As teorias conspiratórias se dividem
em plausíveis e nem tanto. É perfeitamente plausível que Israel tenha
decidido, em vez de bombardear as instalações nucleares do Irã,
bombardear os cientistas nucleares do Irã, um de cada vez, com menos
efeitos colaterais. O que explica a série de atentados contra tais
cientistas dentro do seu país, onde três ou quatro já foram explodidos.
Menos plausível é a tese de que as doenças que apareceram simultaneamente em vários líderes de esquerda ou de “esquerda” na América Latina — Chávez, Kirchner, Lula etc. — sejam frutos de uma conspiração. De qualquer maneira, por via das dúvidas, recomenda-se a governantes e outros possíveis alvos na região: não aceitem caixas de bombons da CIA!
As pedras
Disseram do naufrágio do Titanic em 1912 que ele simbolizou o fim tardio do século dezenove, com sua fé na tecnologia e no domínio do homem sobre a Natureza. Se aquele magnífico navio adernado na costa da Itália simboliza alguma coisa é o fim de outra ilusão que ninguém esperava fosse acabar: a União Europeia, o euro forte e os anos de euforia com o dinheiro farto. E ninguém viu as pedras.
Errei!
Há uma semana comentei aqui o fato de Mitt Romney, candidato a candidato republicano nas próximas eleições presidenciais americanas, ser da religião mórmon. Como sua igreja permitia a poligamia, brinquei que ele teoricamente poderia chegar à Casa Branca com duas ou três primeiras-damas.
Vários leitores escreveram para me corrigir. A poligamia ainda é praticada por um grupo dissidente de mórmons, que não é o do Romney, mas foi abolida pela igreja oficial há mais de um século. Meu erro de mais de cem anos foi imperdoável, mas peço perdão assim mesmo. Não se repetirá. Gravarei com brasa na testa, para nunca mais esquecer: informe-se antes de dar palpite.
Na mesma crônica eu disse que a religião de cada um só interessa a cada um e que nenhuma religião, por mais que se considere a única verdadeira, tem uma explicação melhor do que outra para os mistérios da vida e da morte. Mas o respeito ao direito do outro de acreditar no que bem entender não exclui um exame secular da sua crença, ou do que ele precisa aceitar para aceitá-la. Não é julgamento, é curiosidade intelectual.
Todas as religiões têm origens sobrenaturais e exigem de seus fiéis diferentes graus de suspensão de descrença, em alguns casos espantosos, e por isso mesmo fascinantes. Ou assustadores, quando levam ao fanatismo e à intolerância. O que, obviamente, não é o caso da igreja mórmon.
E quem garante que a crença mais estranha de todas não seja o ateísmo, que nem explica os mistérios nem conforta os espíritos?
Luís Fernando Veríssimo
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