Pedido de CPI e discursos quebram silêncio sobre Privataria Tucana
Deputado Protógenes Queiroz (PCdoB) tenta criar CPI com foco nas privatizações. Cúpula do PT ainda analisa como se posicionar, mas, diante de 'fatos gravíssimos', líderes na Câmara e Senado mostram disposição para guerra com PSDB. Deputado-delegado tucano acha livro 'importante' mas, para líderes, denúncia é 'requentada'. Serrista, presidente do PPS, exalta-se ao ser questionado.
BRASÍLIA – A Privataria Tucana, livro recém lançado com denúncia de corrupção na venda de estatais de telefonia no governo Fernando Henrique e de lavagem de dinheiro pela família do ex-ministro José Serra, motivou um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
E, no Congresso, opôs os dois principais partidos envolvidos e interessados, PT e PSDB. Enquanto líderes petistas defenderam investigar o conteúdo do livro - embora com cautela, já que a cúpula do partido ainda busca uma forma de lidar com o assunto -, tucanos classificaram-no como “requentado” e de autor sem credibilidade.
A abertura de uma CPI foi solicitada pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal (PF). Às 18 horas desta terça-feira (13), ele disse à reportagem que já havia coletado 27 assinaturas – precisa de ao menos 177. Por volta das 20h, em discurso na tribuna da Câmara, afirmou que já teria mais de 100.
"Qual o foco do requerimento da CPI, deputado?" “O foco são as privatizações. Elas prejudicaram o país e proporcionaram desvio de dinheiro público”, afirmou.
Um dos signatários da CPI foi um deputado que também é delegado da PF como Protógenes, mas filiado ao PSDB. “É um livro tão importante quanto todos os outros, independentemente do partido, se é PSDB ou PT”, disse Fernando Francischini.
O tucano elegeu-se pelo Paraná, estado por meio do qual saíram para o exterior, de forma ilegal, bilhões em recursos que, segundo o livro, teriam origem ilícita na “privataria”. O duto era o banco do estado do Paraná, o Banestado. “Ali foi um descontrole total de um banco usado para roubar dinheiro público. Foi o maior roubo de dinheiro público que eu já vi”, afirmou Francischini que, como delegado da PF, acompanhou o caso.
O duto do Banestado foi objeto de uma CPI logo no início do governo Lula, em 2003. A comissão revelou-se uma das fontes de informação mais importantes para o autor do livro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Acusado no livro de ter participado de uma CPI de faz-de-conta, resultante de um “acordão” entre tucanos e petistas para aliviar nas investigações que afetariam os dois lados, o relator, deputado José Mentor (PT-SP), disse que assinaria o pedido de CPI da Privataria. “Não houve acordão. O que houve foi uma ação do PSDB para acabar logo com a CPI”, afirmou Mentor. “O relatório final fala no Ricardo Sérgio, inclusive.”
Ricardo Sérgio de Oliveira foi arrecadador de fundos para campanhas de FHC e José Serra e é um personagens mais importantes do livro.
PT e aliados
Nesta terça-feira (13), membros da executiva nacional do PT reuniram-se para discutir como o partido vai lidar com o caso, mas os líderes na Câmara e no Senado mostraram-se, ainda que com cautela, dispostos a partir para a guerra contra o PSDB.
A reunião e a cautela se explicam porque o livro traz pelo menos duas indigestões para os petistas. O presidente do PT, Rui Falcão, processa Amaury Ribeiro Jr., por conta de revelações do jornalista sobre uma briga interna na campanha presidencial de Dilma Rousseff no ano passado. Outra indigestão seria o “acordão” na CPI do Banestado.
“É um livro muito interessante que recebeu um silêncio sepulcral da mídia”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). “São fatos gravíssimos, e já há um movimento no Ministério Público para reabrir investigações.”
"E há condições de o PT ajudar a criar clima para que as investigações sejam reabertas, senador?"
“Há.”
O posicionamento do líder na Câmara, Paulo Teixeira (SP), foi parecido. “O livro traz informações consistentes sobre fatos gravíssimos, que exigem investigação das instituições, do parlamento, do Ministério Público.”
"Como o partido vai agir agora?"
“Vai analisar o livro para ver o que cabe. Mas o foco é a roubalheira nas privatizações.”
Aliado do governo e um dos vice-presidentes do PDT, o deputado Brizola Neto (RJ) contou que iria procurar o PT para saber qual é o limite de atuação dos petistas. Ele defende a instalação de uma comissão parlamentar. “A história começa lá atrás, mas a triangulação continua até hoje. É necessária uma CPI”, afirmou.
Adversário do governo, mas à esquerda, o PSOL acha que no mínimo o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr., deveria ser chamado ao Congresso para falar sobre o assunto, até para ajudar a formar convicção em torno de uma CPI.
Em discurso na tribuna da Câmara, o líder do partido, Chico Alencar (RJ), disse que o Brasil precisa “analisar profundamente o passado”. “O livro comprova com farta documentação que [a privatização] foi um processo que escondeu enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas milionárias”, disse.
Serristas
Já os tucanos e seus aliados optaram por minimizar a denúncia e desqualificar o autor do livro.
“É café requentado da campanha”, disse o líder do bloco de oposição ao governo na Câmara, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
“Mas autor do livro diz que os elementos que ele traz agora não eram conhecidos ainda, e inclusive há um pedido de CPI por causa disso.”
“Nós apoiamos investigar tudo. O que não dá é para ficar só nesse assunto depois de tantos escândalos no governo.”
Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), “o livro é material requentado de um indivíduo investigado por uma tramóia contra nosso candidato [na eleição de 2010]”.
“Mas o ministro do Esporte não caiu por uma acusação de uma pessoa que é ré num processo criminal?”
“Não, o ministro caiu por um conjunto de situações, a denúncia do policial foi só a gota d'água”, disse Nogueira.
E, no Congresso, opôs os dois principais partidos envolvidos e interessados, PT e PSDB. Enquanto líderes petistas defenderam investigar o conteúdo do livro - embora com cautela, já que a cúpula do partido ainda busca uma forma de lidar com o assunto -, tucanos classificaram-no como “requentado” e de autor sem credibilidade.
A abertura de uma CPI foi solicitada pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal (PF). Às 18 horas desta terça-feira (13), ele disse à reportagem que já havia coletado 27 assinaturas – precisa de ao menos 177. Por volta das 20h, em discurso na tribuna da Câmara, afirmou que já teria mais de 100.
"Qual o foco do requerimento da CPI, deputado?" “O foco são as privatizações. Elas prejudicaram o país e proporcionaram desvio de dinheiro público”, afirmou.
Um dos signatários da CPI foi um deputado que também é delegado da PF como Protógenes, mas filiado ao PSDB. “É um livro tão importante quanto todos os outros, independentemente do partido, se é PSDB ou PT”, disse Fernando Francischini.
O tucano elegeu-se pelo Paraná, estado por meio do qual saíram para o exterior, de forma ilegal, bilhões em recursos que, segundo o livro, teriam origem ilícita na “privataria”. O duto era o banco do estado do Paraná, o Banestado. “Ali foi um descontrole total de um banco usado para roubar dinheiro público. Foi o maior roubo de dinheiro público que eu já vi”, afirmou Francischini que, como delegado da PF, acompanhou o caso.
O duto do Banestado foi objeto de uma CPI logo no início do governo Lula, em 2003. A comissão revelou-se uma das fontes de informação mais importantes para o autor do livro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Acusado no livro de ter participado de uma CPI de faz-de-conta, resultante de um “acordão” entre tucanos e petistas para aliviar nas investigações que afetariam os dois lados, o relator, deputado José Mentor (PT-SP), disse que assinaria o pedido de CPI da Privataria. “Não houve acordão. O que houve foi uma ação do PSDB para acabar logo com a CPI”, afirmou Mentor. “O relatório final fala no Ricardo Sérgio, inclusive.”
Ricardo Sérgio de Oliveira foi arrecadador de fundos para campanhas de FHC e José Serra e é um personagens mais importantes do livro.
PT e aliados
Nesta terça-feira (13), membros da executiva nacional do PT reuniram-se para discutir como o partido vai lidar com o caso, mas os líderes na Câmara e no Senado mostraram-se, ainda que com cautela, dispostos a partir para a guerra contra o PSDB.
A reunião e a cautela se explicam porque o livro traz pelo menos duas indigestões para os petistas. O presidente do PT, Rui Falcão, processa Amaury Ribeiro Jr., por conta de revelações do jornalista sobre uma briga interna na campanha presidencial de Dilma Rousseff no ano passado. Outra indigestão seria o “acordão” na CPI do Banestado.
“É um livro muito interessante que recebeu um silêncio sepulcral da mídia”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). “São fatos gravíssimos, e já há um movimento no Ministério Público para reabrir investigações.”
"E há condições de o PT ajudar a criar clima para que as investigações sejam reabertas, senador?"
“Há.”
O posicionamento do líder na Câmara, Paulo Teixeira (SP), foi parecido. “O livro traz informações consistentes sobre fatos gravíssimos, que exigem investigação das instituições, do parlamento, do Ministério Público.”
"Como o partido vai agir agora?"
“Vai analisar o livro para ver o que cabe. Mas o foco é a roubalheira nas privatizações.”
Aliado do governo e um dos vice-presidentes do PDT, o deputado Brizola Neto (RJ) contou que iria procurar o PT para saber qual é o limite de atuação dos petistas. Ele defende a instalação de uma comissão parlamentar. “A história começa lá atrás, mas a triangulação continua até hoje. É necessária uma CPI”, afirmou.
Adversário do governo, mas à esquerda, o PSOL acha que no mínimo o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr., deveria ser chamado ao Congresso para falar sobre o assunto, até para ajudar a formar convicção em torno de uma CPI.
Em discurso na tribuna da Câmara, o líder do partido, Chico Alencar (RJ), disse que o Brasil precisa “analisar profundamente o passado”. “O livro comprova com farta documentação que [a privatização] foi um processo que escondeu enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas milionárias”, disse.
Serristas
Já os tucanos e seus aliados optaram por minimizar a denúncia e desqualificar o autor do livro.
“É café requentado da campanha”, disse o líder do bloco de oposição ao governo na Câmara, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
“Mas autor do livro diz que os elementos que ele traz agora não eram conhecidos ainda, e inclusive há um pedido de CPI por causa disso.”
“Nós apoiamos investigar tudo. O que não dá é para ficar só nesse assunto depois de tantos escândalos no governo.”
Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), “o livro é material requentado de um indivíduo investigado por uma tramóia contra nosso candidato [na eleição de 2010]”.
“Mas o ministro do Esporte não caiu por uma acusação de uma pessoa que é ré num processo criminal?”
“Não, o ministro caiu por um conjunto de situações, a denúncia do policial foi só a gota d'água”, disse Nogueira.
Um dos aliados mais próximos de Serra, mesmo sem ser do PSDB, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), cujo partido apoiou o tucano na eleição do ano passado, exaltou-se quando perguntado sobre o livro.
“Deputado, qual a sua opinião sobre o livro A Privataria Tucana?”
“Eu não gosto da literatura lulo-petista, particularmente do estilo dossiê. Mas por que essa pergunta?”
“Porque é notícia, foi o livro mais vendido do fim de semana.”
“Que notícia! Isso é para desviar a atenção da corrupção do governo Dilma!”
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