Lembro-me até hoje do sofrimento de meu pai, quando me viu [eu com meus seis anos] chorando de fome. Eu não queria comer uma espécie de inhame que não tinha gosto. Eu dizia: "Não, papai! Não quero!" Mamãe dizia: "Você tem que comer, seus irmãos estão comendo." E eu dizia: "Mas eu não quero!" Papai me botou no colo e disse: "Quando receber dinheiro, eu compro pão pra gente comer [Papai trabalhava em Herberto Ramos - empresa que atrasava o salário dos funcionários sempre.]
Como papai estava devendo há dois meses na mercearia de Seu Severino, Biu [O dono da mercearia] não queria vender mais.
Pela manhã, depois de uma noite de fome, disse para meu pai que estava com fome, mas tinha comido biscoito Maria com gosto de barata. Papai me perguntou: "Encontrou o biscoito onde?" E eu disse: "Perto do armário, na parede [que era de tábuas]. Ele perguntou para mamãe: "Que biscoito Maria é esse?" Mamãe disse que talvez o dito biscoito tivesse sido sobra de feiras anteriores.
Pouco tempo depois, eu desmaiei... Acordei na cama [que eu dividia com meu irmão mais novo] com um prato de ovos com farinha. Papai havia ido a Biu implorar para vender ovos para gente comer. Ele mesmo preparou dois ovos para mim e depois para os meus irmãos. Eu sabia que ele sangrava por dentro... Sempre soube disso. Perguntei-lhe hoje como conseguiu os ovos e ele ficou em silêncio profundo. Sei que queria chorar... Senti isso...
Obrigado, papai! Sempre lhe serei grato! Sempre! Sempre! Sempre!
Obrigado, papai! Sempre lhe serei grato! Sempre! Sempre! Sempre!
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