Considerado pela Unesco como Memória do Mundo em 2007, o Fundo Clamor guarda centenas de histórias que, graças a ele, jamais serão esquecidas. Guardados em aproximadamente 106 caixas-arquivo e 30 pastas, os documentos são dos mais variados tipos e origens. Isso porque o Clamor foi organizado a partir da solidariedade direta com as vítimas, principalmente as das repressões da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.
Fábio Nassif
A dedicação de algumas pessoas em denunciar os abusos, encontrar crianças desaparecidas e ajudar refugiados latinoamericanos no período da ditadura militar se transformou em um arquivo que hoje contribui em processos contra torturadores de vários países. Considerado pela Unesco como Memória do Mundo em 2007, o Fundo Clamor guarda centenas de histórias que, graças a ele, jamais serão esquecidas.
Guardados em aproximadamente 106 caixas-arquivo e 30 pastas, os documentos são dos mais variados tipos e origens. Isso porque o Clamor foi organizado a partir da solidariedade direta com as vítimas, principalmente as das repressões da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.
Os fundadores foram a jornalista inglesa Jan Rocha, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o pastor Jaime Wright. Unidos em junho de 1978, tinham como objetivo primeiro a ajuda aos refugiados que chegavam em São Paulo. Em pouco tempo, por conta das articulações com entidades de direitos humanos de vários países, essas pessoas poderiam chegar ao Brasil sem malas, mas com o endereço do Clamor no bolso.
O relato da luta contra a brutalidade dos regimes políticos da América Latina teve como estratégia mostrar que os mortos e desaparecidos não eram números, mas pessoas. E foi por isso que o boletim, publicado pelo grupo em português, inglês e espanhol, teve tanta importância. A equipe do Clamor (palavra que tem mesmo significado nos três idiomas) passou a receber muitas cartas, denúncias, relatos e pedidos. Por consequência, passou a exercer cada vez mais o papel de centralizar informações sobre desaparecidos e perseguidos políticos do continente e de apoio aos refugiados dos países vizinhos. E também a receber mais ajuda, como a de Dom Paulo Evaristo Arns, figura fundamental dentro da Igreja na luta contra a ditadura.
Do grupo ao fundo
Guardados em aproximadamente 106 caixas-arquivo e 30 pastas, os documentos são dos mais variados tipos e origens. Isso porque o Clamor foi organizado a partir da solidariedade direta com as vítimas, principalmente as das repressões da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia.
Os fundadores foram a jornalista inglesa Jan Rocha, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e o pastor Jaime Wright. Unidos em junho de 1978, tinham como objetivo primeiro a ajuda aos refugiados que chegavam em São Paulo. Em pouco tempo, por conta das articulações com entidades de direitos humanos de vários países, essas pessoas poderiam chegar ao Brasil sem malas, mas com o endereço do Clamor no bolso.
O relato da luta contra a brutalidade dos regimes políticos da América Latina teve como estratégia mostrar que os mortos e desaparecidos não eram números, mas pessoas. E foi por isso que o boletim, publicado pelo grupo em português, inglês e espanhol, teve tanta importância. A equipe do Clamor (palavra que tem mesmo significado nos três idiomas) passou a receber muitas cartas, denúncias, relatos e pedidos. Por consequência, passou a exercer cada vez mais o papel de centralizar informações sobre desaparecidos e perseguidos políticos do continente e de apoio aos refugiados dos países vizinhos. E também a receber mais ajuda, como a de Dom Paulo Evaristo Arns, figura fundamental dentro da Igreja na luta contra a ditadura.
Do grupo ao fundo
O grupo Clamor durou oficialmente até 1991. Seus documentos chegaram a ser guardados nos porões do colégio Arquidiocesano, na sede da Cúria Metropolitana de São Paulo, na casa dos seus ex-participantes até chegar quase completo, em 1997, ao Cedic (Centro de Documentação e Informação Científica da PUC-SP), onde permanece até hoje. Uma pequena parte permanece com Greenhalgh.
Com uma equipe pequena, a historiógrafa do Cedic, Ana Célia de Andrade, batalha para garantir melhores condições para os documentos, desde de que começou a estudar o Clamor para seu mestrado. Entre as negativas de conseguir recursos da gestão da universidade – que tem outras prioridades e reclama da “falta de lucro” do Centro - e as dificuldades em receber financiamento do governo federal, a saída foi encontrada fora do Brasil.
Em junho deste ano, Ana recebeu a confirmação de que o Ministério da Cultura da Espanha irá doar 10 mil euros ao projeto. O dinheiro, que deve chegar no começo de 2012, será utilizado inteiramente para materiais e estrutura adequada de conservação dos documentos. A partir disso, o plano é, até o final do ano que vem, organizar fisicamente o material, digitalizar e aperfeiçoar o sistema de pesquisas para fins jurídicos. Vez ou outra a equipe interrompe as atividades normais para atender a pedidos de documentos internacionais. Um exemplo foi o envio de uma lista de mortos e torturadores de uma prisão clandestina da Argentina.
Memória viva
Uma das pessoas que utiliza a visitação pública do Cedic para realizar pesquisa sobre o Clamor é a própria Jan Rocha. A fundadora está relendo e estudando todos os documentos, pois pretende escrever um livro sobre essa história, a partir de sua visão. A própria busca por alguma editora interessada na futura obra faz Jan concluir, diante dos documentos, que “se hoje em dia é tão difícil investigar o passado, naqueles anos houve uma tremenda solidariedade entre esses povos”. Uma versão sobre o arquivo foi escrita por Samarone Lima, no livro “Clamor: a vitória de uma conspiração brasileira”.
A jornalista, ao descrever algumas passagens marcantes, como a ajuda do Clamor na primeira recuperação de uma criança desaparecida na época, se indigna com os discursos que os governos faziam para enganar a opinião pública. “Na Argentina, quando começou a busca pelos desaparecidos, o governo começou a dizer que havia encontrado um grupo, fazia uma lista com esses nomes afirmando ‘esse está em sua casa, este foi para o exterior, etc’, e era tudo mentira”.
Ao ser perguntada sobre a Comissão da Verdade em debate no Brasil, Jan afirma que o próprio Clamor pode ajudar a contar alguns casos de colaboração entre países, como aconteceu na operação Condor. “Um dos mais conhecidos é da Lilian Celiberti lá em Porto Alegre, mas tem vários outros casos”. Um exemplo é “o caso de 109 chilenos que oficialmente foram mortos porque eram de grupos clandestinos que lutaram entre si. Os governos usaram até um jornal do Paraná que tinha deixado de funcionar, o recriaram para publicar a notícia dos mortos ‘encontrados’. Era tudo uma farsa, pois eles foram mortos pelas forças de repressão do Chile. E isso está no arquivo”.
No último período, aumentou a procura das visitações e das solicitações internacionais de documentos para fins judiciais. Comprometida em ajudar na organização dos documentos para esta nova fase do fundo Clamor, Jan lamenta também a atuação da mídia atual. “Naquela época, se por um lado tinha a repressão, por outro tinha uma imprensa um pouco mais interessada e solidária”.
Fotos: Fábio Nassif
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