segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Livro aponta corrupção de Sarney a Lula e ‘justiça’ FH


Escrito pelo cientista político Eduardo Graeff, secretário-geral da Presidência na era Fernando Henrique, obra, em inglês, atribui desvios à tradição patrimonialista e à cultura de transgressões. Mas será que houve no texto um exercício de memória seletiva?

Dias atrás, um email começou a ser disparado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso. Era um convite para o download do e-book "Corruption in Brazil - From Sarney to Lula", disponível na Amazon, maior livraria virtual do mundo. Lançado em inglês, ele foi escrito pelo cientista político Eduardo Graeff, que, na era FHC, ocupou a Secretaria Geral da Presidência da República, em substituição a Eduardo Jorge. Escrito com verniz acadêmico, o livro poderia oferecer uma boa contribuição para o debate ético no Brasil, não fosse um vício de origem: o viés partidário, expresso no próprio título do livro. Ou seja: segundo Graeff, a corrupção só fez crescer no Brasil entre Sarney e Lula, tendo tido como único hiato a era FHC. Será que alguém acredita nisso? E será que o ataque sistemático à corrupção, numa espécie de neoudenismo, é mesmo o melhor caminho para o PSDB?

De acordo com o ex-colaborador de FHC, a cultura de transgressões brasileira remonta à tradição patrimonialista ibérica, que faz com que agentes de governo tenham dificuldades em distinguir o público do privado. E nossos governantes, em vez de ocupantes transitórios do poder, seriam "Donos do Poder" [ver ilustração abaixo], como bem argumentou Raymundo Faoro, em sua obra máxima.

Este título está na estante do editor do TB. Pena que o cara que vos fala só leu até a página 39. Vamos retomar a leitura, Graeff e FHC?

José Sarney, primeiro presidente civil desde a ditadura, teria aberto as porteiras da corrupção, após 21 anos de atividade política represada pelo regime militar. E assim teve um governo marcado por escândalos, como o dos "Anões do Orçamento", muito embora Graeff reconheça que Sarney só caiu em desgraça em função do fracasso no combate inflacionário. Sobre Collor, que veio depois, Graeff fala pouco mais do que o óbvio. Depois de incensado como "caçador de marajás" por boa parte da mídia, ele sofreu o impeachment em função das sobras de campanha e do que esquema PC.

Bom, mas quando chega a era FHC, o Brasil se transforma no reino de ética pura e todos os escândalos, como os que atingiram André Lara Resende, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Eduardo Jorge, são injustiças decorrentes da prática do denuncismo. Ainda que eles tenham sido, de fato, inocentados nos processos judiciais que sofreram, terá sido mesmo a era FHC um hiato de honestidade no Brasil?

Apenas para relembrar:

- Ricardo Sergio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, que construiu consórcios na privatização das teles, dizia agir no "limite da irresponsabilidade".
- Benjamin Steunbruch, amigo e empregador de Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, comprou a CSN e a Vale, de onde depois foi expelido, com o apoio ostensivo dos fundos de pensão.

- Partidos como PMDB e PFL, atual [moribundo] DEM, participaram ativamente da administração tucana, dominando setores estratégicos, como Transportes e Minas e Energia, o que alimentou o argumento de que o governo FHC, se não roubava, deixava roubar.

Bom, e quando chega a era Lula, o Brasil se torna o reino da corrupção explícita e escancarada, com exemplos fartos, como o "mensalão" e de outros escândalos.

Na apresentação, Graeff diz que um dos objetivos do livro é fazer justiça a FHC, que teria sido alvo de um denuncismo irresponsável e politicamente dirigido. No fim, conclui que a sociedade já não aceita mais, passivamente, todas as denúncias que lhe são servidas.

Talvez porque saiba que o discurso anticorrupção no Brasil é hipócrita.

Fonte: Brasil_247

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