terça-feira, 1 de novembro de 2011

Fórum anti-G20 reivindica poder de decisão e avisa: 'primeiro os povos, depois os bancos'

'Para nós, o G20 é ilegítimo. A busca de soluções globais deve envolver todos os países e não apenas esses 20'

“Primeiro os povos, depois os bancos". Foi com esse lema que cerca de 10 mil pessoas desfilaram nesta terça-feira (01/11) no primeiro dia do Fórum dos Povos, o Contra-G20, que acontece até sexta-feira (04/11) em Nice, no sul da França. ONGs, sindicatos, associações, organizações de esquerda e ecologistas se encontram a apenas 26 quilômetros de Cannes, onde começa nesta quinta-feira (03/11) o encontro do G20.

O Fórum dos Povos preferiu evitar o enfrentamento direto com os 12 mil homens deslocados para fazer a segurança das delegações dos 20 chefes de Estado presentes na maior cúpula internacional já organizada pela França, país que preside atualmente o grupo dos vinte. “Nós sabemos que o G20 e o G8 são muito bem protegidos. Fazer o fórum em Cannes criaria um clima de tensão entre manifestantes e as autoridades, o que não queríamos ver", explicou ao Opera Mundi Gildas Jossec, porta-voz da Coalizão G8G20, organizadora do Fórum de Nice.


“Para nós, o G20 é ilegítimo. A busca de soluções globais deve envolver todos os países e não apenas esses 20”, apontou. A reivindicação dos altermundialistas é colocar o G7, G8 e G20 sob tutela das Nações Unidas e reformar essa instituição. Autofinanciado e com o custo total de 100 mil euros, o encontro reúne representantes de diversos movimentos, como o espanhol “Indignados”, o norte-americano “Occupy Wall Street”, o inglês “Coalition of Resistance”, militantes gregos e ainda os brasileiros da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas).


Apesar de terem diferentes demandas, as organizações concordam em pontos-chave:  a não instrumentalização da dívida pública pelos mercados para destruir os serviços públicos; o desenvolvimento de mecanismos de controle para as operações bancárias; o fim de paraísos fiscais; ampliação da transparência das transações financeiras e obrigar os mais ricos a arcarem com o peso da dívida, dentre outros. Mesmo a igualdade de sexos, a defesa dos pequenos agricultores e a luta contra o aquecimento global e o desmatamento integram o programa.

Os militantes defendem ainda a criação de um fundo global de apoio a processos democráticos. “Todos os movimentos têm propostas que não são utopias", diz Jossec.

Aurélie Trouvé, co-presidente da ATTAC (Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos), questionou as medidas econômicas concretas para sair da crise. “Há 13 anos, nós lutamos por uma taxa sobre as transações financeiras. Antes, esta ideia parecia totalmente revolucionária, mas hoje é defendida por muitos políticos. Só que ficou na etapa do discurso. Queremos que ela seja realmente implantada.”

No entanto, apesar de a reunião ser contra o G20, Bernard Salamand, presidente do CRID (Centro de Pesquisa e Informação para o Desenvolvimento), um coletivo que reúne 53 associações francesas, ressaltou a vocação do espaço para debater soluções políticas, e não para desenvolver documentos técnicos econômicos. “Nós não temos uma posição coletiva e não estamos aqui para construir um contra-programa. Diremos que há alternativas, que são vividas por cidadãos e ideias que vem deles. Os políticos e atores da economia devem as utilizar e implantar”, concluiu. 

Cyber militante

Recentes movimentos de ocupação em diferentes cidades ao redor do mundo vêm movimentando a web e seduzindo população e imprensa. “Para nós, é uma imensa esperança ver movimentos como o dos “Indignados”. Que os povos tomem consciência que estão pagando por uma crise que não provocaram”, disse o presidente do ATTAC.

Sites bem administrados, vídeos explicativos, documentos de comunicação disponíveis para download, tudo acessível em um clique para informar e montar um espaço de militância em qualquer local do globo. Mas de acordo com os organizadores apenas 2 mil militantes devem se reunir no sul da França. Jossec garante que depois da intensa atividade em redes sociais e da cobertura da imprensa desses protestos da sociedade civil, a percepção dos militantes vem mudando e atrai cada vez mais novos integrantes. “Somos muito solicitados pela imprensa, mas não mais sob o aspecto da manifestação, mas porque querem saber mais sobre nossas proposições e isso é novo ”, contou.

A imagem pacifista continua sendo uma das grandes diretrizes dos coletivos,  que são tradicionalmente reprimidos a força durante encontros de dirigentes internacionais. “Os balck blocs, (coletivo anarquista que emprega ações violentas) serão poucos. Quando fizemos a manifestação contra o G8, há alguns meses, eles eram apenas algumas dezenas e nós milhares de pacifistas e não-violentos, cidadãos engajados em associações e movimentos alternativos unidos pela ideia de que quem deve pagar a crise são os mais ricos”, sublinhou Trouvé.

A falta de um acordo entre os líderes do G20 que traga uma solução econômica palpável é a maior crítica dos altermundialistas. “Tentamos passar a mensagem que mesmo questões complexas como a economia nos dizem respeito. A crise que vivemos não é uma catástrofe natural, há humanos por trás dela. Temos que reconquistar o direito de decidir ou participar da decisão de nosso futuro”, disse Salamand.

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