Há exatos 365 dias assistíamos a posse de Dilma Rousseff sentindo uma mistura de orgulho, esperança e um friozinho na barriga.
Orgulho por termos vencido uma batalha árdua, que deixou marcas profundas e mostrou que estamos longe de protagonizar um debate político civilizado. A maneira covarde e desleal com a qual as forças elitistas retrógradas e sua mídia conduziram o processo mostrou, antes de mais nada, o mal que a ditadura militar nos causou a longo prazo: o golpe de 64 não atingiu apenas os 85 milhões de brasileiros da época, mas seus filhos e netos, mesmo os que ainda estavam por nascer. Ao suprimir-nos o direito de manifestação, o regime militar lobotomizou as gerações futuras. O resultado pôde ser medido na campanha eleitoral que expôs o ódio recheado de preconceitos social, racial e sexista de uma minoria contra nossa própria essência como povo brasileiro. Pois, se em 2002 Lula foi o melhor resultado possível da soma de 180 milhões de brasileiros, em 2010 Dilma representava um avanço em direção ao coração. Uma mulher que não incorporava o traquejo do jogo manipulativo, pragmático e viciado dos políticos de carreira que seu adversário esbanjava. Seus discursos, entrevistas e, até mesmo, sua aparência física, nos mostravam tudo isso. É certo que, não fosse o presidente Lula conduzir o processo de sua sucessão – microfone em uma mão e Dilma na outra palanques Brasil a fora, driblando a mídia golpista como um verdadeiro centroavante, – teríamos mergulhado de volta às trevas da quais seu governo nos havia resgatado. Mas é certo também que, não fosse a força interior dessa mulher – que jamais se intimidou, seja com os machos que machucaram seu corpo na escuridão dos anos de cárcere, seja com os ataques da mesma imprensa que a eles se associou no golpe de 64 – as trevas nos teriam engolido igualmente.
Esperança de que seu governo cumprisse a promessa de dar sequência e aprofundar os processos de inclusão social, as diretrizes econômicas que nos protegiam da crise financeira internacional e a azeitona da empada: a introdução do debate sobre o Marco Regulatório das Comunicações baseado no esboço feito pelo ministro Franklin Martins que buscou suas diretrizes nas melhores democracias do mundo. Dilma mostrou-se capaz de comandar o projeto de governo petista e vem confirmando todas as expectativas do povo brasileiro. Aprofundou a inclusão social, buscando os brasileiros que “não existiam” nas estatísticas de tão excluídos que eram. Mapeou-os de norte a sul e iniciou o processo de conceder-lhes a cidadania que têm por direito. Já caminhamos concretamente em direção a 2014, quando a miséria extrema de 16 milhões de brasileiros deixará de existir. Em um ano, o governo Dilma conseguiu manter o ritmo e gerou 2,3 milhões de empregos – o que, tecnicamente, nos coloca na situação que os medidores sociais chamam de “pleno emprego”. Na educação, tivemos crescimento inquestionável na inclusão que Enem e ProUni proporcionam aos brasileiros de baixa renda. Basta conferir seus números crescentes ano após ano.
Até agora, porém, Dilma falhou em um ponto crucial: o Marco Regulatório das Comunicações nem foi retirado da gaveta. Daí o friozinho na barriga. Sabemos que se não avançarmos neste ponto, a ditadura midiática das mesmas 4 famílias centenárias continuará impedindo que outras vozes, o pluralismo de idéias e o debate democrático construtivo – que são a base do desenvolvimento humano – ultrapassem a pequena e frágil trincheira que ocupam na Internet. E este pode ser o vírus que colocaria o trabalho de 3 mandatos por água abaixo. É este o ponto que nos diferencia de todos os países democráticos. Não sabemos exatamente se é Dilma em pessoa que evita o confronto com os setores mais conservadores que este debate inevitavelmente trará a tona, ou se é o PT que não vê espaço para colocá-lo em pauta. 2012 será um ano tenso e agitado. Eleições e, possivelmente, a CPI da Privataria ocuparão o centro de todos os debates. Talvez governo, PT e base aliada entendam que não haveria espaço para o debate sobre a Lei dos Medios, mas poderia ser justamente este o melhor momento para, enfim, colocar à mesa essa questão. Momento em que oposição e sua mídia estarão ocupados em impedir que sua derrota seja ainda maior – tanto em relação ao processo eleitoral, quanto ao processo da CPI.
Dilma terá a faca e o queijo na mão. Mais bem avaliada que Lula e FHC em seu primeiro ano de governo, reconhecida internacionalmente como a 3ª mulher mais poderosa do planeta, presidenta de um país que chegou voando à posição de 6ª maior economia num cenário internacional de profunda recessão… enfim, o que falta para darmos este passo que deverá solidificar definitivamente nossa ainda jovem democracia?
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