sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Liberdade de expressão enquanto álibi dos desonestos

Por LEN*

Confesso a vocês que não vejo CQC, leio O Globo ou a Folha de São Paulo para ficar incomodado com as sandices ditas por Rafinha Bastos e Marcelo Tas ou com as charges apelativas que o NANI fez no ano passado com a Presidente Dilma Rousseff (veja aqui) ou com que o Chico Caruso fez nessa semana com a Corregedora Eliana Calmon (veja aqui). Tomo conhecimento destas asneiras através da repercussão em redes sociais e por algumas poucas compilações da velha mídia que ainda consulto.

Honestamente, apesar de não me surpreender muito (com exceção do Chico), eu dou pouca ou nenhuma importância para essas manifestações estúpidas, primeiro porque não podemos esperar dos autores qualquer vestígio de bom senso; e, segundo, porque estamos apenas valorizando e dando mais repercussão ao lixo, além de destacar o autor de uma idiotice.

O que realmente me chateia e me incomoda é a insistência na desonestidade intelectual de uma suposta defesa da liberdade de expressão para justificar e esconder a incompetência para fazer humor, a falta de educação, o mau gosto e o desrespeito por minorias. Um mantra que perdoa tudo e exime o autor de merecidas críticas.

Mas por que diabos falam em liberdade de expressão nesses casos? Estão por acaso tentando calar ou impedir alguém de se expressar? a reação das pessoas em relação às piadas apelativas e desrespeitosas é sintoma inequívoco de que a liberdade de expressão no país está em plena vigência e não uma tentativa de limitá-la.

Mas o que queriam? Que não houvesse reação às suas manifestações? Que tipo de democracia eles idealizam? Aquela na qual jornalistas e humoristas não podem ser criticados sob risco de ofensa à liberdade de expressão? Um jogador de futebol pode ser criticado se jogar mal, mas se o humorista fizer uma piada sem graça ou desrespeitosa fica imune porque é “liberdade de expressão”?

Eu já escrevi aqui diversas vezes: quem se manifesta ou se expressa de alguma forma está colocando a cara à tapa e deve esperar por críticas e reações. Algumas pessoas por não entenderem o significado real da democracia são pouco afeitas a receber críticas, acham que podem entrar em uma redoma para se proteger de fracassos e insucessos.

A choradeira para transformar a liberdade de expressão como álibi para imunizar algumas categorias de críticas já está se tornando intragável. Por falta de capacidade ou arrogância para perceberem que as suas manifestações não agradaram e simplesmente se desculparem pelo erro, eles preferem passar por pretensas vítimas da “censura do politicamente correto”. E o pior que muita gente boa embarca nessa canoa furada, hipnotizados pelo canto da sereia dos desonestos.

Estas pessoas que tentam confundir as outras como falsos defensores da liberdade de expressão possuem, na sua maioria, histórico que desautoriza essa pretensão. Felizmente as pessoas reagem às charges apelativas e às piadas de mau gosto, isso mostra que a sociedade tem senso crítico. A liberdade de expressão não é privilégio de algumas categorias que se consideram especiais e acima das outras, e é exercida inclusive quando a sociedade repudia algo grosseiro e agressivo através de manifestações coletivas.

*LEN é editor-geral do Ponto & Contraponto e coeditor do Terra Brasilis.

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