Otto Maria Carpeaux (1900-1978), austríaco que se radicou no Brasil, tornou-se personagem involuntário de uma encrenca nascida no Senado. Mais uma. Envolve um clássico do escritor: ‘História da Literatura Ocidental’, obra de quatro volumes.
Aportou na Procuradoria da República do Distrito Federal uma
queixa-crime contra o vice-presidente do Conselho Editorial do Senado.
Chama-se Joaquim Campelo. Ocupa o cargo por indicação do tetrapresidente
do Senado, José Sarney (PMDB-DF).
Na peça, Campelo é acusado de cometer o crime de peculato. Cedeu à
editora portuguesa Leya o projeto gráfico, a formatação e a digitação
dos volumes de Carpeaux. Como o escritor morreu sem deixar herdeiros, a
obra caiu no domínio público. Mas os custos de edição foram custeados
pelo Senado. Dinheiro público. O que torna a cessão a terceiros um
crime.
O repórter Murilo Ramos levantara a lebre em notícia de 6 de janeiro. Nesta segunda (23), a repórter Rosa Costa informou
sobre a existência da queixa-crime. Ouvido por ela, Campelo afirmou que
Sarney desconhecia a negociação. “É responsabilidade minha, a gente
corrige isso, qual é o problema?”
O caso desceu à mesa do promotor Vinícius Alves Fermino, do 4º Ofício
Criminal do DF, a quem caberá definir “qual é o problema”. Ele confirmou ter recebido a queixa-crime contra Campelo.
Antes de se debruçar sobre a petição, encaminhou-a à área cível.
Pediu que seja verificado se o assessor de Sarney pode ser enquadrado
também no crime de improbidade administrativa.
Em comunicado recente, a editora Leya informara ter publicado, em
parceria com a Livraria Cultura, a reedição de ‘História da Literatura
Ocidental’. No texto, a empresa faz uma defesa de Campelo:
“Leya e Livraria Cultura tornaram acessível ao grande público um dos
grandes tesouros da literatura escrito por um dos maiores críticos
literários de nosso tempo e que merece ser apreciado e não alvo de
especulações infundadas”.
A obra encontra-se nas prateleiras ao custo de R$ 179,90. Curiosamente, a editora Leya é a mesma que prensou a biografia de Sarney. Escrito pela jornalista Regina Echeverria, o livro foi lançado em março do ano passado.
Pesa também contra Campelo a acusação de agir em proveito próprio. A
Leya teria se comprometido a editar uma obra com o nome dele, o
‘Dicionário Campelo’ de língua portuguesa.
Campelo nega. Afirma que sua equipe prepara “uma pequena
encyclopedia”, não um dicionário. “Não tem nada disso, o galo canta e
não se sabe aonde é. A enciclopédia é do Senado e sairá com a lista de
seus colaboradores”, disse.
Dependendo da decisão do promotor Vinícius, a queixa-crime pode
resultar na abertura de um inquérito. Que pode desaguar na abertura de
uma ação civil pública.
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