Por causa de um delito de menor potencial ofensivo, chamado crime de bagatela pela doutrina penal italiana, a Polícia Militar de São Paulo deu causa, no campus da Universidade de São Paulo, a uma “pantagruélica” confusão.
Em vez de proteger o campus com repressão a criminosos perigosos que, em áreas não movimentadas do campus, matam, estupram, sequestram, roubam e traficam drogas proibidas, agentes da Polícia Militar resolveram, num estacionamento, revistar universitários e apreender três cigarros de maconha. A propósito, o porte de drogas proibidas para uso próprio não leva à condenação de prisão.
A reação desproporcional, ocupação de prédios, foi a resposta de momento por parte dos universitários que, com toda a razão, não desejam ações policialescas e fascistóides, como a ocorrida na quinta-feira passada que deu causa à mobilização estudantil. Mais um complicador diz respeito ao reitor, Grandino Rodas, pessoa bem conhecido pela falta de habilidade no trato com estudantes.
Uma Polícia Militar educada para legalidade democrática, e treinada de forma adequada para tratar com estudantes em ambiente universitário, teria evitado tamanha confusão. Estudantes da Universidade de São Paulo, no campus, devem merecer consideração, respeito, proteção. Não pode o universitário ser objeto de presunção de criminoso, pela mera condição de universitário de cursos superiores.
A atuação imprópria num campus universitário, como a de suspeitar e revistar estudantes pacíficos e em saída de aula, ocasiona reações previsíveis, ainda que desproporcionais à afronta cometida pelos policiais militares.
Para piorar o quadro no campus da USP, um grupo de universitários, derrotado em assembléia, deixou o prédio invadido da faculdade para migrar para o da Reitoria, onde se instala o odiado Rodas: o grupo derrotado cumpriu a vontade da maioria no sentido de deixar o prédio da faculdade. Só que, a demonstrar inconformismo não democrático, invadiu a Reitoria.
A liminar judicial de desocupação voluntária da Reitoria abre ensejo a uma grande preocupação.
No caso de não desocupação no prazo judicial conferido, que o governo resolveu prorrogar até a próxima segunda-feira, medidas coercitivas deverão ser iniciadas. Medidas coercitivas que vão implicar em nova ação da Polícia Militar, com apoio do secretário da Segurança, um ex-policial militar que se mantém na pasta contra a vontade do governador Alckimin.
O governador Geraldo Alckimin sabe bem a respeito do reitor Grandino Rodas: ele foi escolhido por Serra, apesar de ser o último da lista tríplice. Mais ainda, Rodas restou escolhido por Serra após ter realizado inúmeras trapalhadas quando diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Alckimin não esqueceu, certamente, da ação assassina do batalhão de choque da Polícia Militar na Casa de Detenção. Assim, deverá o governador ter cautela redobrada e se aproximar dos professores com bom trânsito entre os alunos, tudo para recolher conselhos.
PANO RÁPIDO. O momento é delicado e espera-se que prevaleça o bom-senso, com posterior revisão do convênio com a Polícia Militar, obra do reitor Rodas.
Wálter Fanganiello Maierovitch
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