segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Porque sou contra Belo Monte [jornalista Leandro Altherman]


O debate sobre a construção da Usina de Belo Monte tem crescido na internet e as pessoas começam a tomar suas posições contra e a favor da sua construção. O debate acirrou-se ainda mais depois que atores globais gravaram o vídeo Gota d'água.

Estudantes do curso de engenharia civil da UNICAMP criaram um vídeo-resposta chamado Tempestade em Copo D'água. Muito criativo, o vídeo-resposta contra-argumenta a exposição do tema pelos atores globais.

Assisti atentamente ao vídeo dos estudantes e confesso que ele me pareceu muito mais informativo do que o dos atores globais. Os primeiros 75% do vídeo, estão por assim dizer, impecáveis.

O vídeo desmistifica uma série de inverdades cometidas pelos atores globais como por exemplo a área inundada (51.600 hectares e não 400 mil como o anunciado). Também menciona o correto posicionamento da usina (não acima do P. Indigena do Xingu, mas abaixo)

Outras inverdades oportunistas são anunciadas em blogs e redes sociais, como por exemplo, a expulsão de 40 mil indígenas. Segundo o CIMI, há na verdade UM povo que tem sido oportunísticamente denominado ARARA pela FUNAI, sob pretexto de deslocá-los para outra área. Os demais povos, inclusive os do Xingu, seriam afetados de maneira indireta, não pela inundação de suas terras, mas por sérios danos em suas fontes de subsitência, especialmente a pesca.

Inclusive, a foto divulgada em redes sociais de Raoni chorando pea liberação da usina, seria outra inverdade. Esta foto seria do ano passado e Raoni estaria chorando pela morte do sertanista Orlando Villas Boas.

Também não me rendo ao oportunismo eco-capitalista que tenta jogar o peso todo nas costas do PT e da presidente Dilma. Faço minha crítica de que o governo deva marchar "mais à esquerda" junto com os povos e grupos sociais que historicamente se apoiaram.

Ainda assim, sou contra

O problema conceitual do vídeo feito pelos estudantes começa quando se fala sobre "compensação" aos povos afetados pela barragem. Ora, falar em "compensação" demonstra o chauvinismo com que nossa sociedade trata quem não comunga dos mesmos valores.

O que significaria "compensar" os povos que a partir da construção da barragem terão dificuldade em conseguir alimento (peixe) dos rios? Uma "bolsa-sardinha" para eles comprarem enlatados no supermercado mais próximo?

Só pode fazer uma proposta destas quem não conhece a dignidade de alimentar seus filhos com o peixe que se pescou do rio.

Nossa sociedade é tão porca, tão miserável e hipócrita que primeiro retira dos povos indígenas a condição de viverem do jeito que viviam há milhares de anos antes do contato: da subsistência da natureza. Depois, quando não há mais peixe e as terras são poucas para o plantio, aí damos a eles sacolões ou obrigamos a que se tornem agricultores evangélicos e ordeiros, aumentando gradualmente a sua dependência de programas federais. Aí então os chamam de "preguiçosos".

O atual governo poderia demonstrar sua preocupação com os povos indígenas, por exemplo, solucionando os conflitos por terra que têm vitimado lideranças indígenas do povo Caiowá no MS.

Pressionados pela proverbial ganância do agronegócio, do gado e da soja, muito pouco sobrou a este povo com quem o Brasil tem uma dívida histórica, pois fazem parte do grande tronco Tupi-Guarani, língua que emprestou as palavras com que hoje denominamos mais de 80% da geografia de nosso país e mais 90% da nossa fauna e flora. Povo que nos ensinou a cultivar a macaxeira, a dormir em redes e a conhecer e reconhecer centenas de espécies de plantas e árvores frutíferas, medicinais e venenosas.

Logo virão também aqueles que emprestam o discurso nacionalista para fazer a defesa da construção de Belo Monte, alegando que os contrários à sua contrução fazem a vontade do interesse estrangeiro na Amazônia.

Muito bem, também sou contra a ingerência estrangeira na Amazônia. Mas ainda assim, o que dizer dos povos indígenas? Quem mais brasileiro do que eles para defender o chão onde vivem há séculos ou milênios?

Se são os índios "manipulados" por Ongs, deveríamos então nos envergonhar, pois nossa sociedade e nosso governo perderam a capacidade de diálogo com estes povos, que sem terem sua voz ouvida são, por assim dizer, "empurrados" para que as tais Ongs representem seus interesses.

Quem defende a tese nacionalista, deveria também lembrar que a maioria dos projetos de desenvolvimento previsto para a Amazônia (brasileira, peruana, boliviana e colombiana) também fazem parte de um programa internacional, o IIRSA (traduzindo: Integração Regional da Infra-Estrutura Sul-Americana). Seus críticos dizem que ela (a IIRSA) irá favorecer as empresas transnacionais e promover ainda mais o empobrecimento e a subserviência dos povos das Américas. Basta lembrar que o IIRSA foi idealizado dentro do contexto da ALCA (vc se lembra do que é a ALCA, não?)

Os argumentos em favor da construção da usina, são sim, consideráveis, principalmente se levado em conta que as termoelétricas movidas a óleo diesel da região norte são muito poluentes.

A necessidade de energia em nossa sociedade, dispensa argumentação.

No entanto, nenhum destes argumentos pode se sobrepor ao direito adquirido por estes povos e, se quiseremos compartilhar este mundo com eles, temos que aprender a respeitar um outro ponto de vista, sua própria visão de mundo, e quem sabe, num futuro, não tão distante assim, possa ser esta a visão de mundo que irá nos guiar para sair do abismo em que com a nossa cegueira, estamos nos metendo.

3 comentários:

GilsonSampaio disse...

Cumpadi Afonso - O babão
Muito boa defesa dos povos oiginários. Sem pieguice e humanista como deve ser. O direito daqueles que a sociedade não quer ver é um direito tão legítimo como qualquer dos direitos humanos.

Profdiafonso disse...

kkkkkkkkkkkkkkk Cumpadi Gilson,

Tem mais é que babar! É a caçulinha do painho aqui... rsrs

Sem dúvida, a defesa que o Leandro Altherman faz contra a construção da hidrelétrica tem seus louros, sim.

Eu ainda continuo sem posição definida. Estou estudando, embora esteja inclinado a reconhecer a importãncia da construção.

Abs, cumpadi!

Anônimo disse...

Acho que há um certo exagero no sentido pejorativo que o autor atribuiu ao termo "compensar".
Se lermos atentarmos para os parágrafos 15 e 16 do decreto-lei 143 que ratificou a Convenção 169 da OIT (um dos principais instrumentos protetores dos povos indígenas, e certamente, o principal recurso utilizado pelos opositores das hidrelétricas na Amazônia), veremos que não é de outras coisas senão de compensações a que se referem os parágrafos.
Entretanto, esses parágrafos nunca são mencionados pelos opositores das usinas, já que são parágrafos que mostram que os povos indígenas não são uma nação independente, mas elementos de uma sociedade maior.
De qualquer modo, concordo com o autor quanto à necessidade de se valorizar mais os povos originários na Brasil.
Mas acho que os habitantes das reservas indígenas não são os únicos povos indígenas existentes. Nunca se fala dos indo-descendentes. Teríamos que criar uma cultura de valorização mais ampla do que a hoje restrita aos povos da floresta (sob comando das ONGs), que abarcasse os indo-descendentes.
Da mesma forma que vem se construindo para a identidade negra, que ninguém mais restringe apenas aos quilombolas, mas a todos que se sentirem herdeiros culturais e históricos dos africanos originais.
Só que essa ampliação da identidade indígena não interessa às ONGs que hoje atuam na Amazônia, já que perderiam o poder que hoje têm (especialmente na comunidade internacional)

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