Depois de seis dias tentando ignorar infrutiferamente o caso “Privataria Tucana” e percebendo que estava sendo atropelada pelos fatos, a grande imprensa resolveu falar sobre o assunto.
A princípio, de forma esquizofrênica, as notas faziam apenas eco às declarações de tucanos reclamando do livro, mas, ao perceber que dessa forma iriam apenas aumentar a curiosidade do distinto público sobre o assunto, resolveram escrever resenhas, ora desqualificando o autor - um jornalista com três prêmios Esso e quatro prêmios Vladimir Herzog -, ora repletas de conjunções coordenativas adversativas (mas, porém, contudo), usadas para tentar minimizar as acusações contra José Serra e tucanos.
A grande imprensa - que há poucos dias tentava incentivar adesões às passeatas contra corrupção para atingir o governo federal - agora, sem o menor pudor, tenta abafar o maior escândalo de desvio de dinheiro público da história do país, deixando cair a máscara do neo-moralismo, mostrando que a súbita indignação contra corrupção só acontecia porque não atingia os partidos apoiados por esses veículos de comunicação.
Não contavam com um detalhe fundamental: não são mais exclusivos no fornecimento da informação. E, se um dia já puderam manter abafados casos em quenão havia interesse político na divulgação, hoje a militância virtual e jornalistas independentes se encarregam de fazer circular os fatos proibidos em algumas redações.
Paralelo ao vexame histórico desses veículos de comunicação, jornalistas que trabalham para essas empresas vêm se expondo de forma grotesca em redes sociais. Desacostumados com o contraditório ao longo de todas as suas carreiras, pois eram protegidos e blindados por um modo ultrapassado de comunicação sem interatividade, ao se defrontarem com contestações de usuários dessas redes, muitos desses jornalistas, se é que posso chamar assim quem desdenha o juramento da profissão e abafa um caso gigantesco de corrupção, enfiam os pés pelas mãos. Algumas reações aos questionamentos chegam a constranger quem os lê.
Há aqueles que acham que esse comportamento vergonhoso se deve ao medo que esses jornalistas supostamente têm de perderem os seus empregos, pois eles podem estar sendo ameaçados pelos empresários da comunicação. Confesso que essa hipótese está cada vez mais distante do razoável.
Jornalistas com décadas de profissão não iriam arriscar de forma irreversível o maior patrimônio que um profissional de mídia deve ter, a sua credibilidade, por um emprego, por melhor que fosse. Na pior das hipóteses, algum deles iria chutar o balde e sair atirando para todo o lado. Engana-se quem acha que um jornalista experiente possa ser um ente frágil e incompreendido. Não são, . Na verdade são cobras-criadas que também têm suas cartas na manga contra seus editores.
Mas se não é medo de perder o emprego, o que leva jornalistas de renome a arriscarem tudo por uma aberração jornalística sem nenhuma condição de prosperar? Ideologia? Seriam tucanos de coração dispostos a levar seus ídolos ao poder? Muito menos, né? Acho que o buraco é mais embaixo e o problema é sério.
No livro, e em entrevista que deu no seu lançamento, o autor e jornalista Amaury Ribeiro Junior aponta a existência de uma folha de pagamento de jornalistas que trabalham exclusivamente para cumprir objetivos traçados de acordo com a necessidade de criminosos do colarinho branco.
Os jornalistas soldistas trabalham nas grandes redações. Amaury prestigiou no primeiro livro o esquema Serra, mas promete mergulhar no submundo do jornalismo a serviço de quadrilhas. Ele não é o primeiro a tocar no assunto. Na Operação Satiagraha, o delegado e hoje deputado, Protógenes Queiroz, apontou a existência dessa relação espúria entre jornalistas delinquentes e o banqueiro Daniel Dantas.
Alguns jornalistas, assim como os veículos de comunicação que os empregam, resolveram morrer abraçadinhos com a quadrilha do Serra e única motivação para essa defesa escandalosa da corrupção tucana é o fato que eles preferem deixar as coisas como estão por estarem envolvidos até o pescoço.
Sim, muitos beberam dessa água e não desejam que essa história seja desenterrada a essa altura do campeonato, afinal não são apenas tucanos que têm o rabo preso nessa história, mas todos os que se beneficiaram, direta ou indiretamente, da roubalheira, e que hoje está por aí leve e solto, achando-se com moral para apontar o dedo para outros corruptos que não os seus.
Autor da charge que ilustra o post: Pelicano.
*LEN é editor-geral do Ponto & Contraponto e editor do Terra Brasilis.
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