O números revelados hoje pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, são um escárnio.
Numa força de trabalho estimada em 45 milhões de trabalhadores celetistas, o número de desligamentos, em quatro anos e meio, chegou a quase 73 milhões, dos quais 42 milhões sem justa causa.
Ou seja, oito milhões por ano, ou uma demissão injustificada por grupo de seis trabalhadores.
Vamos admitir, apenas para não torcer o raciocínio, que 30% delas tenha sido por “acordo” entre patrão e empregado, para sacar FGTS, etc, etc…
Ainda assim são 30 milhões de demissões injustificadas, ou mais de seis milhões por ano.
Aí dá para entender porque algumas entidades patronais são contra o aumento de três dias por ano trabalhado no aviso prévio, sancionado hoje pela Presidente Dilma.
Ou porque o Presidente Fernando Henrique revogou a vigência, aqui, da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho, que exige, no mínimo, a declaração do empregador sobre a razão de uma demissão não resultante de mau comportamento profissional.
Que me perdoe o ministro do Trabalho ao dizer que isso é um problema de falta de qualificação é apenas meia verdade. Claro que os nossos problemas de falta de qualificação são sérios, mas qualquer patrão pode testar as habilidades e a aptidão de um trabalhador antes de contratá-lo. E pode e deve qualificá-lo continuamente dentro do próprio ambiente de trabalho.
O que acontece, em grande parte, é o vício de não ver o trabalhador como parte essencial de qualquer atividade econômica, não oferecer perspectiva de crescimento, não valorizar os profissionais mais antigos como elementos de perpetuação do conhecimento do trabalho.
Empresa é para dar lucro, mas isso só se legitima se tiver um papel social agregado a isso.
Afinal, responsabilidade social não é só patrocinar uma ONG ou ter o nome impresso num folheto de promoção, dizendo “olhem só como nós somos modernos”.
Temos de seguir investindo em escolas técnicas, em cursos técnicos, em profissionalizantes, é verdade.
Mas temos de dizer alguns dos nossos empresários que não são livres para “moer gente” desta maneira.
Rotatividade no trabalho sempre haverá, e não necessariamente ela é má, porque num quadro de baixo nível de desemprego, pode até indicar vigor no mercado de trabalho e salários.
Mas não nas proporções gigantescas que tem no Brasil.
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