domingo, 13 de novembro de 2011

O desafio da Rocinha - CLÁUDIA COSTIN

Por Claudia Costin*

A perspectiva de pacificação da Rocinha abre um capítulo novo e marcante na história da cidade do Rio. Inúmeros desafios terão que ser enfrentados. Um deles é a recuperação dos jovens que tiveram sua adolescência afetada pela longa convivência com o tráfico, muitos dos quais acabaram abandonando a escola. A Educação, não sem dificuldades, tem os instrumentos para isso, como pudemos fazer na Cidade de Deus, no Alemão e em tantas outras comunidades que foram sendo progressivamente pacificadas.

Há cerca de dois anos, o prefeito Eduardo Paes criou o Escolas do Amanhã, um programa especificamente voltado para as escolas em áreas conflagradas, com um duplo objetivo: diminuir o déficit de aprendizagem frente às demais escolas da rede e reduzir a evasão escolar. À época, a evasão média na cidade era de 2,6% contra 5,1% nas 151 unidades do Escolas do Amanhã. Decidimos incluir entre estas escolas as situadas em áreas então controladas pelo tráfico, pelas milícias e as recém-pacificadas, entre estas últimas as do Dona Marta e da Cidade de Deus.


Em cada escola introduzimos a oferta de educação em tempo integral, com muitas oficinas de arte, esportes e reforço escolar no contraturno; um programa inovador de ciências, centrado em experimentação; um posto de atendimento de saúde; e um método mais dinâmico de ensino, voltado a desfazer bloqueios cognitivos que advêm de exposição constante à violência. Cada escola recrutou um educador comunitário, duas mães voluntárias e passou a contar com o Bairro Educador, iniciativa voltada a trabalhar a integração das escolas de cada área e a colocar os espaços comunitários a serviço da Educação.

Aumentamos também a remuneração destes professores, que são os que enfrentam os maiores desafios para ensinar e capacitamos e estamos capacitando os professores e diretores a trabalharem como mediadores de conflitos. Assinamos, junto com o Ministério Público, um protocolo de cooperação para aprofundar o combate à evasão escolar, com equipes de visitação das casas dos alunos faltosos ou em risco de abandono da escola.

Os resultados não tardaram a aparecer: a evasão escolar caiu de 5,1% para 3,26% e mais de 65% das Escolas do Amanhã foram premiadas por atingirem as metas de melhoria da aprendizagem dos alunos, contra 56% das demais escolas. Em 2010, o melhor colégio do município em aprendizagem e redução de evasão foi o CEP 1o- de Maio, uma Escola do Amanhã situada em Antares, onde a violência ainda destrói vidas, mas se começa a construir um futuro de verdade para inúmeras crianças.

A pacificação trará muitos benefícios, entre eles uma maior frequência às aulas e a tranquilidade tão necessária para professores e alunos. Que possam as crianças da Rocinha passar a viver o novo tempo que se abriu, recentemente, para as do Alemão, da Cidade de Deus, do Cantagalo ou do Borel.

*CLÁUDIA COSTIN é secretária municipal de Educação do Rio.

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