O carioca André Dahmer, 37, passou a infância sendo considerado garoto-problema, daqueles que aos dez anos já haviam sido reprovados duas vezes na escola, vivia correndo, gritando e colocando fogo nas coisas. “Hoje em dia dopam as crianças com Ritalina. Na minha época não tinha Ritalina, então eu me dei bem”, comentou em entrevista, onde se percebe o seu humor: crítico, direto e sarcástico. Apenas após ingressar na Escola de Artes de Maria Teresa Vieira, onde estudou até os dezesseis, que Dahmer encontrou a válvula de escape para as suas inquietações. “Só ficava quieto desenhando”, declarou o artista que também já afirmou que desenhar é sua maneira de “correr, gritar e tacar fogo nas coisas”.
Mais tarde, Dahmer ingressou no curso de Desenho Industrial na PUC-RJ e sentia receio de passar a vida desenhando embalagem de sabonete até que, em uma matéria eletiva conheceu Urian Agria, que lhe deu lições valiosas e fez com que encontrasse o artista que já sabia ser. Uma dessas lições era que “quem pensa, não pinta e quem pinta, não pensa”. Pode-se apenas especular sobre o impacto de Urian sobre o jovem Dahmer, mas não deixa de ser curioso que hoje ele descreva seu processo criativo como um caos: “Trabalho com a sorte e com o acidente, sou amigo do acaso”, diz.
Oriundo da pintura, quase por acaso que Dahmer descobriu que os quadrinhos podiam lhe oferecer outras possibilidades para se expressar. Em 2001, com o lançamento on-line da tira “Malvados” – onde dois personagens em forma de flores reproduzem as angústias humanas, às vezes em nosso comportamento mais patético, Dahmer conquistou milhares de fãs e em pouco tempo, se viu convidado a publicar no extinto impresso Jornal do Brasil e descobriu que seu site sozinho tinha mais leitores do que o próprio jornal. Desde então, publicou em veículos como Caros Amigos, Piauí, Folha de São Paulo, revista Sexy Premium e Bizz. Atualmente, publica as tirinhas do “Rei Emir Saad”, no portal G1; as "Tirinhas dos anos 10", no jornal O Globo e, grata surpresa, retornou neste mês a Folha de São Paulo, com tiras inéditas dos "Malvados", para a alegria dos saudosos fãs. Dahmer também teve seu trabalho publicado em três livros de quadrinhos lançados pela editora Desiderata (O Livro Negro de André Dahmer; Malvados e A Cabeça é a Ilha) e, em Novembro de 2010, publicou pela editora Flâneur seu primeiro livro de poesias – dentre elas “Vinho Novo” cujos versos originaram a letra da canção “Três Dias”, gravada por Marcelo Camelo em seu mais recente CD - fotografias, cartas, pinturas e desenho livre , intitulado “Ninguém muda Ninguém”. Em tiragem limitada de apenas 600 cópias, Dahmer resolveu que iria desenhar à mão cada uma das capas do livro. Na noite do lançamento, autografava o livro com os dizeres “A coragem do primeiro pássaro”, e explicou com um sorriso: “o primeiro voo”.
Prolífico, André Dahmer enviou para Belém uma série de gravuras e denhos em nanquim para a exposição “Faces” , em Setembro último e se prepara para lançar em Novembro um livro de cartuns e charges durante a Sétima FIQ de Belo Horizonte, desta vez pela editora Barba Negracom quem fechou a publicação de mais dois livros, entre eles um romance já finalizado. Com a agenda apertada, o autor aceitou conceder uma entrevista exclusiva para a Revista, que você confere a seguir:
O Ziraldo te definiu como um "cartunista machadiano". Como você interpreta essa declaração?
É só bondade dele, né? O Ziraldo me ajudou muito no início da carreira. Gostou do meu trabalho, me levou para o Jornal do Brasil quando era editor do Caderno B. Foi minha estreia na mídia impressa, sou muito grato pela força, mas não vejo parâmetros possíveis com Machado de Assis.
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