Por Eliakim Araújo
Dessa vez o bicho pegou para Herman Cain, o candidato-sensação entre os que postulam o direito de enfrentar Barack Obama na eleição do ano que vem. De obscuro participante dos debates entre os diversos pretendentes republicanos, Herman foi catapultado para um destacado espaço na mídia, quando divulgou seu plano de restauração da economia americana baseado no 9-9-9, coisa que muita gente não entendeu até hoje.
Mas foi essa curiosidade pelo projeto 9-9-9 que o guindou à posição de estrela ascendente, e em poucas semanas ele disparou nas pesquisas e assumiu a liderança entre os republicanos tradicionais, como o moderado Mitt Romney e o radical Rick Perry. Cain deixou os dois para trás e assumiu a ponta da corrida presidencial.
Negro e sem passado político – nunca exerceu nenhum cargo eletivo – o ex-executivo de uma rede de pizzarias e da NRA, a Associação Nacional de Restaurantes (na tradução em português), Cain esbanjava simpatia e seria, talvez, o candidato ideal para enfrentar Obama, o que seria mais uma situação inédita na terra do Tio Sam: dois negros disputando a presidência do país.
Isso não é impossível de acontecer, mas agora ficou extremamente difícil para Herman Cain depois que começaram a pipocar contra ele denúncias de “comportamento sexual agressivo e inadequado”, quando exercia o posto de executivo na tal NRA, com sede em Washington.
As primeiras acusadoras não tiveram coragem de mostrar a cara, falaram através de advogado, segundo o qual elas teriam firmado um contrato de confidencialidade quando receberam indenizações para não levarem o escândalo adiante.
Mas eis que nesta segunda-feira, a coisa se complicou definitivamente para Cain. Apareceu uma quarta acusadora, só que desta vez com a cara na mídia, bem falante e contando com riqueza de detalhes como o executivo da NRA tentou trocar um emprego por uma noite de sexo.
Sharon Bialek (foto), 50 anos, mãe solteira, contou que, por volta de 1995/6, procurou Herman Cain, então dirigente máximo da NRA, onde ela já havia trabalhado, para pedir-lhe o emprego de volta. Ele prometeu que a contrataria, sim, em melhores condições do que a posição anterior que ela ocupava. Sharon não teve dúvidas, embarcou de Chicago, onde mora, e desceu em Washington, para encontrar o amigo.
Depois de uns drinks no hotel, Cain levou-a para jantar em um restaurante italiano. E logo após os comes e bebes, já no carro, ele colocou a mão por baixo da saia de Sharon tocando-lhe a genitália enquanto tentava empurrar a cabeça dela em direção à sua virilha.
Entre surpresa e decepcionada, Sharon o repeliu admoestando-o: “o que você está fazendo, você sabe que tenho um namorado”. A resposta dele foi dolorosamente implacável: “mas você não quer o emprego?” Enojada, ela pediu-lhe que a deixasse no hotel onde estava hospedada.
As declarações de Sharon, diante de centenas de repórteres e câmeras de TV, foram juramentadas em cartório e ela espera com isso abrir caminho para que outras mulheres que foram assediadas por Herman Cain saiam da sombra e mostrem a face.
Claro, a Cain só restou negar as acusações, mas pelo andar da carruagem tudo indica que ele está liquidado politicamente. Pesquisa entre os eleitores republicanos, após mais esta denúncia, revelou que ele caiu 9 pontos em sua popularidade e perdeu a liderança para Mitt Romney.
Por falar em eleição, um ano antes da eleição presidencial de novembro do ano que vem, o cenário eleitoral nos Estados Unidos é, no mínimo, curioso. Uma pesquisa da NBC News/Wall Street Journal, divulgada nesta segunda-feira, revela que apesar de todo pessimismo reinante no país, Obama tem todas as condições para se reeleger.
A pesquisa indicou que quase 75 por cento dos entrevistados consideram que a nação está indo na direção errada e que a administração Obama ficou aquém de suas expectativas.
No entanto, apesar das opiniões contrárias ao seu trabalho na Casa Branca, Obama segue na frente dos republicanos na corrida presidencial. Na simulação contra o líder nas pesquisas republicanas, Mitt Romney, Obama tem seis pontos de frente. E contra Herman Cain, o segundo colocado, a diferença é de 15 por cento.
Mas, como falta um ano ainda para o acerto de contas com os eleitores, tudo pode acontecer. Eleição, como no futebol, é uma caixinha de surpresas, parodiando um velho comentarista do esporte bretão.
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