapaz. Entre as celebridades, Guta Stresser, Patrícia Travassos e Caetano Veloso. Este interpretou seis canções e fez com que todos os presentes cantassem com ele. 

Sinceramente...

Sou pai. Amo demais meus três filhos, minha energética* filhinha [que fará dois anos no próximo dia 28 de setembro] e Sophia [que ainda está "morando" na barriga da mãe até dezembro deste ano]. Quem foi agraciado pela materno-paternidade [não encontrei referência a essa palavra no léxico português] e a ela se entrega como a um sacerdócio, sofre ao ter que conviver com a perda de algum dos seus rebentos. É natural que a saudade invada, cace e persiga impiedosamente mães e pais que passam por tal infortúnio. A dor parece esgarçar ainda mais - e indefinidamente - uma alma já cindida por tão sofrida ausência.

Creio ser assim com a atriz Cissa Guimarães. Sei que sofre com a perda de Rafael Guimarães. Entretanto, é necessário que se diga [a partir, claro de uma determinada concepção de ver o mundo circundante] ser necessário, também, buscar a superação e não tentar "ressuscitar" o filho que se foi por meio da espetacularização midiática [e nesse aspecto, Cissa tem tido o apoio tentacular da poderosa Globo e da mídia corporativa, de um modo geral]. A meu ver, ela é conivente com esse espetáculo e até o estimula.

Tentar eternizar uma tragédia que se quer esquecida pelos lances que lhe deram forma, contrariando, inclusive, normas legais [como foi o caso da "grafitagem" no túnel - chamam de "painel". Fosse um ato promovido por algum pai ou mãe e amigos desvalidos socialmente, seria pichação e delito passível de pena] é publicizar um sofrimento que deve ser vivenciado pelo seleto grupo dos que conviveram com Rafael. E só.

Não consigo entender porque Cissa Guimarães insiste em colaborar com a midiatização dessa dor e até promovê-la, como se toda a sociedade tivesse a obrigação de assistir a este "espetáculo". Expor a memória de seu filho morto - da forma como está se dando - revela o inconformismo com algumas caras verdades, inclusive relativas ao próprio Rafael. 

Fala-se, aos borbotões, da tragicidade. Demonizam Rafael Bussamra por cometer homicídio doloso [quando há intenção de matar], por ter fugido do local sem prestar socorro à vítima. Fala-se da tentativa de corrupção ativa, da participação em corrida não autorizada em via pública, tudo isso perpetrado pelo acusado. Fala-se do envolvimento de agentes públicos [os tais policias militares que cobraram R$ 10 mil de propina para passar uma borracha no ocorrido].

O mais importante, no entanto, não se valoriza: o acusado foi denunciado pelo Ministério Público, os policiais foram também denunciados e presos. Ou seja, o processo legal, do ponto de vista da justiça, segue seu rito normal. A justiça está sendo feita ou em vias de se efetivar.

Um outro dado também tem sido relegado ao esquecimento. Rafael Mascarenhas contribuiu, involuntariamente, para a consumação do acidente, pois a área estava interditada. Isso valia para qualquer um: seja para o filho de Cissa Guimarães, seja para o autor do atropelamento, Rafael Bussamra.

É uma pena que o Rafael Mascarenhas tenha se ido de forma tão trágica. É uma pena que um outro jovem, o Rafael Bussamra, tenha causado a morte de alguém e tentado infringir a lei [o que não se concretizou, felizmente]. É uma pena que muitos passem pelo que o filho de Cissa passou e não mereçam a célere decisão da justiça. Os que são injustiçados não carecem de espetacularização, mas de justiça feita. 

Quanto a isso, Cissa Guimarães não tem do que reclamar, como já se disse acima. Ela precisa, sim, é parar de santificar o filho por meio dos veículos de comunicação que fazem desses fatos um grande show e guardar, em silêncio profundo, o que sente pelo filho. Ah... E não colaborar com a transgressão da lei... Se pichar é proibido para A, deve ser para B, também.

A Cissa Guimarães, familiares e amigos de Rafael Guimarães, expresso, como pai, meus profundos e sinceros respeitos pela dor que sentem. Só não concordo com essa extensiva exposição midiática. Mas, aí, já não é comigo...

*Sobre o termo "energético", leia aqui.

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