segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O renascimento da casa dos Buarque de Holanda

Local onde Chico viveu com os pais e irmãos em São Paulo, palco de grandes encontros da intelectualidade no século passado, será reaberta em dezembro 

João Loes

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RENOVADA
Construída nos anos 1950 em estilo normando, a casa passou
por quatro meses de reforma, que termina em dezembro

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Desde 1983, a casa da família Buarque de Hollanda, na rua Buri, 35, localizada no bairro nobre do Pacaembu, região central de São Paulo, não via grande movimento. Foi naquele ano, quase três décadas atrás, que os últimos dez mil livros do patriarca do clã, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, morto em 1982, foram retirados do espaço pela Universidade de Campinas (Unicamp), que os arrematou em leilão. Fechada, a residência passou por disputas judiciais e invasões, foi desapropriada e tombada como patrimônio público pela Prefeitura em 2002 e agora, nove anos depois, está, finalmente, às vésperas de ser reinaugurada como espaço da Secretaria Municipal de Educação.

Embora sem função definida – a secretaria ainda não resolveu se o espaço será um Centro de Referência em Estudos de Educação ou sede do Conselho Municipal de Educação (CME) –, o município garante que a casa da rua Buri estará pronta em meados de dezembro. “Eu torço para que seja um centro de memória de Sérgio Buarque de Hollanda”, diz o jornalista Fernando Morais, que, como secretário de Cultura do governo Orestes Quércia (PMDB-SP) entre 1988 e 1991, tentou, sem sucesso, transformar o espaço em centro cultural. “Virar sede do Conselho Municipal de Educação, ou seja, mais um escritório público, seria um desperdício”, afirma. “A casa merece um destino melhor.”

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EM FAMÍLIA
Sérgio Buarque de Hollanda posa com cinco dos sete filhos.
Chico Buarque é o segundo da esquerda para a direita

Morais sabe o que fala. O número 35 da rua Buri foi protagonista de grandes momentos da história política, cultural e social do Brasil. A partir de 1957 lá viveu não só Sérgio Buarque de Hollanda, um dos mais importantes historiadores do País, autor do seminal “Raízes do Brasil” (1936) e de outros tantos tomos fundamentais para a compreensão de nossa história, como também sua mulher, Maria Amélia, e seus sete filhos: Maria do Carmo, Ana, Heloísa, Cristina, Sérgio, Álvaro e Francisco. Ana é hoje ministra da Cultura no governo Dilma Rousseff, enquanto Sérgio, o filho, é economista e professor da Universidade de São Paulo. Heloísa, conhecida como Miúcha, é ícone da música popular brasileira e Francisco, Chico Buarque de Hollanda, um dos compositores e autores nacionais mais importantes em atividade.

Como não poderia deixar de ser, em uma família ativa em tantas esferas diferentes, não foram poucos os encontros históricos ocorridos no bucólico endereço de estilo normando. Pelas festas e saraus organizados primeiro por Sérgio e Maria Amélia e depois pelos filhos passaram figuras como os poetas e compositores Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Toquinho e Paulo Vanzolini, os acadêmicos Fernando Henrique Cardoso, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., Florestan Fernandes e Antônio Cândido, os autores Manuel Bandeira, Jorge Amado e Fernando Sabino, além de cineastas, artistas plásticos e lideranças políticas.

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ILUSTRE
Os acadêmicos Gilberto Freyre (à esq.) e Caio Prado Jr. (abaixo) visitavam o número 35 da rua Buri com frequência

Mas, além de polo de concentração de figuras ilustres da segunda metade do século XX, o número 35 da rua Buri também era a residência de uma família comum, com direito a sete filhos. Foi de lá, por exemplo, que Chico Buarque, então com 17 anos, saiu para uma noite de aventuras com um amigo, com quem foi flagrado tentando roubar um carro. Ambos foram presos e a história foi parar na capa do jornal “Última Hora”, para ira dos pais Sérgio e Maria Amélia, que estavam em viagem por Minas Gerais. Em relato do jornalista Cláudio Renato Passavante, autor de publicações sobre a família Buarque de Hollanda, também consta que Chico cruzava o bar Riviera, que tinha portas tanto para os arredores da rua Buri quanto para a rua da Consolação, para fugir de táxi sem pagar a conta. E que as festas mais animadas no casarão chegavam a reunir 500 pessoas. “O simples fato de ver a prefeitura investindo para recuperar a casa já é positivo”, diz Morais. “Tenho um certo medo, porém, de que com a instalação do Conselho Municipal de Educação o espaço vire mais um aparelho da burocracia.” Em breve, saberemos.



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